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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sobre o processo de imagens que impede o claro observar

(...)Nossas relações com os entes humanos se baseiam no mecanismo defensivo, formador de imagens. Em todas as nossas relações, formamos imagens uns dos outros, e são essas imagens que ficam em relação, e não os entes humanos... cada um tem uma imagem de sua pátria e uma imagem de si próprio. A essas imagens vamos fazendo mais e mais acréscimos, a fim de fortalecê-las. E, com profunda observação, pode-se ver que essas imagens têm relação umas com as outras. E, dessa maneira, por causa da formação das imagens, o verdadeiro estado de relação entre dois ou muitos entes humanos cessa completamente.

Cada um pode observar esse fato em si próprio; e, evidentemente, as relações baseadas em tais imagens jamais serão pacíficas, porquanto as imagens são fictícias e não se pode viver abstratamente. Todavia, é isso o que estamos fazendo: vivendo na esfera das ideias, das teorias, dos símbolos — tais como a nação, as imagens que criamos a respeito de nós mesmos e de outros, as quais são puros devaneios, irrealidades. Todas as nossas relações — com a propriedade, com as ideias, com pessoas — se baseiam essencialmente nessa formação de imagens e, por isso, há sempre conflito.

(...) Pode-se olhar sem nenhuma interferência do passado, do pensamento? Pode-se olhar o todo da consciência humana — que constitui a pessoa, o "eu" — sem interferência, juízo, avaliação, tudo isso essencialmente baseado no passado? Porque o importante é o ato de olhar e não aquilo que olhamos. Se sabemos olhar, então aquilo que olhamos muda completamente de natureza. Isso se pode observar em nossa vida de cada dia.

(...) O tempo é o intervalo entre o observador e a coisa observada... Pode-se enfrentar a chamada "morte" (ou o que quer que seja) sem esse intervalo de  espaço-tempo? Só é possível quando há atenta e profunda observação, na qual o observador não tem continuidade — o observador que é o criador de imagens, o observador que é a coleção de memórias, ideias, um feixe de devaneios. É possível enfrentar qualquer fato sem esse intervalo de tempo e, portanto, sem nenhuma contradição, vale dizer, sem conflito?

(...) Vários métodos já se experimentaram para eliminar o espaço entre o observador e a coisa observada: drogas, identificação, meditação, observância de sistemas e outros mais — tudo isso na esperança de eliminar esse intervalo de espaço entre o observador e a coisa observada e, desse modo, libertar-se da contradição e do conflito, criando-se assim a paz.

Não creio que algum sistema ou droga, alguma identificação, alguma forma de sublimação tenha o poder de eliminar o espaço. Mas, que é que pode eliminar o espaço e o tempo? É a maneira de olhar, de observar. A meu ver, esta é a chave: observar, realmente, sem nenhuma imagem. Eis porque cumpre haver muita simplicidade: observar uma flor sem nenhuma atividade mental, sem nenhuma interferência do pensamento; porque pensamento é tempo, e tempo é aflição. (...) Observar simplesmente!  

(...) se uma pessoa observa tudo isso dentro de si, e se penetrou suficientemente, junto comigo, nesta manhã — descobre ser possível viver sem conflito e sem contradição. Existe contradição quando há comparação, não apenas com alguma coisa, mas também a comparação com o que eu era  ontem. É assim que surge o conflito entre o que foi e o que é. Não havendo comparação, só há o que é. E viver completamente com o que é é ser pacífico. Porque então se pode dispensar toda atenção ao que é, sem distração alguma — a realidade interior, não importa o que seja: desespero, malevolência, brutalidade, medo, ansiedade, solidão — e viver plenamente com essa realidade. Não há então contradição e, por conseguinte, não existe conflito.
Essa compreensão que só pode nascer da observação de o que é — é paz. Isso não significa aceitar o que é; ao contrário, não se pode aceitar esta sociedade monstruosa e corrupta em que estamos vivendo, a qual entretanto é o que é. Significa, sim, observá-la, observar toda a sua estrutura psicológica, que sou eu — observá-la sem julgamento nem avaliação — observar realmente o que é e, observando-o, transformar-se completamente. Pode assim uma pessoa viver em paz com a esposa ou o marido, com o próximo, com a sociedade, porque ela própria está vivendo, dia a dia, uma vida pacifica.

(...) Pois bem; que é o sofrimento? E porque razão o homem jamais conseguiu livrar-se dele, acabar com ele, dentro em si mesmo? É possível colocar fim ao sofrimento, completamente, não teórica, porém realmente? Ele só pode cessar com a perfeita compreensão de nós mesmos. O autoconhecimento é o fim do sofrimento. Não queremos dar-nos ao trabalho de estudar-nos e ficamos inventando maneiras de fugir do sofrimento.

Enquanto existir o observador com todas as suas memórias, essa entidade separada criadora de um intervalo de tempo entre si e o que é, tem de haver sofrimento, que é conflito. E colocar fim ao sofrimento, de fato e não verbalmente, colocar-lhe fim todos os dias, é estar cônscio (o indivíduo) do movimento total da própria existência, a todas as horas.

(...) Só existe confusão quando não estou olhando diretamente o que é. E quando um homem está confuso, quanto mais tenta livrar-se da confusão, tanto mais confuso se torna. Assim, em primeiro lugar, que faz uma pessoa quando se vê confusa?

Eu estou confuso. Não sei o que fazer; há várias possibilidades de escolha. E compreendo que, havendo escolha, tem de haver confusão. E eu estou confuso; portanto, que devo fazer? Primeiro, tenho de parar, não? Detenho-me; não fico a procurar, a pedir, a perguntar, a olhar, a observar. Ao se perder numa floresta, você não se põe a correr a esmo; primeiro para e olha para todos os lados. Mas, quanto mais uma pessoa está confusa, tanto mais se põe a correr, a buscar, a interrogar, a exigir, a rogar. Portanto, a primeira coisa — se posso sugerir-lhe — é deter-se completamente em seu interior. E quando, interiormente, psicologicamente, você detém todo movimento de busca, de escolha, de indagação, a sua mente se torna muito plácida, muito clara. Pode então olhar. E só na claridade que se pode olhar, e não na confusão.  
   
(...) Eu lhe olho. Não lhe conheço e, por conseguinte, não tenho nenhuma imagem a seu respeito. Mas, se lhe conheço, olho-lhe com a imagem que tenho de você. Essa imagem foi formada, constituída pelo que você disse — insultando-me ou elogiando-me — e com essa imagem eu lhe olho. A imagem é uma distração que não me deixa olhá-lo. Só posso olhá-lo quando nenhuma imagem tenho de você; estou então em relação com você. É-me possível morrer para a imagem que construí, para as imagens que tenho de você que venho formando há tantos anos, vivendo com você como marido ou esposa ou vizinho — ou a imagem que tenho acerca dessas relações? Posso morrer para todas elas? Se não morro para elas, e visto que essas imagens constituem uma distração ou devaneio, não tenho a possibilidade de olhar.   Se tenho uma imagem relativa à arvore, não posso olhar a árvore.

(...) Assim, é possível morrer para tudo o que é conhecido, inclusive a imagem deste orador? De outro modo, a imagem se torna a autoridade, quer dizer, o devaneio se torna uma autoridade, em lugar do estado real. Estamos sempre fazendo isso, não?  

Jiddu krishnamurti — A essência da maturidade


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill