Krishnamurti: Ninguém pode lhe ensinar a amar. Se as pessoas pudessem ser ensinadas a amar, o problema do mundo seria então muito simples, você não acha? Se pudéssemos aprender a amar, num livro, assim como aprendemos Matemática, este nosso mundo seria uma maravilha: não haveria ódios, nem exploração, nem guerras, nem separação entre rico e pobre; viveríamos todos muito amigavelmente, uns com os outros. Mas o amor não se adquire tão facilmente. É muito fácil odiar, e o ódio, a seu modo, une as pessoas; cria fantasias de todo o gênero, promove a cooperação, em várias formas, como na guerra. Mas, o amor é muito mais difícil. Você não pode aprender a amar, mas o que pode fazer é observar o ódio e, mansamente, o afastar de você. Não batalhe contra o ódio, não diga o quanto é terrível odiar, mas veja o ódio em sua essência própria e o deixe se extinguir por si mesmo. Coloque-o à margem; ele não é importante. O importante é você não deixar o ódio criar raízes em sua mente. Compreende? Sua mente é solo fértil, e qualquer problema que se apresenta, se você lhe dá tempo suficiente, nela se enraíza como erva daninha e, depois, será muito difícil arrancá-lo. Mas, se você não dá tempo ao problema para se enraizar, ele não terá onde crescer e murchará, até morrer. Se você dá oportunidade ao ódio, se lhe dá tempo para se enraizar, crescer, amadurecer, ele se torna um formidável problema. Mas, se a cada vez que o ódio surgir, deixar que ele passe sem lhe atingir, verá que sua mente se tornará muito sensível, sem ser sentimental; assim, ela conhecerá o que é o amor.
A mente pode buscar sensações, desejos, mas não pode buscar o amor. O amor deve vir à mente. E, uma vez presente, ele não se divide em “amor sensual” e “amor divino” — é, só, amor! Eis o que o amor tem de extraordinário: é a única qualidade que pode abarcar a totalidade da existência.
Krishnamurti — A cultura e o problema humano