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domingo, 2 de junho de 2013

A importância de compreender o "processo" total do "eu"

ESTOU bem certo de que a maioria de nós sente a necessidade de uma revolução fundamental, num mundo em que se vê tanto caos, tanta miséria e fome, e perene ameaça de guerra. Sentimos necessária uma certa mudança das coisas, e cada grupo tem sua especial panaceia ou método, para pôr fim às misérias do mundo. Os comunistas têm o seu padrão, os capitalistas o seu, e os indivíduos chamados religiosos têm também o seu. Tão interessados, que estamos, em produzir esta transformação, obviamente necessária, ingressamos num ou noutro desses diferentes grupos e, por isso, acho importante descobrirmos o que se entende por transformação — não a mudança resultante da mera ação exterior, legislativa, porém uma transformação muito mais profunda, mais radical. É fácil ver que toda mudança promovida de acordo com um plano preconcebido, torna necessária uma entidade administrativa, para levar a efeito o plano, e que a autoridade de que deve revestir-se uma tal entidade se torna invariavelmente tirânica; isto é o que, de fato, está acontecendo no mundo. Existe a tirania da autoridade bem organizada, nas mãos de uns poucos, ou a tirania de determinada religião, ou tirania da autoridade conferida a uma certa seção da sociedade. Em vista de tudo isso, vós e eu, as pessoas comuns, desejamos produzir uma mudança para melhor, de modo que a humanidade possa ter, em todas as partes, alimentação adequada, roupas, moradia, educação mais completa, etc.

Ora, como disse, é importante averiguar o que entendemos por "transformação". Para a maioria de nós,  transformação significa "continuidade modificada" do que já existia, não é verdade? Embora os chamados revolucionários desejem promover uma transformação radical na sociedade, a sua atitude, os seus valores, os seus conceitos e fórmulas, tudo está baseado no passado, na reação do "conhecido". E toda mudança nascida dessa fonte, é mera continuidade do que já existia, um tanto ou quanto modificada. Eles poderão não começar dessa maneira, mas no fim o que resulta é isso, e isso, para mim, não é transformação, absolutamente. A transformação significa algo completamente diferente e eu gostaria, se me permitis, de examinar bem esta questão.

Reconhecemos necessária uma transformação fundamental em nossa maneira de pensar, uma radical transformação da mente e do coração do homem. Mas esta extraordinária transformação não está realizada se fazemos continuar o que já existia, sob forma modificada. Tampouco pode essa radical revolução da mente operar-se por meio da educação, como hoje a conhecemos. Porque, isto que atualmente chamamos "educação", consiste apenas em aprender uma determinada técnica, para cada um poder ganhar o próprio sustento e ajustar-se ao padrão imposto pela sociedade.

Em vista disto, por onde devemos começar? Onde começar, para realizar esta transformação fundamental da ordem social, que se torna tão obviamente necessária? Por certo, o problema individual é o problema mundial. A sociedade é tal como nós mesmos a fizemos. Há os que têm e os que não têm; os que sabem e os ignorantes; os que preenchem suas ambições e os que se vêm frustrados. Existem as várias religiões com suas cerimônias e crenças dogmáticas, e a batalha interminável no seio da sociedade, a perene competição entre todos, para ganhar, "vir a ser" alguma coisa. Tudo isso fomos vós e eu que criamos. Reformas sociais podem ser introduzidas por meio da legislação ou por meio da tirania; mas se não houver uma radical transformação do indivíduo, este superará sempre o novo padrão, adaptando-o às próprias exigências psicológicas.

Assim sendo, parece-me de grande importância compreender o "processo" total da individualidade. Porque, só quando o indivíduo se transforma radicalmente, pode haver uma revolução fundamental na sociedade. É sempre o indivíduo e nunca a coletividade, que pode produzir uma mudança radical no mundo — e isto é um fato histórico.

Ora bem, pode o indivíduo — vós e eu — transformar-se radicalmente? Esta transformação do indivíduo — mas não operada de acordo com um padrão — é o que nos interessa e é, para mim, a mais elevada forma de educação. É a transformação do indivíduo que constitui a verdadeira religião, e não a mera aceitação de um dogma, uma crença, pois isto não é religião nenhuma. A mente que está condicionada segundo um certo padrão a que chama religião — hinduísta, cristã, budista, ou outra — não é uma mente religiosa, por mais que pratique todos os chamados ideais religiosos.

