As crenças condicionam a experiência, e a experiência, depois, reforça a crença. O que você acredita, você experiência. A mente dita e interpreta a experiência, convida-a ou rejeita-a. A própria mente é o resultado da experiência, e ela pode reconhecer ou experienciar apenas aquilo com que está familiarizada, que conheça, em qualquer nível que seja. A mente não pode experienciar o que não seja conhecido. A mente e sua reação são de maior significância do que a experiência; fiar-se na experiência como um meio de entender a verdade é ficar preso na ignorância e na ilusão. Desejar experienciar a verdade é negar a verdade; pois o desejo condiciona, e a crença é um outro disfarce do desejo. Conhecimento, crença, convicção, conclusão e experiência são empecilhos à verdade; eles são a própria estrutura do Eu.
(...) O desejo de experienciar a verdade deve ser pesquisado e entendido; mas se houver motivação na busca, a verdade não toma forma. Pode haver busca sem uma motivação, consciente ou inconsciente? Com a motivação, a busca? Se você já sabe o que quer, se você formulou um fim, então a busca é o meio de atingir aquele fim, que é projetado. Portanto, a busca é por gratificação, não pela verdade; e os meios serão escolhidos de acordo com a gratificação. O entendimento do que é não precisa de motivação; a motivação e os meios impedem o entendimento. A busca, que é percepção desprovida de escolha, não é por algo; é estar atento ao anseio pelo fim e aos instrumentos para isso. Essa atenção desprovida de escolha produz um entendimento do que é.
É estranho o quanto nós ansiamos pela permanência, pela continuidade. Esse desejo assume muitas formas, das mais grosseiras às mais sutis... Só conhecemos a continuidade e nunca a não-continuidade.
(...) Esse centro de continuidade não é a essência espiritual, pois ainda está dentro do campo do pensamento, da memória e, portanto, do tempo. Pode experienciar somente sua projeção, e por meio de sua experiência projetada dá a si mesmo mais continuidade. Consequentemente, enquanto existir jamais poderá experienciar além de si mesmo. Ele precisa morrer; precisa cessar de dar continuidade através da ideia, através da memória, através da palavra. A continuidade é deterioração, e só há vida na morte. Só existe renovação com o cessar do centro; desse modo, o renascimento não é continuidade; então, a morte é como a vida: uma renovação a cada momento. Essa renovação é criação.
Jiddu Krishnamurti