Pergunta: Você acredita em Deus?
Krishnamurti: É fácil fazer
perguntas, e é muito importante saber fazer perguntas corretas. Na pergunta em
apreço, as palavras “crer” e “Deus” me parecem muito contraditórias. O homem
que simplesmente crê em Deus nunca saberá o que é Deus, porque sua crença é uma
forma de condicionamento — e isso é bastante óbvio. No cristianismo, vocês são
ensinados desde pequeninos a crer em Deus e, portanto, vossa mente está
condicionada desde o começo. Nos países comunistas, a crença em Deus é
considerada puro disparate, e isso lhes causa horror. Vocês desejam
convertê-los, e eles desejam lhes converter. Eles condicionaram sua mente para
não crer, e vocês os chamam “os sem Deus”, enquanto vocês se consideram como
tementes a Deus, etc. Não vejo, porém, muita diferença entre vocês e eles.
Vocês podem frequentar a igreja, rezar, ouvir sermões, ou executar certos
ritos, e aí encontrarem um certo estímulo; mas nada disso, por certo, constitui
a experiência do “desconhecido”. E pode a mente experimentar o desconhecido,
qualquer que seja o nome que lhe dermos — pois o nome não tem importância? Essa
é que é a questão — e não a de crer ou de não crer em Deus?
Pode-se ver que nenhuma forma de
condicionamento libertará a mente, em tempo algum; e que só a mente livre pode
descobrir, experimentar. O experimentar é uma coisa muito estranha. No momento
em que vocês sabem que estão experimentando, cessa a experiência. No momento em
que sei que sou feliz, já não sou feliz. Para se experimentar aquela realidade
imensurável, o “experimentador” deverá morrer. O “experimentador” é um
resultado do conhecido, de muitos séculos de memória cultivada; ele é um
acúmulo das coisas que experimentou. E, assim, quando diz: “Preciso
experimentar a realidade”, e se torna cônscio dessa experiência, então o que
ele experimentar não é a realidade, porém, uma projeção de seu próprio passado,
seu próprio condicionamento.
Por isso é tão importante
compreender que “pensador” e “pensamento”, ou “experimentador” e “experiência”,
são uma só coisa; não são coisas diferentes. Quando existe um “experimentador”
separado da “experiência”, aquele está, então, sempre buscando mais
experiência; mas, cada experiência é sempre uma “projeção” dele próprio.
A realidade, pois, o estado atemporal,
não pode ser encontrado pela mera verbalização ou aceitação, ou pela repetição
do que se ouviu dizer — pois isso é absurdo.
Para descobrir, realmente, é necessário compreender a fundo essa
questão do “experimentador”. Enquanto existir “eu” a desejar experimentar, não
haverá experiência da Realidade. Eis porque o “experimentador” — a entidade que
busca a Deus, que crê em Deus, que ora a Deus — deve deixar de existir,
completamente. Só então surgirá aquela Realidade imensurável.
Krishnamurti — Verdade Libertadora
— ICK — 25 de junho de 1956