Assim sendo, podemos nós — vos e eu — promover uma radical transformação em nós mesmos, sem compulsão, e sem "motivo" algum? Toda forma de compulsão é atividade egocêntrica, que perverte a mente, e o "motivo" está sempre baseado no processo do "eu", do "ego". E é possível realizar uma transformação radical em cada um de nós, sem "motivo" e sem compulsão? Penso que esta é uma questão que exige muita reflexão, investigação, e não podemos "despachá-la" tão facilmente, dizendo que tal transformação é possível ou impossível. Todo homem verdadeiramente sério deve investigar profundamente este problema de sua própria transformação interior. Esta transformação interior, por certo, não pode ser feita de acordo com nenhum padrão, nenhum conceito religioso, sendo possível unicamente por meio do autoconhecimento. Isto é, se não conheço a totalidade de minha consciência, a totalidade de meu ser, qualquer ideal, fórmula, conceito ou crença que eu tenha, não passa de mero desejo, mera ideia, sem base alguma e portanto sem realidade. Se não há autoconhecimento, isto é, se não começo por conhecer a mim mesmo, completamente, toda e qualquer atividade que eu empreenda, há de ser destrutiva e causadora de maiores danos. Assim, pois, o homem que é verdadeiramente sério, que se preocupa realmente a respeito do caos e das misérias do mundo, não deve reconhecer de vital importância a compreensão do processo total de si mesmo?

Ora, que é autoconhecimento? O autoconhecimento não se realiza de acordo com um livro, não se adquire seguindo-se a autoridade de quem quer que seja. As operações de meu pensamento têm de ser descobertas e só posso descobri-las nas relações; porque as relações são um espelho em que posso ver a mim mesmo, não teoricamente, porém exatamente como sou. Não há dúvida que é nas relações com minha mulher, meus filhos, meu vizinho, meus criados, meu patrão, com a sociedade em geral, que descubro a mim mesmo, tal como sou. Porque, nesse espelho das relações, posso enxergar as minhas superstições, meus juízos, meus hábitos de pensamento, as tradições que estou seguindo, os valores comparativos que atribuo às experiências e às coisas.

O que em geral acontece é que aquilo que vemos no espelho das relações, nos agrada ou desagrada e, por isso, ou o aceitamos ou o condenamos. Mas só é possível descobrir as operações do pensamento, os "motivos" e desejos ocultos, as reações de uma mente condicionada por determinada sociedade, quando nos contemplamos nesse espelho sem espírito de condenação ou comparação, sem julgamento. Só então a mente — tanto consciente como inconsciente — está libertada de sua escravidão e, assim, talvez, capacitada para ultrapassar as suas próprias limitações. Isto, em verdade, é meditação.

A verdadeira religião é a da mente que compreende os seus próprios processos — ambição, inveja, avidez, ódio — porque a própria compreensão dessas coisas põe-lhes fim, sem necessidade de compulsão e a mente, portanto, fica livre para explorar. Tem-se então a possibilidade de encontrar a Realidade, Deus ou o nome que preferirdes. Mas, sem autoconhecimento, o mero afirmar ou negar que Deus ou a Realidade existe, nenhuma significação tem.

Vê-se que uma parte da humanidade está condicionada para aceitar a ideia de Deus, ao passo que outra parte está sendo condicionada para não crer em Deus, porém crer no Estado e por ele se sacrificar. E é possível a mente libertar-se de todos os condicionamentos? Não há dúvida de que só a mente que procura descondicionar-se e se torna, portanto, capaz de agir, só essa mente pode realizar a revolução radical. Essa a razão por que muito importa que tanto vós como eu nos libertemos, individualmente, do "coletivo"; porque se o indivíduo não é livre não tem possibilidade de investigar e descobrir o que é verdadeiro.

Assim, cabe evidentemente aos que são sérios investigar profundamente esta questão, em vez de ajustarem-se, meramente, a um padrão de pensamento. Só o indivíduo religioso, no verdadeiro sentido da palavra, pode dar nascimento a um novo estado, uma nova maneira de considerar a vida. E o indivíduo verdadeiramente religioso é aquele que se está libertando do condicionamento de uma dada sociedade, sendo, assim, um verdadeiro revolucionário .

Krishnamurti — Da solidão à plenitude humana

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill