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sexta-feira, 26 de julho de 2013

É possível eliminar por completo o ajustamento?

Hoje desejo falar sobre o processo de ajustamento; isto é, desejo averiguar se existe alguma coisa de original, alguma coisa completamente isenta de ajustamento e que não seja uma mera abstração, uma simples ideia, porém um fato tão real como qualquer fato da vida diária. Assim, a pergunta fundamental que fazemos a nós mesmos é esta: até onde é possível eliminar o ajustamento? É possível eliminar inteira­mente o ajustamento e, desse modo, permitir a existência do original? Penso que esta é uma pergunta importante, porque a maioria de nós está perenemente a ajustar-se. Moldamo-nos em conformidade com determinado padrão, de acordo com um certo molde ideológico, fixo, quer imposto pela sociedade, pelas pressões econômicas, sociais e ambientes, quer por nossa expe­riência pessoal. Estamos sempre a moldar-nos de uma ou de outra maneira; acho que este é um fato bem óbvio. E pode esse processo de ajustamento — já tão profundamente arrai­gado e que tanto é consciente como inconsciente — terminar?
Por certo, só livres do ajustamento poderemos descobrir o que é original, essencial, verdadeiro; e, a menos que nós próprios o descubramos, viveremos sempre uma vida “falsificada”, uma vida de “segunda mão”, de imitação. Por conseguinte, parece-me que se trata de uma pergunta válida, fundamental, que devemos formular, ou seja, se o ajustamento pode terminar. Por “ajustamento” entendo o processo no qual o “pensamento” e o “pensador” estão sempre a moldar-se por um padrão, sempre a imitar, a repetir, sempre a ajustar-se a uma ideia, a um conceito, uma crença, um dogma, sempre a sujeitar-se a um determinado padrão ou ideal, em suas relações. Esse ajustar-se é a norma de nossa vida, o padrão diário de nossa existência; e estamos agora a interrogar-nos se esse ajustamento pode terminar. E devemos também perguntar-nos se a terminação do ajustamento causa desordem e por essa razão somos obrigados a ajustar-nos; ou se, terminado o ajustamento, ocorre o descobrimento de algo original, não "falsificado" ou de "segunda mão".
Em geral, nossa vida é sem originalidade. Não sabemos o que é original, nem mesmo se existe algo que se possa cha­mar "original". A meu ver, a palavra "original" é de ordi­nário mal empregada. Falamos de "literatura original", um "quadro original", uma maneira "original" de pensar ou de expressar-se; dizemos que certo escritor escreveu um livro "ori­ginal". Em tais casos, não me parece adequado o emprego da palavra "original". Há uma certa coisa original que as re­ligiões de todo o mundo — mesmo aquelas que se tornaram mais bem organizadas, mais cheias de repetições, mais estupidamente ritualistas — sempre andaram buscando. Mas, inde­pendentemente da religião organizada, com seu dogmatismo e sua complexa teologia, seus absurdos cerimoniais, etc. — independentemente de tudo isso, podemos, vocês e eu, como seres humanos que vivem neste mundo, rodeados de todas as complexidades da moderna existência, descobrir por nós mesmos algo que seja verdadeiramente original? Do contrário, a vida se torna terrivelmente monótona, uma tediosa rotina, muito pouco significativa.
Nesta manhã, desejo examinar esta questão do ajustamento, que significa imitação, moldagem do pensamento por um certo padrão, quer imposto pela sociedade, quer formado pela experiência pessoal do indivíduo, de modo que nunca podemos aproximar-nos do original. Quando emprego o termo ajus­tamento”, entendo tudo isto: o "processo" de adulteração, o desejo de ajustar-nos a determinado padrão, de imitar, de acei­tar, de obedecer.
Agora, antes de tudo, estamos totalmente cônscios desse processo de ajustamento que se verifica em cada um de nós, quer estejamos nos ajustando ao passado, quer a um conceito atual, quer a um certo ideal ou futura utopia? E se o perce­bemos, não devemos investigar se é possível acabar com esse ajustamento? Por certo, para nos livrarmos totalmente do “pro­cesso” de conflito e esforço, cumpre primeiramente compre­ender o ajustamento e dele libertar-nos; e, visto que todo es­forço supõe ajustamento, devemos verificar se é possível vi­vermos neste mundo livres de ajustamento e, por conseguinte, sem esforço. Evidentemente, quanto mais esforços fazemos, tanto maiores se tornam o conflito e a confusão e, desse modo, tanto maior se torna nossa aflição e dor. Cabe-nos, pois, ave­riguar se é possível vivermos sem esforço, isto é, vivermos originalmente, ou seja, livres de todo ajustamento.
