Uma taça só é útil quando vazia. A mente da maioria de nós está anuviada, repleta de coisas — experiências agradáveis e desagradáveis, conhecimentos, padrões ou fórmulas de comportamento, etc. Nunca está vazia. A criação só ocorre quando a mente está de todo vazia. A criação é sempre nova e, por conseguinte, a mente se torna, de contínuo, vigorosa, juvenil, inocente; ela nunca repete e, por conseguinte, não cria hábitos.
Não sei se você já notou o que às vezes ocorre quando tem um problema matemático ou psicológico. Você pensa nele por muito tempo, luta com ele como um cachorro com um osso, mas não encontra a solução. Depois o coloca de lado, se afasta dele, e vai dar um passeio; e, de repente, desse vazio, vem a resposta. Isso já deve ter acontecido a muitos de nós. Ora, como acontece isso? Sua mente esteve muito ativa, dentro de seus próprios limites, a respeito do problema, porém você não encontrou a solução e o colocou de lado. Tornou-se ela um tanto quieta, tranquila, vazia; e, nessa tranquilidade, nesse vazio, o problema se resolveu. De modo idêntico, quando uma pessoa morre a cada minuto para seu ambiente interior, suas ligações interiores, as lembranças interiores, os íntimos segredos e agonias, há então um vazio, e só nesse vazio algo de novo pode ocorrer. Eu não estou advogando esse vazio, nem fazendo propaganda em seu favor — Deus me livre! Só estou dizendo que, se esse vazio não se tornar existente, continuaremos com o nosso sofrer, nossa ansiedade, nosso desespero — e nossas atividades criarão cada vez mais confusão.
Para fazer nascer um ente humano diferente e, por conseguinte, uma nova sociedade, um mundo diferente, é necessário que cesse o sofrimento porque só com a cessação do sofrimento terá começo a VIDA NOVA.
Jiddu Krishnamurti — O descobrimento do amor