Ora, para se alcançar esse ponto, devemos primeiramente estar conscientes — e isso me parece óbvio! — da natureza da mente que se ajusta. Por que nos ajustamos? Peço-lhes que tenham em mente que, ao empregar a palavra “ajustar-se”, dou-lhe o significado de “imitar, obedecer à autoridade, su­jeitar-se a um certo padrão”; é tudo isso que se deve suben­tender. Ora, por que nos ajustamos? Todo ajustamento im­plica esforço, não? E quando há esforço, em qualquer estado de relação, não há verdadeiras relações. Se me esforço para ser bondoso, afetuoso, ou cortês, isso nada significa. A bondade, a delicadeza, a afeição emanam de um estado de espí­rito em que não existe esforço algum; e, para compreender esse estado, impende compreender fundamentalmente a ques­tão do ajustamento.
Em relação a certas coisas externas, superficiais, há uma natural necessidade de ajustamento, mas não é desses casos que estamos tratando. Aqui, eu me “ajusto”, vestindo esta espécie de traje; na Índia “me ajusto” de outra maneira, ves­tindo trajes diferentes. Quando dirijo um carro, me “ajusto”, aqui conservando a direita da estrada, e na Inglaterra conser­vando a esquerda.
De certa maneira, estou a ajustar-me quando ponho uma carta no correio, etc. Mas, tenho necessidade de “ajustar-me” ao veneno do nacionalismo? Necessito ajustar-me a um dado padrão de existência, uma certa maneira de pensar que a so­ciedade procura impor-me e, em virtude da qual minha mente é moldada pela religião organizada, pelas influências econômi­cas e sociais? Assim, se desejo viver uma vida em que exis­tam, assentadas em sólidas bases, as relações corretas a con­duta correta, o correto comportamento, tenho de verificar se é possível viver sem esforço; porque, onde existe esforço, tudo isso é negado.
Onde há esforço, tem de haver, consciente ou inconscien­temente, ajustamento. Isso eu percebo. Posso percebê-lo verbalmente, intelectualmente, mas isso é fácil demais e pouco significa. Tenho de estar ciente do fato em mim mesmo. Estou cônscio, em minhas atividades, nas relações diárias com minha família, meus amigos, de até que ponto estou me “ajus­tando”? Isso significa saber que de fato estou me ajustando, não apenas superficialmente, porém profundamente, porque é da própria natureza do inconsciente o “ajustar-se”, Nesta nossa palestra matinal, o orador pode perceber esse ajusta­mento, mas isso se torna inútil se igual percepção não houver da parte de vocês. Devem se tornar cônscios, não só de seus ajustamentos às coisas superficiais, mas também do ajusta­mento de profundas raízes.
Como vimos, todo ajustamento implica esforço, e onde há esforço não existem relações verdadeiras, sob nenhum as­pecto, porém apenas imitação e uma espécie de “vida de se­gunda mão”. Percebo esse fato evidente. Então, me inter­rogo se é possível ficar totalmente livre da causa profunda do ajustamento. Compreendem? Superficialmente, temos de ajustar­-nos, em relação a certas coisas. Vocês têm de estar sentados lá e eu aqui, infelizmente. Temos de usar determinada peça de vestuário, etc. Muito à superfície, é necessário ajustar-nos. Mas, para investigar a questão do ajustamento, em seu pro­fundo sentido psicológico, e descobrir a resposta correta, cabe-nos investigar a questão do medo. Nós tememos, e por essa razão nos ajustamos. Se não tivéssemos medo de nenhuma espécie, nos ajustaríamos?
Estamos vendo, pois, a razão por que nos ajustamos, imi­tamos, nos adaptamos. Superficialmente poderá ser neces­sário um certo ajustamento. Mas, interior e profundamente, “da pele para dentro”, por assim dizer, nós nos ajustamos porque temos medo de não fazer o que é correto, medo de nos transviarmos, de não vivermos uma vida completa, de não encontrarmos a Realidade, Deus, etc. Assim, em todos nós está enraizado o medo, e considero da máxima importância compreender esse fato, antes de tentarmos responder à pergunta sobre se é possível pormos fim a toda e qualquer espécie de ajustamento.
Não sei se alguma vez “experimentaram” realmente o medo. Independente do medo instintivo, que se manifesta ao nos depararmos com algum perigo físico, já perceberam alguma vez, realmente, o que é ter medo? Em geral, o que lhes causa medo é uma ideia, não? Ou melhor, é a ideia que cria o medo. Com­preendem? Temo, digamos, o que possam pensar a meu res­peito. Este é um exemplo da ideia a gerar medo; e, quando uma ideia cria o medo, não me acho em relação com o fato — o próprio medo. Estão-me seguindo? Está tudo claro?
Uma ideia pode causar medo; e, no tocante à maioria de nós, é a ideia que causa medo. O conceito relativo ao que nos reserva o amanhã causa-nos medo, e o resultado é que o conceito se torna muito mais importante do que o fato real, que é o medo. Por conseguinte, tentamos modificar o conceito, a ideia, a causa, e nunca entramos diretamente em relação com o próprio temor. Ou a pessoa é atemorizada por uma ideia, um conceito; ou se vê em contato direto com o medo — direto, e não através de uma ideia. Mas existe medo sem ideia?
Por favor, não se limitem a escutar-me; não aceitem nem rejeitem o que estou dizendo, porém acompanhem-me verdadei­ramente. Quase todos temos nossos temores peculiares, e é uma ideia que os está criando. Pode ser que tenham medo de perder seu marido, sua esposa, seu emprego; medo do que acontecerá amanhã, medo de uma recaída, se estiveram doente. Tudo isso são ideias. Devemos, pois, verificar se é sempre uma ideia o que causa medo, ou se existe o medo in­dependente de qualquer ideia. Existe medo independente da ideia? Enquanto eu não houver descoberto isso, não poderei, de modo nenhum, compreender esta questão do ajustamento.
Estão entendendo? Não se trata, com efeito, de nada muito complicado, porém de algo que exige atenção e penetração.
Percebo que não há medo sem ideia. Percebo que o pensamento cria o medo e que o medo, em si, não existe; devo, pois, descobrir por que o pensamento, a ideia, gera medo. Está claro?
O pensamento cria o medo? Ou o que acontece é que o pensamento, depois de criar o pensador, cria o medo? Decerto, o pensamento, em si, não cria temor. Ele se manifesta quando há um pensador separado do pensamento, um pensador a ajustar-se, por conseguinte, a criar o temor.
Consideremos isso diferentemente. Existe o censor, o observador, separado da “coisa censurada”, da “coisa obser­vada”; existe o “experimentador” separado da “experiência”, o “pensador” separado do “pensamento”. E foi o pensamento que criou o pensador, pois, se não houvesse pensamento, não haveria pensador.
Notem que não exponho nenhuma teoria fantástica ou fi­losofia mística; não se trata de nada disso. Estamos simples­mente a observar a nossa vida de cada dia. O pensador é a ideia, a lembrança de dores e prazeres, o feixe de recordações, o qual, ao apresentar-se um “desafio”, “responde” (reage) em termos de pensamento e ação. Vejo, pois, como vocês também devem ver, que o pensador é o centro de ideias baseadas na busca do prazer e no evitar a dor. É ele que origina todo es­forço de ajustamento, esforço esse que se baseia no medo. Enquanto há medo, há o impulso a ajustar-se e, por conse­guinte e necessariamente, esforço. O esforço, portanto, é sem­pre uma luta no sentido de imitar, de “vir a ser”, de moldar, de ajustar-se a um padrão, e todo esforço desta natureza está, obviamente, baseado no medo. Assim, se simplesmente cuida­mos de cultivar a coragem — e isso faz parte de nosso esforço para “virmos a ser” alguma coisa — tal esforço pouco signi­fica. Mas, quando compreendemos toda a estrutura do medo, vemo-nos então frente-a-frente com um problema bem diverso.
Enquanto existir um pensador separado do pensamento, haverá, não só medo, mas também o esforço baseado no im­pulso a ajustar-nos; e, uma vez conscientes disso, será possí­vel pensarmos sem criar o “pensador”? Entendem? Isso sig­nifica alguma coisa ou é apenas um amontoado de palavras? Vejo-lhes algo perplexos, senhores; assim, voltemos ao começo.
Percebe-se que toda a nossa vida é uma rotina, um ajus­tar, um repetir e, por conseguinte, algo tedioso. Vemos esse fato. A seguir, interrogamo-nos: Pode-se eliminar esse esforço de ajustamento — não no fim de tudo, na hora da morte, mas enquanto estamos vivos? Para o investigarmos, temos de descobrir a natureza do ajustamento e porque a mente está sempre a ajustar-se, seja à experiência passada, seja a um atual padrão de ação ou a um certo ideal do futuro. Ajustamento, como já vimos, implica imitação, repetição, adap­tação, etc. Percebo que onde há ajustamento há necessaria­mente esforço e que, quando existe esforço de ajustamento nas relações, estas cessam completamente. Minha vida é uma constante repetição, um interminável esforço de ajustamento e, por isso, nunca existe um estado de relação. Cabe-me, pois, averiguar se me é possível pôr fim ao esforço de ajustamento e, por conseguinte, achar-me num estado de relação. Mas, para descobrir o que subentende a cessação desse esforço, devo primeiramente verificar se o medo — do qual podemos estar conscientes ou não — pode terminar totalmente, e não apenas parcialmente. Significa isso que cumpre investigar as profun­dezas do inconsciente.
Ora, é capaz a mente consciente de investigar uma coisa que ela nunca atingiu? Como sabem, há especialistas — Freud, Jung e muitos outros — que têm descrito o inconsciente, atribuindo-lhe várias características; mas, se o indivíduo está verdadeiramente cônscio de suas próprias atividades interiores, nenhuma necessidade tem de recorrer aos especialistas. É óbvio que o inconsciente é o resíduo do passado; e o passado inclui tanto as “memórias” herdadas como as adquiridas. Há as memórias remotas, as memórias raciais, as memórias coletivas. A total existência do homem, de dois ou mais milhões de anos, está, toda ela, contida no inconsciente. E esse incons­ciente faz parte do nosso medo. Conscientemente, posso não temer coisa alguma, porém, profundamente, ter medo de muitas coisas. Posso ter racionalizado a morte, pela maneira mais bela, mas, bem no fundo, existe ainda esse medo extraordiná­rio ao findar. Assim, no inconsciente, há medo; e, para o compreenderem, dele devem se abeirar, não consciente nem deliberadamente, mas com sensibilidade, com vigor, ardor, in­tensidade. Por outras palavras, dele devem se aproximar com afeição, com amor, pois é essa a única maneira de se com­preender o que quer que seja.
Assim, é possível eliminar o medo em todos os seus as­pectos? A pessoa pode ter medo do escuro, ou de topar subitamente com uma serpente ou fera, ou de cair num preci­pício. É natural e indício de sanidade mental sairmos do ca­minho de um ônibus que se aproxima, por exemplo, mas existem muitas outras formas de medo. Eis por que é necessário examinar esta questão sobre se a ideia imposta mais do que o fato — o que é. Se se considera o que é — o fato — e não a ideia, percebe-se que é só a ideia, o conceito relativo ao fu­turo, ao amanhã, que cria medo. Não é o fato que gera o medo.
Superficialmente, o ajustamento, a adaptação, são neces­sários; porém, interiormente, profundamente, o ajustamento acarreta esforço e, por conseguinte, imitação. Enquanto está a imitar, a esforçar-se por ajustar-se, a mente isola-se; assim, não há para ela relações, e o que faz é apenas aumentar o medo.
Bem. Acabo de analisar mais ou menos suficientemente esta questão. Poderíamos examiná-la com mais profundeza, com outras minúcias, mas já tocamos nos fatos mais importantes. Entretanto, a descrição não é o fato. A palavra não é a coisa. Quando sentem fome, posso descrever-lhes um prato de comida, mas, obviamente, minhas palavras não são alimento. De modo idêntico, devemos estar diretamente em contato com esta ques­tão, em seu todo, não apenas verbalmente, porém de maneira real, porque então é que se começa a descobrir a liberdade que não é ajustamento. Começa-se a descobrir, cada um por si, que, enquanto existir pensador separado do pensamento, exis­tirá medo, esforço, ajustamento. Pois esforço é ajustamento. E é possível — prestem atenção! — é possível só pensar sem criar “pensador”? É possível pensar intensamente, racional, sã e logicamente sem haver o “pensador”, cujos valores, ideias e conceitos se baseiam todos no prazer, de onde, por conse­guinte, se origina todo o processo de esforço e imitação? É possível pensar só quando necessário, e não de outra maneira? Isto é, pode uma pessoa pensar só quando se lhe faz uma per­gunta, e permanecer o resto do tempo num completo estado de negação — que é um estado sumamente positivo?
Está claro? Por favor, não concordem. Este é um as­sunto dificílimo de investigar, de penetrar. Não se pode dizer, simplesmente, “Concordo” — pois isso nada significa.
É o centro, como pensador, como censor, que gera o tempo e, por conseguinte, o centro é a fonte da desordem. Não é o pensamento que cria a desordem, porém o centro, o censor, o pensador, constituído através do tempo. E enquanto existir esse censor, esse centro, esse “fabricante” de esforço, por mais que tentem o medo não terá fim.
Assim, para a mente que leva essa carga constituída pelo medo, pelo ajustamento, pelo pensador, não é possível a compreensão daquilo que se pode chamar o original. E a mente deseja saber o que é “o original”. Tem-se dito que é Deus — mas esta é também uma palavra inventada pelos entes humanos em seu medo, seu sofrimento, seu desejo de fugir à vida. Quando a mente humana está livre de todo o temor, não está então — em seu desejo de saber o que é o original — em busca de prazer para si própria, nem de nenhuma via de fuga, e, por conseguinte, em sua investigação já não existe autori­dade alguma. Compreendem? A autoridade deste orador, a autoridade da igreja, a autoridade da opinião, do conhecimento, da experiência, do que “dizem” — tudo isso cessa completa­mente, e não há obediência. Só então a mente tem a possi­bilidade de descobrir, por si própria, o que é o original — descobri-lo, não como mente individual, porém como ser humano total. Não existe mente “individual”, absolutamente. Somos totalmente relacionados. Compreendam isso. A mente não é uma coisa separada; é uma totalidade. Todos vivemos a ajustar-nos, todos temos medo, todos estamos a fugir. E, para compreendermos, cada um de nós, não como indivíduo, porém, como ente humano total, o que é o original, precisa­mos compreender a totalidade do sofrimento humano, todos os conceitos e fórmulas que o homem inventou no decurso dos séculos. Só quando se está libertado de tudo isso, pode-se descobrir se existe alguma coisa de original. Do contrário, somos entes humanos “de segunda mão”; e porque somos imi­tações, entes humanos falsificados, o sofrimento nunca tem fim. Assim, o findar do sofrimento é, em essência, o começo do original. Mas, a compreensão que põe fim ao sofrimento não é a mera compreensão de sofrimento particular de vocês, ou de meu sofrimento particular, porque o seu sofrimento e o meu sofrimento estão relacionados com a totalidade do sofri­mento humano. Compreendem? Isso não é mero sentimen­talismo ou emocianalismo; é um fato real, um fato brutal. Ao compreendermos a total estrutura do sofrimento, extinguindo-o portanto, teremos então a possibilidade de encontrar — não num “tubo de ensaios” como a descobre o cientista — aquela coisa extraordinária que é a origem de toda a vida, aquela fantástica energia, que está sempre a “explodir”. Essa energia não é um movimento em direção alguma e por con­seguinte, “explode”.
Senhores, como não parecem inclinados a fazer perguntas, posso perguntar-lhes uma coisa? Já experimentaram alguma vez reunir toda a energia de vocês — física, emocional, mental, visual, todas as formas de energia — e “com ela ficar”, com­pletamente, tranquilamente? Compreendem? Se a energia tem algum movimento em qualquer direção que seja, está sendo dissipada. Mas, quando toda a nossa energia fica completa­mente imóvel, inicia-se um movimento que é original e, por consequência, “explosivo”. Estão entendendo? Experimentem, numa ocasião, e vejam se são capazes disso. Mas, para tanto, requer-se uma grande soma de inteligência, extraordinária vigi­lância; não é nada de relacionado com a dor e o prazer. Se pu­derem reunir toda a sua energia, sem esforço, sua mente estará então transbordante de energia, sem atrito de espécie alguma. Verifica-se, então, uma “explosão” — e, dessa explo­são, surge o original.

Krishnamurti — 22 de julho de 1965.

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill