Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

sexta-feira, 31 de maio de 2013

A auto-recordação: que sou eu?

Em tudo, em todos os homens, há a totalidade, a inteireza da vida... Por inteireza refiro-me à liberdade de consciência, a liberdade da individualidade. Essa inteireza que existe em tudo não pode progredir: ela é absoluta. O esforço de adquirir é fútil, mas se você puder compreender que a Verdade e a felicidade existem em todas as coisas e que a compreensão dessa Verdade é feita somente por intermédio da eliminação, então haverá uma compreensão atemporal. Não é algo negativo. Muitas pessoas temem nada ser. Chamam de positivo o fato de fazerem um esforço e denominam esse esforço de virtude. Onde há esforço não há virtude. A virtude é algo sem esforço. Quando você nada for, será todas as coisas, não por engrandecimento, não por colocar ênfase no "eu", na personalidade, mas pela contínua dissipação daquela consciência que cria poder, avidez, inveja, possessividade, vaidade, medo e paixão. Através da contínua auto-recordação, você se torna plenamente consciente e, então, libera a mente e o coração e conhece a harmonia, que é inteireza. 

Krishnamurti — 1931

A Verdade destina-se às massas ou a poucos escolhidos?

(...) Não vou instar-vos a aceitar aquilo que tenho como a Verdade absoluta; deixo-o ao vosso critério, pois somente este é valioso, somente este é duradouro, e somente ele vos deve guiar, sustentar e proteger. 

(...) Repito que não tenho discípulos. Cada um de vós é discípulo da verdade, desde que compreenda a Verdade e não se ponha a seguir outros indivíduos. Não tenho seguidores. Espero que não considereis a vós mesmos como meus seguidores, porque, se o fizerdes, estareis pervertendo e traindo a Verdade que eu defendo. Não tenho discípulos; não tenho seguidores; mas, se compreenderdes a Verdade que vos ofereço, em toda a sua simplicidade e grandeza, e amardes essa verdade pela sua própria beleza, tornar-vos-eis então discípulos dessa Verdade. Não tenhais cuidados sobre quem é discípulo e quem não o é. Que empenho o vosso de julgar os outros! Aspirais à qualidade de discípulo com o fito de serdes persuadidos ou dissuadidos, com o fito de vos arrimardes em alguém, de serdes protegidos por alguém; mas, meu amigo, quando dependeis de outra pessoa, ai de vossa vida!

Espero, pois que esteja agora perfeitamente claro que não necessito de discípulos nem de seguidores; porque eu sustento que ser discípulo de um indivíduo qualquer é trair a Verdade. A única maneira de alcançar a Verdade é ser discípulo da própria Verdade, sem necessitar de intermediário. Não vos choqueis, não vos sintais desapontados – a Verdade nem sempre é aprazível. A Verdade é rude para aqueles que não compreendem, mas a Verdade é amável, delicada, generosa e encantadora para aqueles que compreendem. Nessas condições, amigo não existe a categoria de discípulo, a não ser para aqueles que compreendem que ser discípulos não é seguir indivíduos, porém só a Verdade em seu sentido absoluto, a Verdade infinita. E vós que tanto vos deleitais como vosso culto das personalidades, que tanto vos deleitas com vossos intermediários, achareis difícil aceitar a Verdade, mas não estou aqui para vos agradar. Não vos torneis seguidores nem discípulos de indivíduos, mas tornai-vos o tabernáculo da Verdade sem princípio nem fim, e então as questões concernentes a quem é apóstolo, quem é discípulo, ...se dissiparão, porque nenhum valor tem.

Quando galgais uma encosta elevada e encontrais pelo caminho indicadores da direção, vós vos detendes para adorar esses indicadores, ou prosseguis a marcha, deixando-os para trás?(...) Não há compreensão no culto das personalidades. Os rótulos que adorais carecem de significação. Bem sei que terei dúvidas sobre o que estou dizendo, e que minhas afirmativas suscitarão em vós um sentimento de incerteza, mas, meu amigo, eu vos digo que a verdade nada tem que ver com as personalidades mesquinhas e tirânicas que adorais, sejam elas quais forem. A Verdade transcende todas as graduações, porquanto essas graduações só existem por causa das limitações humanas.

(...) Continuo a sustentar que todas as cerimônias são desnecessárias à evolução espiritual. Quanto vos agradaria se eu dissesse, pela maneira mais autoritária, que elas são necessárias, ou que não o são! Quanto vos deleitaria se eu dissesse: “A Vontade, senhores, continuais a celebrar as vossas cerimônias!” ou “Não, senhores, deixai de celebrar cerimônias” – porque vos sentiríeis então em vosso elemento. Mas, porque eu não digo tal coisa, porque não baseio o que expresso em autoridade alguma, ficais intrigados, e na vossa ansiedade dá-se uma confusão de propósitos, acentuando-se o que não é essencial e perdendo-se de vista o que é essencial. Eu digo que todas as cerimônias não são essenciais para o preenchimento da vida. (...) Sois todos como crianças incapazes de se susterem nas pernas e caminhar desamparadas. (...) Não vos sirvais de mim como de uma autoridade, não digais que Krishnamurti desaprova as cerimônias. Eu não aprovo, nem reprovo. Se desejais celebrar cerimônias, vós as celebrareis, e essa é uma razão suficiente em si mesma; se não desejais celebrá-las, não as celebrareis, e também essa é uma razão suficiente em si mesma. Tais dificuldades só se manifestam quando o indivíduo está empenhado em obedecer, quando está atemorizado - atemorizado pela ideia de perder o maná espiritual que julga existir na organização de que faz parte. Nenhuma organização, por mais amadurecida pela tradição, por mais firmemente estabelecida que seja, contém a verdade. Se desejais procurar a Verdade, deveis fazer-vos ao largo, distanciar-vos das limitações da mente e do coração humanos, e descobri-la então, - e essa Verdade está dentro de vós mesmos. Não é muito mais simples fazer da própria Vida o alvo, da própria Vida o guia, o Mestre e o Deus, do que ter intermediários, gurus, que inevitavelmente “reduzirão” a Verdade e, portanto, a trairão?

(...) Digo que a libertação pode ser alcançada em qualquer degrau da evolução, pelo homem que compreende, e que não é essencial render culto a esses degraus, como vós o fazeis. Assim como tendes, na vida mundana, um sentimento de classe, que vos infunde reverência pelos títulos aristocráticos, assim também tendes um sentimento de classe de ordem espiritual; não há muita diferença entre estas duas coisas. Por essa razão, deveis desenvolver a compreensão e o desejo de alcançar vosso alvo, e esquecer todos esses graus e as pessoas neles situadas. Que valor têm eles para vós?

Porque perdeis de vista o alvo da vida, porque não desejais alcançá-lo com todo o ardor, com todo o interesse e energia, esses graus, com os seus rótulos, vos prendem e escravizam. Seguramos um brinquedo à frente de uma criança, à fim de estimulá-la a andar, e a criança que é sensata não se põe a adorar esse brinquedo, porque o seu desejo é andar. Vós não sois crianças. Entretanto, estais adorando um brinquedo. Eu vos digo que a Vida é muito séria para brincar-se com ela, e, como já disse, é chegado o tempo de decidirmos se vamos continuar, como crianças, a admirar brinquedos, ou se vamos ser homens e mulheres adultos, dispostos a rejeitar tudo quanto é pueril, a fim de descobrir a Verdade. Encontrar e estabelecer a Verdade depende de vós mesmos e de ninguém mais. Se eu destruísse todos os vossos arrimos atuais, logo inventaríeis outros, para satisfazer o vosso desejo de apoio, inventaríeis logo outras idéias fantásticas. Direis que não creio em nada dessas coisas. Não creio nem descreio. Para mim elas têm valor insignificante, em comparação com a joia mais preciosa deste mundo, que é a Vida.

Podereis alcançar a libertação em qualquer degrau da evolução, se possuirdes um desejo ardente de alcançá-la, se nutrirdes o anseio de rejeitar todas as coisas que não são essenciais de vos agarrardes, tão fortemente como a morte, às coisas que são vitais, essenciais. E para determinardes o que é essencial e vital, deveis observar, deveis estar atento para tudo quanto se passa em redor de vós. A vida é uma tela tecida dos fatos comuns de cada dia e, se não utilizardes esses fatos, perdereis o significado das pequeninas coisas, com as quais as grandes coisas são construídas.

(...) Digo que a Vida é uma só, embora as expressões da Vida sejam múltiplas. Na Verdade, não existe nem macho nem fêmea; como pode existir? Tendes um corpo diferente do meu; mas, não tendes a mesma tristeza, as mesmas dores, as mesmas ansiedades, e as mesmas dúvidas? O de que necessitais é uma mente pura e um coração cheio de amor, e então todas essas coisas perderão a importância. Ninguém vai completar a minha obra, senão vós mesmos. Talvez o que digo não vos agrade e, por isso, desejeis outra imagem para adorar e tereis uma tal imagem, por vós mesmos fabricada, seja esta ou outra qualquer. Enquanto não aspirardes à Verdade no seu sentido absoluto, enquanto não aspirardes à liberdade, inventareis para vós mesmos muitas frases, muitas imagens, muitos rótulos, e vos enleareis nas complicações das filosofias e das crenças. Se desejardes a Verdade como um homem que se afoga deseja o ar, não necessitareis dessas complicações. Mas, preferis satisfazer-vos com coisas fáceis, agradáveis, suaves, a enfrentar uma luta rude com vós mesmos, a compreender a vós mesmos e, assim, vencerdes.

Não ides, depois, citar-me como autoridade. Recuso-me a servir-vos de apoio. Não irei para uma clausura, para ser venerado por vós. Quando trazeis para dentro de um quarto o ar puro da montanha, perde esse ar a pureza e sobrevém a estagnação: e nenhum homem judicioso se deixará prender nessas coisas que pervertem e fazem estagnar a mente e o coração.

Porque eu sou livre, porque encontrei esta Verdade que não tem limites, que não tem princípio nem fim, não me deixarei condicionar por vós. Podeis expulsar-me de vossos corações e de vossas mentes, mas eu não vos servirei de arrimo, nem me deixarei prender na clausura de vossas pequeninas ilusões.

(...) Minha doutrina difere totalmente da do materialista, e se não o percebestes, lamento-vos. Eu nunca disse que não há Deus. O que eu disse é que só existe Deus conforme se manifesta em cada um de nós, e que, quando houverdes purificado aquilo que está dentro de vós mesmos, achareis a Verdade. É claro que Deus existe; mas não vou empregar a palavra Deus, porquanto ela assumiu um significado muito especial e estreito. Para uns ela sugere um punho possante e iroso; para outros, um ser de longas barbas; para outros, uma Inteligência Onipotente, Onisciente e, Suprema. Isso eu prefiro chamar Vida, porque nos aproxima mais da Verdade, porquanto vós tendes de lidar com a própria Vida, e não com o culto que rendais a um ser exterior, enganando a vós mesmo. A Verdade, tal como a Vida, é como o raio de sol: se sois sensato, abrir-lhe-eis as janelas; se não sois sensato, descereis as cortinas. Se estivésseis enamorado da Verdade, essas imagens não teriam mais valor nenhum para vós.

“... que não existe nem bem nem mal”. Está visto que não há nem o bem nem o mal. O bem é aquilo que não tememos; o mal, aquilo que tememos. Se, portanto, destruirdes o temor, estareis espiritualmente preenchidos; mas, se ficardes condicionados pelo temor como o estais - continuará a existir o mal, o bem e a moral, para sustentar-vos, na vossa fraqueza.

Quando estiverdes enamorados da vida e puserdes esse amor acima de todas as coisas, e julgardes por esse amor, e não pelo vosso temor, desaparecerá então esta estagnação que chamais moral; o que ocupará vosso pensamento será, então, o quanto estais enamorados da Vida, e não quanto mal e quanto temor existe no vosso coração. Ou, melhor vós julgareis pelo vosso amor, e não pelo vosso temor. Eu sei que vos proíbem de julgar; mas, como sempre julgais, porque então não julgar de acordo com a Verdade? E para julgardes segundo a Verdade, é preciso que estejais, apaixonados pela Vida; mas, então, nunca julgareis, em circunstância alguma. Porque não estais enamorados da vida, vós julgais pelos vossos padrões de moralidade; pelo bem e pelo mal; pelo temor de céu e inferno; e por isso opondes uma barreira àquele amor, àquela compreensão da vida.

(...) Se fordes arrebatados, agora, pela minha autoridade, sereis arrebatados, futuramente, por outra autoridade qualquer. Obedecereis a mando da autoridade e desobedecereis a mando da autoridade. Vossa compreensão fica muda, no caso. Desejais conforto a toda hora e esse conforto vós o encontrais em palavras na autoridade, nos deuses e dogmas.

Mas, se puderdes perceber que não existe conforto, e sim compreensão, não ficareis enredado em palavras, em idéias, ou no que dizem os livros, ou à sombra dos deuses que adorais. Que pressa tendes em julgar, sem conhecimento! Em aceitar, sem compreensão!

(...)Vós aceitais o que vos agrada, e rejeitais o que vos desagrada. A Verdade, que é a Vida, nada tem com pessoa alguma nem com organização alguma. Amigo, estais a brincar com estas coisas. Não são elas de importância capital para vós, mas para mim elas são de vital interesse. Importa-me muito a Verdade e o despertar em cada um de vós o desejo de descobrir essa Verdade. O que vos importa é a consciência de Krishnamurti. Mas como o podeis saber, se não conheceis nem Krishnamurti nem o Cristo? (...) Não me interessam organizações. Não me interessam sociedades, religiões, dogmas; o que me interessa é a Vida, porque eu sou a Vida. Não almejais a Vida e o preenchimento da Vida, que é a Verdade; uma passageira sombra de conforto, nesta ou naquela organização, uma dose de palavras suaves e de idéias agradáveis, são suficientes para vossa limitada compreensão. Assim, pois, amigo, estais preso nessas coisas. Porque à Vida vós antepondes as organizações, a autoridade de outro, as frases de outro, estais prisioneiro e sufocado. Eu vos falo a respeito do cume da montanha, que não conhece sombras, que nunca está toldado de nuvens, que é constante e eterno, e o que vos interessa são os vales que jazem à sua sombra. Se desejais compreender o cume da montanha, deveis deixar o vale, e não permanecer nele, adorando, de longe, o alto da montanha. 

(...)Não desejo que aceiteis qualquer coisa do que vos digo. Nada necessito de qualquer de vós; não desejo a popularidade; não preciso de vossa lisonja nem de vossa obediência. Porque estou enamorado da vida, nada preciso. Estas questões não são de grande importância; o que tem importância é o fato de que estais obedecendo à autoridade e permitindo que vosso julgamento seja pervertido por ela: Vosso julgamento, vossa mente, vossos afetos, vossa vida, estão sendo pervertidos por coisas destituídas de valor, e é nisso que reside o sofrimento.

Vi, num templo indiano, uma família de símios - pai, mãe e filho. O filhote estava sempre agarrado à mãe, não a deixando nunca. E, numa fazenda de criação de leões, na Califórnia, eu vi uma leoa com seu filhotinho. Este andava livremente pelos arredores, independente da mãe. Que preferis: ser apegado como o macaco ou independente como o leão? O homem que deseja libertar-se de todas as suas limitações, deve jogar para longe todos os arrimos. Se desejásseis subir às alturas, não levaríeis convosco todos os vossos haveres, vossos títulos, vossos rituais e vossos amigos. Abandonaríeis todas essas coisas, para subirdes sozinho. Subir livre de embaraços não significa egoísmo. Não vos torneis a enganar com essa ideia. Se desejais subir, será sensato fazê-lo com determinação, com perseverança, sem a carga de complicações. A Verdade não depende de pessoa alguma, por mais que ameis essa pessoa. Ela está acima das pessoas, acima dos deuses que imaginais e dos lúgubres santuários dos templos. Eu sei o que sou; sei qual é a minha finalidade na Vida, porque sou a própria Vida, sem nome, sem limitação. E porque eu sou a Vida, desejo instar-vos a adorar essa vida, não na forma que é Krishnamurti, porém a vida que reside dentro de cada um de nós. Lançai fora toda essa bagagem de crenças, religiões e cerimônias, e encontrareis a Verdade.

(...) Porque o temeis? De que tendes medo? Medo de que o que eu digo seja a Verdade? Medo de abandonardes as coisas a que há tanto tempo vos apegais? Como julgais possível achar alguma coisa na vida se tendes medo de levar vossos pensamentos e sentimentos até as ultimas conclusões?

Amigo, vós alcançareis a Verdade se deitardes fora o que haveis adquirido, e não se vos apegardes a essas coisas. Esta é a única maneira de se achar a Verdade. Se desejais dinheiro, não procedeis com crueldade para acumulardes vossas riquezas? Mas não desejais a Verdade por essa maneira. Não quero dizer que sejais egoístas e cruéis - porque, quando caminhais na direção da Verdade, não há lugar para o egoísmo e a crueldade. Se praticais qualquer ação impelido pelo medo ou a mando de outro, ai de vós, porque ao longo deste caminho jaz a tristeza e a dor.

(...) Não tenho discípulos escolhidos. Quem são as massas? Sois vós. É em vossas mentes que existem as distinções entre as massas e os escolhidos, entre o mundo exterior e o mundo interior. É em vossas mentes que corrompeis, que "reduzis" a Verdade. Ó amigo! Se estais enamorado da vida, vós envolvereis todas as coisas nesse amor, tanto as transitórias como as permanentes. Quereis uma doutrina especial para uns poucos eleitos, porque em vossos corações existe a segregação, a separação; desejais ,confinar as águas puras da vida e guardá-las para vós. Podeis perguntar ao sol se ele brilha para as massas ou para uns poucos eleitos? Podeis perguntar às chuvas se elas se destinam às planícies ou às montanhas? Se não compreendeis, suporeis, como sempre se supôs, que o meu ensino se destina a uns poucos e por essa forma "reduzireis" e traireis a Verdade. Porque existe limitação em vosso, coração, dividis a água da vida, que se destina aos reis e aos mendigos, indistintamente. Quer proceda de uma fonte de ouro, quer de um regato, essa água é a mesma e acalma a sede de todos, sem distinção de pigmentos, castas, credos e dos especialmente eleitos. É porque durante tantos anos; durante tantos séculos, durante tantas idades, a Verdade tem sido limitada e "reduzida", que novamente desejais limitá-la, e com efeito já o estais fazendo, quando perguntais "A Verdade destina-se às massas ou a poucos escolhidos?". Dizeis que as massas não compreendem; que lhes é dificílimo aprender; que somente uns poucos são capazes de alçar-se às alturas. Julgais que eu não possuo tanta afeição e tanto amor como qualquer de vós? Mas, porque já subi todos os vossos degraus, eu vos digo: Não subais esses degraus, mas evitai-os, deixai-os de lado e reuni as vossas forças para a ascensão.

(...) Uni-vos com a vida, e vos unireis com todas as coisas. (...) Se estais enamorado da Vida, então vós vos unireis com a Vida, quer a chameis Buda ou Cristo, quer lhe deis outro nome qualquer. Como podereis unir-vos com a Vida? Não o podereis, certamente, se criardes complicações, porem o podereis se criardes o ardente desejo da Verdade, o qual destrói todas as complicações. Mas dizeis: "Como poderei ficar enamorado da Vida?" Pela experiência. "Como poderei colher experiência?" Aceitando a experiência. "Como poderei aceitá-la?" - Não vos separeis da Vida. Vedes ao redor de vós tristezas e sofrimentos sem fim e, se vos limitardes a ver, sem observar, não haverá confortamento do coração nem purificação da mente.

(...) Se citais a mim, ao lado de todas as outras autoridades a que vos submeteis, perdereis a água preciosa que eu vos trago. (...) Não obedeçais. Porque vos sujeitardes a outros indivíduos? Porque estais prontos a aceitar, vós criais a autoridade e essa é a raiz venenosa, essa é a semente que vos cumpre destruir. Desejais adquirir o conforto pela obediência. (...) O desejo de obedecer é inato em cada um de vós e é esta a razão por que criastes essas organizações. O que me interessa é a purificação do vosso desejo e não o estabelecimento de uma autoridade. Desejo é vida, e se fortalecerdes esse desejo, se purificardes esse desejo, se o enobrecerdes, se lhe derdes vitalidade, lhe derdes o êxtase da demanda de um alvo, quebrareis então todas essas coisas pequeninas que vos barram o caminho. Não fui sempre instado pelos meus amigos a seguir esta ou aquela coisa? Não me disseram eles, sempre: "Cuidado com o que fazeis, com o que dizeis! - Tomai cuidado de vossa posição. - Deveis dizer isso e não deveis dizer aquilo. "A paciência é um dom divino! - Tivesse eu obedecido a qualquer deles, jamais teria encontrado aquela felicidade eterna e absoluta. Porque pus em dúvida justamente as coisas que eles sustentavam, porque nunca aceitei prontamente coisa alguma que me fosse apresentada, eu encontrei aquele Reino que é eterno e imutável; eu preenchi a Vida. E desejo dizê-lo a vós: Fazei o mesmo; mas não o façais porque eu o digo, porém porque vós também desejais entrar nesse Reino, vós também desejais encontrar aquela paz absoluta, aquela libertação que é o ápice de toda a experiência, aquela Verdade que não é criação de pessoa alguma, de nenhuma organização, de nenhuma igreja.

(...) Vós não estais interessados na Verdade; estais interessados no vaso que contém a Verdade. Não desejais beber da água, mas desejais saber quem foi que modelou o vaso em que está contida a água. (...) Lançai fora o rótulo, que nenhum valor tem. Bebei a água, se ela é pura. 

Krishnamurti em Erde, Ommen, Holanda, Agosto de 1928

A coragem de não interferir

Se você é um pai, você vai precisar de muita coragem - para não interferir. Abra as portas da direções desconhecidas para a criança, assim ela pode explorá-las.

Ela não sabe o que há dentro dela, ninguém sabe.

Ela tem que tatear no escuro. Não deixe-a com medo da escuridão, não deixe-a com medo do fracasso, não deixe-a com medo do desconhecido. Dê-lhe apoio.

Quando ela estiver indo em uma viagem desconhecida, envie-a com todo o seu apoio, com todo o seu amor, com todas as suas bênçãos.

Não deixe que ela seja afetada por seus medos.

Você pode ter medos, mas mantenha-os para si mesmo. Não descarregue esses temores sobre a criança, porque isso será interferir.

Osho, em "From Darkness to Light"

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Aquele que ama um, nada ama

Já somos livres: só é preciso acordar!

Observando o processo de sabotagem mental

A sufocante existência nos limites do intelecto


Vício em Pornografia - O buraco é mais em cima

A Obsolescência Programada

Desative a legenda do Youtube

Obsolescência programada é o nome dado à vida curta de um bem ou produto projetado de forma que sua durabilidade ou funcionamento se dê apenas por um período reduzido.

A obsolescência programada faz parte de um fenômeno industrial e mercadológico surgido nos países capitalistas nas décadas de 1930 e 1940 conhecido como "descartalização".

"quando os produtos eram feitos para durar. Então, no início da década de 1920, um grupo de empresários constataram o seguinte: "Um produto que se recusa a se desgastar é uma tragédia para o negócio" (1928).

Assim nasceu a "Obsolescência Programada". Pouco depois, foi criado o primeiro cartel do mundo especificamente para reduzir a vida útil das lâmpadas incandescentes, um símbolo de inovação e de novas ideias brilhantes, e a primeira vítima oficial da obsolescência planeada.

Durante a década de 1950, com o nascimento da sociedade de consumo, o conceito adquiriu um significado completamente novo, como explica o designer flamboyant Brooks Stevens:

"obsolescência planejada, o desejo de possuir alguma coisa um pouco mais recente, um pouco melhor, um pouco mais cedo do que necessário...".

Ninguém quer expor a ausência do sentir

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Pode o pensamento, estabelecer corretos relacionamentos?

Como já observamos, a sociedade está nos fazendo, e nós estamos ficando cada vez mais mecânicos, superficiais, insensíveis, indiferentes. Uma horrível matança está ocorrendo no Extremo Oriente e nos mantemos relativamente despreocupados  Alcançamos grande prosperidade, mas essa prosperidade está nos destruindo, porque estamos nos tornando indiferentes e indolentes, porque nos mecanizamos, perdendo a estreita relação com todos os homens e todos os entes vivos; e parece-me importantíssimo fazermos esta pergunta: Que é relação — se de fato alguma relação existe — e que lugar compete, nessa relação, ao amor, ao pensamento e ao prazer?

(...) Consideremos esta questão da relação, questão realmente importantíssima, porque viver é estar em relação; e, considerando-a, indaguemos o que significa viver. Que é nossa vida, que exige relações profunda, seja com a esposa, o marido, os filhos, a família, seja com a comunidade ou outra entidade qualquer? Ao tratarmos desta questão, não podemos considerá-la fragmentariamente, porque, se tomamos uma única seção, uma única parte da totalidade da existência e procuramos resolver só essa parte, a questão não fica de modo nenhum resolvida. (...)Assim, pergunto se podemos, pelo menos por esta tarde (e espero por todo o resto de nossa vida) observar a vida sem estarmos fragmentados — como católicos, protestantes, especialistas do Zen, ou seguidores de determinado guru, determinado Mestre, coisa absurda e pueril. Temos um problema imenso, que é o de compreender a existência, de aprender a viver. E, como dissemos  viver é relação, não há viver se não estamos em relação. E, como a maioria de nós não se acha em relação, no sentido mais profundo da palavra, tentamos identificar-nos com alguma coisa — com a nação, com um dado sistema ou filosofia, ou certo dogma ou crença. É isto que se observa no mundo: a identificação de cada indivíduo com alguma coisa — com a família ou com sua própria pessoa — e eu não sei o que significa "identificar-se consigo mesmo".

Esta existência fragmentária, separativa, leva inevitavelmente a várias formas de violência. Assim, se pudéssemos dispensar atenção ao problema das relações, teríamos talvez a possibilidade de resolver as iniquidades sociais, as injustiças, a imoralidade e aquela coisa terrífica chamada "respeitabilidade", que o homem sempre cultivou. "Ser respeitável" é ser moral em conformidade com uma coisa verdadeiramente imoral. Em tais condições, há alguma espécie de relação? Relação significa estar em contato  profundamente, fundamentalmente, com a natureza, com outro ente humano — estar em relação, não de sangue, como membro de uma família, ou como marido e mulher, pois isso dificilmente pode chamar-se "estar em relação". Para compreender a natureza desta questão, temos de considerar outro ponto, ou seja o mecanismo da formação de imagens, da criação de uma ideia, de um símbolo. Quase todos nós temos imagens acerca de nós mesmos e a imagem de outrem; temos tais imagens, nas relações. Tendes vossa imagem do orador, e o orador, como não vos conhece, não tem imagem nenhuma de vós. Mas, quando conhecemos uma pessoa intimamente, dela já formamos uma imagem; a própria intimidade implica a imagem que tendes da pessoa — a esposa tem uma imagem do marido, e este tem uma imagem dela. E há a imagem da sociedade, e as imagens que temos acerca de Deus, da verdade, de tudo.

Como se origina essa imagem? E, se ela existe — e ela existe, pode-se dizer, em todas as pessoas — como é então possível haver qualquer relação real? Relação significa estar profundamente em contato um com outro. Dessa relação pode nascer a cooperação, o trabalhar juntos, fazer coisas juntos. Mas, se há alguma imagem — eu com uma imagem de vós, e vós com uma imagem de mim — que relação pode haver, a não ser a relação de uma ideia, de um símbolo, de uma certa memória, que se torna a imagem? Estão essas imagens em relação, e é nisso que consistem as relações? Pode haver amor, no verdadeiro sentido desta palavra (não em conformidade com os sacerdotes  ou em conformidade com os teólogos, ou em conformidade com os comunistas ou esta ou aquela pessoa), pode haver efetivamente esse sentimento de amor quando as relações são puramente conceituais, entre imagens, e não relações reais? Só pode haver relação entre os entes humanos quando aceitamos o que é, e não o que deveria ser. Estamos sempre vivendo no mundo das fórmulas, dos conceitos, que são imagens do pensamento. Pode, pois, o pensamento, o intelecto, estabelecer relações corretas  Pode a mente, o cérebro, com todos os seus instrumentos de autoproteção, formados através de milhões de anos — pode esse cérebro, que é inteiramente reação da memória e do pensamento  estabelecer relações corretas entre os seres humanos? Que lugar compete à imagem, ao pensamento, nas relações? Há realmente lugar para eles?

(...)Ora, que são relações? Temos, de fato, alguma espécie de relação? Vivemos tão fechados, tão absorvidos em proteger-nos, que nossas relações se tornaram apenas superficiais, sensuais, aprazíveis. Se nos examinarmos em silêncio (não de acordo com Freud ou Jung ou outro especialista), se observarmos a nós mesmos tais como realmente somos, talvez possamos descobrir o quanto estamos a isolar-nos todos os dias, a erguer em torno de nós muralhas de defesa, de medo. Olhar a nós mesmos é mais importante e de maior necessidade do que nos observarmos de acordo com um especialista. Se vos olhais de acordo com Jung ou Freud, ou Buda, ou outrem, estais a olhar-vos com olhos alheios. Isso estamos sempre fazendo; para olhar, já não dispomos de nossos próprios olhos, e eis porque estamos perdendo a beleza que há em olhar.

Pois bem; quando vos olhais diretamente, não descobris que vossas atividades diárias (vossos pensamentos, vossas ambições  vossa agressividade, vossa constante ânsia de ser amado e de amar, a constante tortura do medo, a agonia do isolamento), não descobris que essas coisas são fortemente separativas e causadoras de profundo isolamento? E, nesse profundo isolamento, que relação podeis ter com outro, com esse outro que também se isola com sua ambição, sua avidez, sua avareza, sua ânsia de domínio, de posse, de poder, etc.? Eis, pois, duas entidades chamadas entes humanos a viverem em seu próprio isolamento, a gerarem filhos, etc., mas sempre no isolamento. E a cooperação entre essas duas entidades isoladas torna-se mecânica; alguma cooperação, entretanto, é necessária entre eles, para que possam viver, ter família, trabalhar num escritório ou numa fábrica mas eles permanecem sempre entidades isoladas, com suas crenças e dogmas, suas nacionalidades — bem conheceis todas as coisas de que o homem se cerca para isolar-se dos demais  O isolamento, portanto, é, essencialmente, o fator do estado de "não relação". E nas pseudo-relações desse isolamento, o prazer se torna da máxima importância.

Pode-se ver como, em todo o mundo, o prazer se está tornando cada vez mais exigente, mais insistente, porque todo prazer — se o observais atentamente — é um processo de isolamento; e esta questão do prazer precisa ser examinada no contexto das relações. O prazer é produto do pensamento, não? Houve prazer numa coisa que ontem experimentastes, na beleza ou na percepção sensitiva, ou no excitamento dos sentidos ou do sexo. Pensais nessas coisas, formais uma imagem daquele prazer ontem experimentado  Eis como o pensamento sustenta e dá nutrição à coisa que ontem chamastes deleitável. E, assim, o pensamento exige, hoje, a continuação daquele prazer. Quanto mais pensais na experiência que tivestes e que por um momento vos deleitou, tanto mais o pensamento lhe dá continuidade, na forma de prazer e de desejo. E que relação tem isso com a questão fundamental da existência humana: Como estamos relacionados? Se nossa relação é produto do prazer sexual, ou do prazer derivado da família, da propriedade, do domínio, do controle, do medo de nos vermos desprotegidos, privados de segurança interior e, por conseguinte, sempre a buscar o prazer — então que lugar compete ao prazer nas relações? A exigência de prazer destrói todas as relações, sejam sexuais, sejam de outra espécie. E, se bem observarmos, veremos que todos os nossos chamados "valores morais" baseiam-se no prazer, embora o disfarcemos com a "virtuosa" moralidade de nossa respeitável sociedade.

Assim, quando nos interrogamos, quando olhamos fundo em nós mesmos, percebemos essa atividade de auto-isolamento, esse "eu", esse "ego", a erguer defesas em torno de si, e essas próprias defesas são o "eu". Este "eu" é isolamento, é ele que produz fragmentos, que produz o "olhar" que se fragmenta em pensador e pensamento. Assim, que lugar compete ao prazer, que é produto de uma lembrança sustentada e nutrida pelo pensamento — o pensamento que é sempre velho, e nunca livre? Que tem a ver esse pensamento, que concentrou sua existência no prazer, com as relações? Fazei a vós mesmos esta pergunta, não vos limiteis a ouvir as palavras deste orador — que amanhã já não estará aqui. Vós tendes de viver vossa própria vida e por conseguinte, o orador é inteiramente sem importância. O importante é fazerdes a vós mesmos estas perguntas, e, para fazê-las, deveis ser ardorosos, estar inteiramente dedicados à investigação. Porque só ao manifestardes esse ardor, essa determinação, estais vivendo, só quando sois profundamente aplicados, a vida desabrocha, tem significado, tem beleza. Deveis interrogar-vos: É ou não é um fato que estamos vivendo na dependência de uma imagem, de uma fórmula, de um fragmento que nos está isolando? Não foi por causa desse isolamento que o medo, com sua dor e prazer (produtos do pensamento), se tornou existente? Tenta então aquela imagem identificar-se com algo que seja permanente  com Deus, com a verdade, com a nação, a bandeira, etc.

Assim, se o pensamento é velho (e ele é sempre velho e, por conseguinte, nunca é livre), como pode ele compreender as relações? As relações estão sempre no presente, no presente vivo (não no passado morto, da memória, das lembranças, do prazer e da dor), as relações estão ativas agora; "estar em relação" significa justamente isso. Ao olhardes para outra pessoa com olhos cheios de afeição, de amor, estabelece-se uma relação imediata (...) Mas, se o pensamento se intromete, então essa relação se converte em imagem. Assim, pergunta-se: Que é o amor? O amor é prazer? O amor é desejo? É o amor a lembrança de uma multiplicidade de coisas que formastes e conservastes — a respeito de vossa esposa, de vosso marido, de vosso próximo, da sociedade  da comunidade, de vosso Deus? Pode-se chamar a isso amor?

Se o amor é produto do pensamento (como de fato é, na maioria dos casos), então esse amor está fechado entre cercas, emaranhado na rede do ciúme, da inveja, do desejo de dominar, de possuir e ser possuído, da ânsia de ser amado e de amar. Pode, então, haver amor a um e amor a todos? Se amo um, destruo o amor para com outros? E como, para a maioria de nós, o amor é prazer, companhia, conforto, segregação na família e o sentimento de segurança que nela se encontra — existe, aí, realmente amor? Pode um homem que está acorrentado à família amar o seu próximo? Podeis discorrer teoricamente acerca do amor, ir à igreja para amar a Deus (o que quer que isso signifique) e, no dia seguinte, ir para o trabalho e destruir o vosso próximo — porque estais em competição com ele, ambicionando o seu cargo, as suas posses, e desejando melhorar a vós mesmos, comparando-vos com ele. Assim, quando, dentro em vós existe essa atividade, da manhã à noite, e mesmo durante o sono, em sonhos, podeis estar em relação? Ou relação é coisa de todo diferente?

Só pode haver relação quando há total abandono do "eu", do "ego". Quando não existe "eu", estais então em relação; nesta, não há separação de espécie alguma. Provavelmente, nunca experimentamos esse estado de total negação (não intelectual, porém real), de total cessação do "eu". E talvez seja esse estado que a maioria de nós está buscando, sexualmente ou pela identificação com uma coisa superior. Todavia, esse processo de identificação com uma coisa superior deriva do pensamento; e o pensamento é sempre velho (como o "eu", o "ego", ele pertence ao passado). Apresenta-se, assim, a questão: Como é possível abandonar de todo esse processo isolante, esse processo que se centraliza no "eu"? Como é possível isso? (...)Como pode o "eu", cujas atividades diárias são motivadas pelo medo, pela ansiedade, pelo desespero, a tristeza, a confusão e a esperança — como pode esse "eu" que se separa de outro pela identificação com Deus, com seu condicionamento, sua sociedade, suas atividades morais e sociais, com o Estado — morrer, desaparecer, para que o ente humano possa estar em relação? Porque, se não estamos em relação, iremos viver em guerra uns com os outros. Poderá não haver matança mútua, porque isso se está tornando muito perigoso, a não ser, talvez, em terras muito longínquas. Como podemos viver de modo que não haja separação, de modo que possamos cooperar realmente?

Há tanta coisa por fazer neste mundo — acabar com a pobreza, viver com felicidade, viver deleitosamente em vez de viver na agonia e no medo, edificar uma sociedade de espécie completamente diferente, com uma moralidade superior. Isso, porém, só se tornará possível quando a moralidade da atual sociedade for totalmente negada. Há tanto que fazer, e que não poderá ser feito enquanto estiver em funcionamento o processo de isolamento  Falamos do "eu", do "meu", e do "outro"; "o outro" está do outro lado do muro, e o "eu" e o "meu" deste lado. Como pode, pois, essa essência da resistência, que é o "eu" ser totalmente abandonada? Porque esta é realmente a questão mais importante, em todas as relações — já que percebemos que a relação entre imagens não é relação nenhuma e que, quando existe tal qualidade de relação, há necessariamente conflito e estamos sempre em guerra uns com os outros.

(...)Não sei se já vistes o que significa ter uma mente totalmente vazia. Vós tendes vivido num espaço criado pelo "eu" (um espaço limitadíssimo). O espaço que o "eu" (o processo de isolamento) criou entre uma pessoa e outra, é esse o único espaço que conhecemos, o espaço entre ele próprio e a circunferência (a fronteira que o pensamento criou). Nesse espaço é que vivemos; nele há divisão. Dizeis: "Se abandono a mim mesmo, ou se abandono o centro que é o "eu", ficarei vivendo num vácuo." Mas, já alguma vez abandonastes o "eu", de fato, realmente  de modo que dele não tenha ficado nenhum resquício? Já vivestes neste mundo nesse estado de espírito — no vosso trabalho  com vossa esposa ou marido? Se alguma vez já vivestes assim, deveis saber que há um estado de relação em que o "eu" não existe, um estado que não é utópico, que não é coisa sonhada ou experiência mística, irracional, porém um estado possível: viver numa dimensão em que todos os entes humanos estejam relacionados.

Mas essa possibilidade só existe se compreendemos o que é o amor. E, para existirmos, para vivermos nesse estado, temos de compreender o prazer (sustentado pelo pensamento) e todo o seu mecanismo. Então, se poderá ver instantaneamente todo o complicado mecanismo que construímos para nós mesmos e em redor de nós. Não há necessidade de percorrermos todo o processo analítico, ponto por ponto. Toda análise é fragmentária e, por essa porta, não virá resposta nenhuma.

Existe este imenso e complexo problema da existência, com seus temores, ansiedades, esperanças, passageira felicidade e alegrias, mas a análise não pode resolvê-lo. O que o resolverá é abarcá-lo, no seu todo, num rápido lance de olhos. Só podemos compreender uma coisa quando a olhamos (não com o olhar prolongado  exercitado, do artista, do cientista ou do homem que se exercitou para "olhar"), só podemos compreender uma coisa quando a olhamos com toda a atenção, quando a vemos, em seu conjunto, num relance de olhos. E, assim, vos sentireis livres. Estareis então fora do tempo. O tempo se deterá e, por conseguinte, terá fim o sofrer. O homem entregue à amargura ou ao medo não está em relação. Como pode um homem ambicioso de poder estar em relação? Ele poderá ter família, dormir com sua mulher, mas não está em relação. Quem compete com outro não está em nenhuma relação. E toda a nossa estrutura social, com sua moralidade, se baseia na competição. Achar-se em relação, fundamental e essencialmente, significa a cessação do “eu”, gerador de separação e do sofrimento.

Krishnamurti — 25 de abril de 1968 – Onde está a Bem-aventurança

Do percebimento de si mesmo, à realidade criadora

O homem é um anfíbio que vive simultaneamente em dois mundos — o mundo da realidade e o mundo por ele próprio fabricado — o mundo da matéria, da vida e da consciência, e o mundo dos símbolos. Quando pensamos, fazemos uso de grande variedade de sistemas de símbolos: linguísticos, matemáticos, pictóricos, musicais, ritualísticos. Sem esses sistemas de símbolos, não teríamos arte, nem ciência, nem lei, nem filosofia, nem sequer os rudimentos da civilização; em outras palavras, seríamos animais.

Os símbolos, portanto, são indispensáveis. Como demonstra, porém, farta e claramente a história de nossa época e de todas as outras épocas, os símbolos também podem ser fatais. Considere-se, por exemplo, de um lado o domínio da ciência, e do outro o domínio da política e da religião. Pensando de acordo com um conjunto de símbolos e agindo em reação a ele, chegamos a compreender e a governar, em escala modesta, as forças elementares da natureza. Pensando de acordo com outro conjunto de símbolos e agindo em reação ao mesmo, utilizamos essas forças como instrumentos de massacre e de suicídio coletivo. No primeiro caso, os símbolos interpretativos foram bem selecionados, submetidos a cuidadosa análise e adaptados progressivamente aos fatos emergentes da existência física. No segundo caso, os símbolos, originariamente mal escolhidos, nunca foram submetidos a uma análise completa e nunca reformulados para se harmonizarem com os fatos emergentes da existência humana. Pior do que isso, esses símbolos enganosos foram sempre tratados em toda parte com respeito totalmente injustificável, como se, por alguma razão misteriosa, fossem mais reais do que as realidades a que se referiam. Nos contextos da religião e da política, as palavras não são consideradas como representações, mais ou menos inadequadas, de coisas e fatos; ao contrário, coisas e fatos são considerados como ilustrações específicas de palavras.

Até agora, os símbolos só têm sido usados realisticamente nas esferas de atividade que não nos parecem de suma importância. Em todas as situações em que são atingidos nossos impulsos mais profundos, estamos habituados a empregar os símbolos, não só irrealisticamente, mas até de modo idolátrico e insano. Como resultado, temos sido capazes de cometer, a sangue-frio e por largos períodos de tempo, atos de que os irracionais só são capazes no paroxismo do furor, do desejo ou do medo. Porque empregam e adoram símbolos, tendem os homens a tornar-se idealistas e, como idealistas, a transformar a intermitente avidez do animal no espetacular imperialismo de um Rhodes ou de um J. P. Morgan; a intermitente ferocidade do animal, no Estalinismo ou na Inquisição espanhola; o intermitente apego do animal aos seus domínios, nos frenesis planejados do nacionalismo. Por felicidade, são também capazes de transformar a intermitente ternura do animal, na caridade incansável de toda a vida de uma Elizabeth Fry ou um Vicen­te de Paula; a intermitente dedicação do animal a seu companheiro e seus filhotes, naquela cooperação racional e persistente que até hoje se tem provado forte bastante para salvar o mundo das consequências desastrosas da outra espécie de idealismo. Conservará ela o poder de salvar o mundo? Esta pergunta não pode ser respondida. Só se pode dizer que, com os idealistas do nacionalismo na posse da bomba atômica, as probabilidades em favor dos idealistas da cooperação e da caridade têm declinado consideravelmente.

Nem o melhor livro de cozinha pode substituir o pior dos jantares. O fato parece óbvio. E, entretanto, temos visto, através das idades, os filósofos mais profundos, os meus eruditos e penetrantes teólogos incidirem constantemente no erro de identificarem com os fatos suas construções puramente verbais, ou no erro mais atroz ainda, de imaginarem os símbolos mais reais do que as coisas que representam. Esse endeusamento da palavra, não passou sem protesto. "Só o espírito", diz São Paulo, "dá vida; a letra matai'. "E por que", pergunta Eckhart, "por que tagarelais tanto a respeito de Deus? Tudo o que dizeis de Deus é falso". Na outra extremidade do mundo, o autor de um dos Mahayana-Sutras afirmava que a verdade "nunca foi pregada por Buda, porque temos de descobri-la dentro de nós mesmos". Tais asserções foram consideradas profundamente subversivas e desdenhadas pela gente respeitável. Essa estranha e idolátrica exageração do valor das palavras e dos emblemas perdurou irrefreada. Declinaram as religiões, mas o velho hábito de formular credos e de impor a crença em dogmas tem subsistido até entre os ateístas.

Nos últimos anos, lógicos e semânticos procederam a uma análise muito meticulosa dos símbolos em função dos quais os homens desenvolvem o pensamento. A linguística tornou-se uma ciência e hoje se pode até estudar a matéria a que o falecido Benjamin Whorf deu o nome de metalinguística. Tudo isso constitui notável contribuição, mas não basta. A lógica e a semântica, a linguística e metalinguística são puras disciplinas intelectuais. Analisam as várias maneiras, corretas e incorretas, significativas e não significativas, em que as palavras podem ser relacionadas com coisas, processos e fatos. Mas nenhuma orientação oferecem em referência ao problema mais fundamental das relações do homem na sua totalidade psicofísica, de um lado, e com seus dois mundos, o dos fatos e o dos símbolos, de outro lado.

Em todos os países e em todos os períodos da História, o problema tem sido resolvido repetidas vezes por homens e mulheres, individualmente. Mesmo falando ou escrevendo, esses indivíduos jamais criaram sistemas, porque sabiam que todo sistema representa uma tentação constante a encarar os símbolos com excesso de seriedade, a dar mais atenção às palavras do que às realidades que supostamente representam. Nunca foi seu alvo oferecer explicações e panaceias para uso geral, e sim induzir as pessoas a diagnosticarem e a curarem seus próprios males, levá-las ao ponto em que o problema humano e sua solução se apresentam diretamente à experiência.

Neste volume de seleções dos escritos e das palestras registradas de Krishnamurti, encontrará o leitor uma exposição clara e atual do básico problema humano, juntamente com um convite a resolvê-lo pela única maneira em que pode ser resolvido: pelo próprio indivíduo e em seu próprio benefício. As soluções coletivas, a que muitos se apegam com tanta fé, nunca são adequadas. "Para se compreender a miséria e a confusão existentes em nós mesmos e, portanto  no mundo, temos de encontrar dentro de nós mesmos a clareza que nasce do Pensar correto. Tal clareza não se presta à organização  pois não podemos permutá-la entre nós. O pensamento de grupo organizado é puramente maquinai. A clareza não é resultado de asserção verbal, mas de intenso autopercebimento e correto pensar. O pensamento correto não é produto ou mero cultivo do intelecto, nem é, tampouco, conforme a padrão algum, por mais digno e nobre que este seja. Ele vem com o autoconhecimento. Se não vos compreenderdes, não tereis base para pensar; sem autoconhecimento, o que pensais não ê verdadeiro."

Este tema fundamental é desenvolvido por Krishnamurti em passagens sucessivas. "Pode-se ter esperança nos homens, mas não na sociedade nem em sistemas religiosos organizados: só em vós e em mim." As religiões organizadas, com seus intermediários, seus livros sagrados, seus dogmas, hierarquias e rituais, só podem oferecer uma solução falsa para o problema básico. "Quando citais o Bagavad-Gita, ou a Bíblia, ou algum livro sagrado chinês, é bem certo que só estais repetindo, não é? E o que estais repetindo não é a verdade. É mentira, porque a verdade não pode ser repetida." A mentira pode ser ampliada, aventada, repetida, mas a verdade não. Quando se repete a verdade, ela deixa de ser verdade, e por esse motivo os livros sagrados não têm importância, é pelo autoconhecimento, e não pela crença nos símbolos de outra pessoa, que o homem alcança a realidade eterna, na qual se alicerça seu próprio ser. A crença na perfeita eficácia e no valor superlativo de qualquer sistema de símbolos não leva à libertação, e sim à repetição da História, aos mesmos desastres passados. "A crença separa, inevitavelmente. Se tendes uma crença, ou se buscais segurança em vossa crença particular, acabais separado daqueles que buscam a segurança noutra forma de crença. Todas as crenças organizadas baseiam-se na separação, ainda que preguem a fraternidade." O homem que resolveu satisfatoriamente o problema de suas relações com os dois mundos, o dos fatos e o dos símbolos, é um homem sem crenças. Em relação aos problemas da vida prática, ele se serve de uma série de hipóteses operacionais, que correspondem aos seus fins, mas não são levadas mais a sério do que qualquer outra espécie de utensílio ou instrumento. Em relação aos seus semelhantes e à realidade em que se radicam, tem ele as experiências diretas do amor e da intuição. Foi para proteger-se das crenças que Krishna­murti nunca "leu literatura sagrada, nem o Bagavad-Gita nem os Upanichades". Nós outros não lemos sequer livros sagrados; lemos nossos jornais e revistas favoritos e novelas policiais. Isto é: não queremos resolver a crise do nosso tempo com o amor e a intuição, porém com fórmulas, com sistemas —e fórmulas e sistemas bastante precários, por sinal. Mas “os homens de boa vontade não devem ter fórmulas, porque as fórmulas, inevitavelmente, só levam a um pensar cego”. É quase universal a submissão às fórmulas, o que é inevitável, "pois nosso sistema de educação está baseado em o que pensar, e não em como pensar". Crescemos como membros crentes e militantes de alguma organização — como comunistas, cristãos, muçulmanos, hinduístas, budistas, ou discípulos de Freud. Conse­quentemente, "vós reagis ao desafio, que é sempre novo, de acordo com um velho padrão e por esse motivo vossa reação não tem a correspondente eficácia, originalidade, frescor. Se reagis como ca­tólico ou comunista, estais reagindo, não é verdade? — em confor­midade com um pensamento padronizado. Vossa reação, por con­seguinte, não tem significado. E não foi o hinduísta, o muçulmano, o budista quem criou este problema? Assim como a nova religião é a idolatria do Estado, a velha era a idolatria de uma ideia". Se reagis a um desafio de acordo com o velho condicionamento, vossa reação não vos habilitará a compreender o desafio novo. Por conse­quência, "o que é preciso fazer, para enfrentar o novo desafio, é despojar-se completamente, desnudar-se de todos os conhecimentos e experiências, para enfrentar o desafio de maneira nova”. Em outras palavras: os símbolos nunca deveriam ser elevados à categoria de dogmas, e nenhum sistema ser considerado como mais do que um recurso provisório. A crença nas fórmulas e a ação conforme com tais crenças, não nos podem levar à solução do nosso problema. "Só pela compreensão criadora de nós mesmos, existirá um mundo criador, um mundo feliz, um mundo sem ideias." O mundo em que não existissem ideias seria um mundo feliz, porque seria um mundo livre das poderosas forças condicionadoras que impelem os homens a empreenderem ações impróprias; um mundo livre dos dogmas consagrados, com que se justificam os piores crimes e se racionalizam com perfeição consumada as maiores loucuras.

A educação que não nos ensina a pensar, mas só o que pensar, é uma educação que requer uma classe governante de pastores e senhores. Mas "a ideia de guiar alguém é antissocial e antiespiritual". Ao homem que a exerce, a liderança traz a satisfação do seu desejo de poder e aos que são guiados, a satisfação do desejo de certeza e de segurança. O guru fornece uma espécie de ópio. Mas, perguntar-se-á: "E que estais vós fazendo? Não estais atuan­do como nosso guru?" — "Ora”, responde Krishnamurti, "eu não estou procedendo como vosso guru, porque, antes de tudo não vos estou proporcionando nenhuma satisfação. Não vos estou pres­crevendo o que deveis fazer, de momento em momento ou de dia em dia mas só vos estou mostrando uma coisa; podeis levá-la ou deixá-la aqui, e isso depende de vós e não de mim. Não vos peço coisa alguma, nem vossa veneração, nem vossa lisonja, nem vossos insultos, nem vossos deuses. Eu digo: Aqui está o fato; levai-o ou deixai-o ficar. E a maioria de vós o deixará ficar, pela razão muito óbvia de nele não encontrardes satisfação".

Afinal, que nos oferece Krishnamurti? Que ê isso que pode­mos levar, se quisermos, mas que muito provavelmente preferiremos deixar? Não é, como já vimos, um sistema de crença, um catálogo de dogmas, um conjunto de ideais e noções para uso geral. Não é liderança, nem intercessão, nem orientação espiritual, nem exemplo sequer. Não é um ritual, uma igreja, um código, nem enaltecimento ou qualquer espécie de lengalenga inspirativa.

Será autodisciplina? Não, porque, na realidade, a autodisciplina não é a maneira de resolver nosso problema. Para encontrar a solução, deve a mente abrir-se à realidade, enfrentar a evidência dos mundos exterior e interior, sem preconceitos ou restrições. ("O culto de Deus é liberdade perfeita. Reciprocamente, a perfeita li­berdade é culto de Deus.") Tornando-se disciplinada, a mente não sofre modificação radical; é o mesmo "eu", porém atado, mantido sob controle.

A autodisciplina acrescenta-se à lista das coisas que Krishna­murti não oferece. Será a oração, o que ele oferece? Mais uma vez, a resposta tem de ser negativa. "A oração poderá trazer-nos a resposta que desejamos; mas essa resposta pode proceder do nosso inconsciente, ou do reservatório geral, do depósito de todos os nossos desejos. A resposta não é a voz silenciosa de Deus." "Considerai", continua Krishnamurti, "o que acontece quando rezais. Pela constante repetição de certas frases e pelo controle dos vossos pensa­mentos, a mente se torna tranquila, não é exato? Pelo menos a mente consciente se torna tranquila. Ou vos ajoelhais, como os cristãos, ou vos sentais como os hinduístas, e ficais repetindo, repe­tindo, e em virtude dessa repetição a mente se torna tranquila. Nessa tranquilidade, recebe-se uma comunicação. Essa comunicação, que rezamos para receber, pode proceder do inconsciente, ou pode ser a reação de nossas memórias. Mas, por certo, não é a voz da realidade, porque a voz da realidade tem de vir a vós; não lhe podemos dirigir invocações e preces. Não podemos atraí-la para nossa estreita gaiola, pela prática de puja, de bhajan, por meie de propiciações, da repressão, da emulação. Uma vez aprendido o artificio de quietar a mente, pela repetição de palavras, e, nesse estado de tranquilidade, receber sugestões, existe o perigo — a menos que estejamos plenamente vigilantes, para vermos de onde procedem essas sugestões — de ficarmos presos nessa armadilha, tornando-se a oração um substituto para a busca da verdade. O que pedis, obtereis; mas não é a verdade. Se desejais, e pedis, rece­bereis, mas tereis de pagar seu preço, no fim."

Passando da oração à Ioga, vemos que ela é outra das coisas que Krishnamurti não oferece. Porque Ioga é concentração, e con­centração é exclusão. "Construís uma muralha de resistência pela concentração num pensamento que escolhestes, e procurais repelir todos os outros pensamentos." O que em geral se chama meditação é mero "cultivo da resistência, da concentração exclusiva numa ideia de vossa escolha". Mas, o que vos faz escolher? "O que vos faz dizer que uma coisa ê boa, verdadeira, nobre, e o resto não?" — A escolha, evidentemente, baseia-se no prazer, recompensa, ou preen­chimento; ou é apenas uma reação do nosso condicionamento ou tradição. Por que escolhemos? Por que não examinamos cada pen­samento? Quando muitas coisas nos interessam, por que escolhe­mos uma só? Por que não examinamos cada interesse? Por que não deixamos de criar resistência, examinando cada interesse que surge, em vez de nos concentrarmos numa só ideia, num interesse único? Afinal, somos constituídos de muitos interesses, temos muitas másca­ras, consciente ou inconscientemente. Por que escolhemos um único interesse, rejeitando todos os outros e consumindo todas as nossas energias no combatê-los, criando assim resistência, conflito e atrito? Se, ao contrário, consideramos cada pensamento que se manifesta — cada pensamento e não só uns poucos pensamentos — não haverá exclusão. É muito difícil, porém, examinar cada pensamento. Porque, enquanto o consideramos, um outro pensamento se insinua. Mas, se estivermos cônscios, sem esforço para dominar ou justificar, veremos que, pelo simples observar daquele pensamento, não há intrusão de nenhum outro. Só quando condenamos, comparamos, cotejamos, se insinuam outros pensamentos.

"Não julgueis, para que não sejais julgado." Este preceito evangélico não se aplica menos a nossos atos relativos a nós mesmos do que a nossos atos relativos aos outros. Onde há julgamento, cotejo e condenação, falta receptividade mental e nem pode haver libertação da tirania dos símbolos e dos sistemas, nem é possível a fuga ao passado e ao ambiente. A introspecção com um propósito predeterminado, o autoexame segundo o padrão de algum código tradicional, algum sistema de postulados consagrados, nada disso pode ajudar-nos. Há uma transcendental espontaneidade da vida, uma "Realidade Criadora", como a chama Krishnamurti, a qual só se revela como imanente quando a mente do observador está em estado de "vigilante passividade", de "percebimento sem escolha”. O julgamento e a comparação nos condenam irrevogavelmente à dualidade. Só o “percebimento sem escolha” pode levar à não-dualidade, à conciliação dos opostos, numa total compreensão e num total amor. Ama et fac quod vis. Se amais, podeis fazer o que quiserdes. Mas se começais por fazer o que quereis ou o que não quereis, em obediência a algum tradicional sistema de noções, ideais e proibições, nunca chegareis a amar. O processo libertador deve começar com o "percebimento sem escolha" daquilo que desejais e das vossas reações ao sistema de símbolos que vos diz se deveis ou se não deveis querê-lo. Graças a esse "percebimento sem escolha”, ao penetrar ele as sucessivas camadas do "ego" e do seu aliado sub­consciente, virá o amor e a compreensão, mas de uma ordem dife­rente da que em geral conhecemos. Esse percebimento sem escolha — a cada momento e em todas as circunstancias da vida — é a única meditação eficaz. Todas as outras formas da Ioga condu­zem ao "pensamento cego" que resulta da autodisciplina, ou a uma certa espécie de transporte, provocado pela pessoa, uma determinada forma de falso samadhi. A verdadeira libertação é "uma liberdade interior da realidade criadora". "Ela não é um dom", tem de ser descoberta e experimentada. Não é uma aquisição que se acres­centará à pessoa, para sua glorificação. É um "estado de ser" si­lencioso, em que não há "vir a ser", onde há existência completa. Essa potência criadora pode não buscar, necessariamente, expressão; não é um talento que exige manifestação externa. Não é preciso ser grande artista ou ter muitos ouvintes; se buscais tais objetivos, deixareis de encontrar a realidade interior.

Ela não é nem um dom, nem produto do talento. Ele pode ser encontrado, esse tesouro imperecível, quando o pensamento se liberta da avidez, da malevolência e da ignorância, quando se liberta da mundanidade e da ânsia pessoal de ser. Pode ser experimentado pelo pensar correto e pela meditação correta. O percebimento de si mesmo, sem escolha, leva à realidade criadora, que se oculta debaixo de nossos destrutivos embustes; leva à tranquila sabedoria, sempre existente, apesar de nosso saber, que é apenas ignorância, sob outra forma. O saber é um conjunto de símbolos e, na maio­ria das vezes, um obstáculo à sabedoria, ao descobrimento do "eu", de momento em momento. A mente que alcançou a serenidade da sabedoria “conhecerá o ser, saberá o que é amar. O amor não é pessoal nem impessoal. Amor é amor, que não pode ser definido ou descrito pela mente como exclusivo ou inclusivo. O amor é sua própria eternidade; é o real, o supremo, o imensurável".

Aldous Huxley - Prefácio do Livro de Krishnamurti: A primeira e última Liberdade

Não há estabilidade social sem estabilidade individual


Aldous Huxley-Admirável Mundo Novo

“Será admirável o nosso novo mundo? A quem serve esta civilização que se diz moderna e funcional e, ao aparato das técnicas, sacrifica o espírito?... O espírito, considerado realidade menor, o espírito tolerado, quando não reprimido... Qual, o lugar do homem, numa sociedade dominada pela máquina? Qual, o caminho para o Indivíduo que reivindique a liberdade interior e o direito à sua... individualidade, à sua singularidade? Para o Indivíduo que queira caminhar pelos próprios pés? Aldous Huxley, um dos maiores escritores contemporâneos, descreve, em «Admirável Mundo Novo», com fantasia e ironia implacável, a sociedade futura totalitarista. Simplesmente, o universo que o grande romancista inglês ainda pertence, de certo modo, aos nossos dias. Quase já não pode considerar-se uma ameaça: tomou corpo. O que empresta à leitura desta obra uma força trágica invulgar. Mundo novo? Mundo intolerável? Mundo inabitável? Mundo de onde se deve fugir, de qualquer maneira? Ou, mundo a reconstruir - pedra por pedra? Com uma pureza reconquistada? Aldous Huxley deixa-lhe este montinho de problemas que o leitor poderá - se quiser e souber... - resolver...”

Prefácio de Aldous Huxley:

(…) O remorso crônico, e com isto todos os moralistas estão de acordo, é um sentimento bastante indesejável. Se considerais ter agido mal, arrependei-vos, corrigi os vossos erros na medida do possível e tentai conduzir-vos melhor na próxima vez. E não vos entregueis, sob nenhum pretexto, à meditação melancólica das vossas faltas. Rebolar no lodo não é, com certeza, a melhor maneira de alguém se lavar.

E eis porque este atual Admirável Mundo Novo é o mesmo que o antigo. Os seus defeitos, como obra de arte, são consideráveis; mas para os corrigir ser-me-ia necessário escrever novamente o livro, e durante esse novo trabalho de redação, ao qual me entregaria na qualidade de pessoa mais velha e diferente, destruiria provavelmente não apenas alguns defeitos do romance, mas também os méritos que ele poderia ter possuído na origem. Por esta razão, resistindo à tentação de me rebolar no remorso artístico, prefiro considerar que o ótimo é inimigo do bom e depois pensar noutra coisa.

Verifico, não menos tristemente que outrora, que a saúde do espírito é um fenômeno muito raro, estou convencido de que pode ser conseguida e gostaria de a ver mais espalhada.

Os benfeitores da humanidade merecem congruentemente a honra e a comemoração. Edifiquemos um panteão para os professores. Seria bom que ele ficasse situado entre as ruínas de uma das estripadas cidades da Europa ou do Japão. E no pórtico de entrada do ossário inscreveria eu, em letras com dois metros de altura, estas simples palavras:

À MEMÓRIA DOS EDUCADORES DO MUNDO
SI MONUMENTUM REQUIRIS CIRCUMSPICE

A revolução verdadeiramente revolucionária realizar-se-á não no mundo exterior, mas na alma e na carne dos seres humanos.

Admitindo, pois, que sejamos capazes de tirar de Hiroshima uma lição equivalente à que os nossos antepassados tiraram de Magdeburgo, podemos encarar um período não certamente de paz, mas de guerra limitada, que seja apenas parcialmente ruinosa. Durante esse período pode-se admitir que a energia nuclear seja aplicada a usos industriais. O resultado - e o facto é bastante evidente- será uma série de mudanças econômicas e sociais mais rápidas e mais completas que tudo que até agora foi visto. Todas as formas gerais existentes da vida humana serão quebradas e será necessário improvisar formas novas que se adaptem a esse facto não humano que é a energia atômica. Procusto moderno, o sábio de pesquisas nucleares prepara a cama em que a humanidade se deverá deitar; se a humanidade não se adaptar a ela, tanto pior para a humanidade. Será necessário proceder a algumas ampliações e a algumas amputações - o mesmo gênero de ampliações e amputações que se verificaram desde que a ciência aplicada se pôs realmente a caminhar com a sua própria cadência. Mas desta vez serão consideravelmente mais rigorosas que no passado. Estas operações, que estão longe de ser feitas sem dor, serão dirigidas por governos totalitários eminentemente centralizados. É uma coisa inevitável, pois o futuro imediato tem grandes probabilidades de se parecer com o passado imediato, e no passado imediato as mudanças tecnológicas rápidas, efetuando-se numa economia de produção em massa e entre uma população onde a grande maioria dos indivíduos nada possui, têm tido sempre a tendência para criar uma confusão econômica e social. A fim de reduzir essa confusão, o poder tem sido centralizado e o controle governamental aumentado. É provável que todos os governos do Mundo venham a ser mais ou menos totalitários, mesmo antes da utilização prática da energia atômica; que eles serão totalitários durante e após essa utilização prática, eis o que parece quase certo. Só um movimento popular em grande escala, tendo em vista a descentralização e o auxílio individual, poderá travar a atual tendência para o estatismo. E não existe presentemente nenhum sinal que permita pensar que tal movimento venha a ter lugar.

Não há nenhuma razão, bem entendido, para que os novos totalitarismos se pareçam com os antigos. O governo por meio de cacetes e de pelotões de execução, de fomes artificiais, de detenções e deportações em massa não é somente desumano (parece que isso não inquieta muitas pessoas, atualmente); é - pode demonstrar-se - ineficaz. E numa era de técnica avançada a ineficácia é pecado contra o Espírito Santo. Um estado totalitário verdadeiramente «eficiente» será aquele em que o todo-poderoso comitê executivo dos chefes políticos e o seu exército de diretores terá o controle de uma população de escravos que será inútil constranger, pois todos eles terão amor à sua servidão. Fazer que eles a amem, tal será a tarefa, atribuída nos estados totalitários de hoje aos ministérios de propaganda, aos redatores-chefes dos jornais e aos mestres-escolas. Mas os seus métodos são ainda grosseiros e não científicos.

Os jesuítas gabavam-se, outrora, de poderem, se lhes fosse confiada a instrução da criança, responder pelas opiniões religiosas do homem. Mas aí tratava-se de um caso de desejos tomados por realidades. E o pedagogo moderno é provavelmente menos eficaz, no condicionamento dos reflexos dos seus alunos, do que o foram os reverendos padres que educaram Voltaire. Os maiores triunfos, em matéria de propaganda, foram conseguidos não com fazer qualquer coisa, mas com a abstenção de a fazer. Grande é a verdade, mas maior ainda, do ponto de vista prático, é o silêncio a respeito da verdade. Abstendo-se simplesmente de mencionar alguns assuntos, baixando aquilo a que o Sr. Churchil chama uma «cortina de ferro» entre as massas e certos fatos que os chefes políticos locais consideram como indesejáveis, os propagandistas totalitários têm influenciado a opinião de uma maneira bastante mais eficaz do que teriam podido fazê-lo. Por meio de denúncias eloquentes ou das mais convincentes e lógicas refutações. Mas o silêncio não basta. Para que sejam evitados a perseguição, a liquidação e outros sintomas de atritos sociais, é necessário que o lado positivo da propaganda seja tão eficaz como o negativo. Os mais importantes Manhattan Projects do futuro serão vastos inquéritos instituídos pelo governo sobre aquilo a que os homens políticos e os homens de ciência que nele participarão chamarão o problema da felicidade - noutros termos: o problema que consiste em fazer os indivíduos amar a sua servidão. Sem segurança econômica, não tem o amor pela servidão nenhuma possibilidade de se desenvolver; admito, para resumir, que a todo-poderosa comissão executiva e os seus diretores conseguirão resolver o problema da segurança permanente. Mas a segurança tem tendência para ser muito rapidamente considerada como caminhando por si própria. A sua realização é simplesmente uma revolução superficial, - exterior. O amor à servidão não pode ser estabelecido senão como resultado de uma revolução profunda, pessoal, nos espíritos e nos corpos humanos. Para efetuar esta revolução necessitaremos, entre outras, das descobertas e invenções seguintes: 

Primo - uma técnica muito melhorada da sugestão, por meio do condicionamento na infância e, mais tarde, com a ajuda de drogas, tais como a escopolamina. 

Secundo - um conhecimento científico e perfeito das diferenças humanas que permita aos dirigentes governamentais destinar a todo o indivíduo determinado o seu lugar conveniente na hierarquia social e econômica - as cunhas redondas nos buracos quadrados (Expressão metafórica inglesa que designa um indivíduo que está num lugar que lhe não é próprio) possuem tendência para ter ideias perigosas acerca do sistema social e para contaminar os outros com o seu descontentamento. 

Tercio (pois a realidade, por mais utópica que seja, é uma coisa de que todos temos necessidade de nos evadir frequentemente) - um sucedâneo do álcool e de outros narcóticos, qualquer coisa que seja simultaneamente menos nociva e mais dispensadora de prazeres que a genebra ou a heroína. 

Quarto (isto será um projeto a longo prazo, que exigirá, para chegar a uma conclusão satisfatória, várias gerações de controle totalitário) - um sistema eugênico perfeito, concebido de maneira a estandardizar o produto humano e a facilitar, assim, a tarefa dos dirigentes. No Admirável Mundo Novo esta estandardização dos produtos humanos foi levada a extremos fantásticos, se bem que talvez não impossíveis. Técnica e ideologicamente, estamos ainda muito longe dos bebes em proveta e dos grupos Bokanovsky de semi-imbecis. Mas quando for ultrapassado o ano 600 de N. F., quem sabe o que poderá acontecer? Daqui até lá, as outras características desse mundo mais feliz e mais estável - os equivalentes do soma, da hipnopedia e do sistema científico das castas - não estão provavelmente afastadas mais de três ou quatro gerações. E a promiscuidade sexual do Admirável Mundo Novo também não parece estar muito afastada. Existem já certas cidades americanas onde o número de divórcios é igual ao número de casamentos. Dentro de alguns anos, sem dúvida, passar-se-ão licenças de casamento como se passam licenças de cães, válidas para um período de doze meses, sem nenhum regulamento que proíba a troca do cão ou a posse de mais de um animal de cada vez. À medida que a liberdade econômica e política diminui, a liberdade sexual tem tendência para aumentar, como compensação. E o ditador (a não ser que tenha necessidade de carne para canhão e de famílias para colonizar os territórios desabitados ou conquistados) fará bem em encorajar esta liberdade juntamente com a liberdade de sonhar em pleno dia sob a influência de drogas, do cinema e da rádio, ela contribuirá para reconciliar os seus súbditos com a servidão que lhes estará destinada. Vendo bem, parece que a Utopia está mais próxima de nós do que se poderia imaginar há apenas quinze anos. Nessa época coloquei-a à distância futura de seiscentos anos. Hoje parece praticamente possível que esse horror se abata sobre nós dentro de um século. Isto se nos abstivermos, até lá, de nos fazermos explodir em bocadinhos.

Na verdade, a menos que nos decidamos a descentralizar e a utilizar a ciência aplicada não com o fim de reduzir os seres humanos a simples instrumentos, mas como meio de produzir uma raça de indivíduos livres, apenas podemos escolher entre duas soluções: ou um certo número de totalitarismos nacionais, militarizados, tendo como base o terror da bomba atômica e como consequência a destruição da civilização (ou, se a guerra for limitada, a perpetuação do militarismo), ou um único totalitarismo internacional, suscitado pelo caos social resultante do rápido progresso técnico em geral e da revolução atômica em particular, desenvolvendo-se, sob a pressão da eficiência e da estabilidade, no sentido da tirania-providência da Utopia. É pagar e escolher. 



(…) a divisa do Estado Mundial: COMUNIDADE, IDENTIDADE, ESTABILIDADE

(…)Era conveniente, que a ideia fosse o mais resumida possível se se quisesse que, mais tarde, eles fossem membros disciplinados e felizes da sociedade, dado que os pormenores, como se sabe, conduzem à virtude e à felicidade, e as generalidades são, sob o ponto de vista intelectual, males inevitáveis.

Não são os filósofos, mas sim aqueles que se entregam às construções de madeira e às coleções de selos, que constituem a estrutura da sociedade.

Quando se não tem o hábito da história, os fatos relativos ao passado parecem quase sempre inacreditáveis.

Os extremos tocam-se, pela excelente razão de serem obrigados a tocarem-se.

(…) Por toda a parte o sentimento do exclusivo, por toda a parte a concentração de interesses sobre um único assunto, uma estreita canalização dos impulsos e da energia. "Porém cada um pertence a todos os outros".

(…) O mundo deles não lhes permitia tomar as coisas ligeiramente, não lhes permitia serem sãos de espírito, virtuosos, felizes. Com as suas mães e os seus amantes, com as suas proibições, para as quais não estavam condicionados, com as suas tentações e os seus remorsos solitários, com todas as suas doenças e a sua dor, que os isolava infinitamente, com as suas incertezas e a sua pobreza, eram obrigados a sentir violentamente as coisas. E, sentindo-as violentamente (violentamente e, o que é pior, na solidão, no isolamento desesperadamente individual), como podiam ser estáveis?

Não há civilização sem estabilidade social. Não há estabilidade social sem estabilidade individual.

A máquina gira, gira e deve continuar a girar eternamente. Se ela pára, é a morte. Eram um bilião a esgravatar a terra. As engrenagens começaram a girar. Ao fim de cento e cinquenta anos eram dois biliões. Pararam todas as engrenagens. Ao fim de cento e cinquenta semanas apenas eram, novamente, um bilião: mil milhares de milhares de homens e mulheres tinham morrido de fome. É preciso que as engrenagens girem regularmente, mas elas não podem girar sem serem convenientemente cuidadas. É necessário que haja homens para tratar delas, tão eficazes como as próprias engrenagens nos seus eixos, homens sãos de espírito, estáveis na sua satisfação. Gritando: "Meu filho, meu filho, minha mãe, meu verdadeiro, meu único amor", gemendo -" «Meu pecado, meu Deus terrível", uivando de dor, delirando de febre, temendo a velhice e a pobreza, como podem eles cuidar das engrenagens? E, se não podem cuidar das engrenagens..., seria difícil enterrar ou queimar os cadáveres de mil milhares de homens e mulheres.

(…) o fato é que já há algum tempo que não sinto muita disposição para ser ... acessível a todos. Há momentos em que não estamos dispostos a isso... Nunca sentiste isso?

Reprimido, o impulso transborda e, espalhada a torrente, é o sentimento; espalhada a torrente é a paixão; espalhada a torrente, é a própria loucura: tudo isso depende da força da corrente, da altura e da resistência da barragem. O ribeiro sem obstáculos corre única e simplesmente ao longo dos canais que lhe foram destinados, em direção a uma calma euforia. (…) derrubem-se todas essas velhas e inúteis barragens.

ALDOUS HUXLEY

Conhecimento autêntico de consciência vem somente através de meditação

Agora o homem conhece mais de si do que nunca e ainda assim nenhum problema está solucionado. Parece que algo está basicamente errado com nosso chamado conhecimento.

Todo este conhecimento é deduzido da análise e a análise é incapaz de penetrar nas profundezas da consciência.

O método analítico é bom com matéria ou com coisas porque não há um interior nelas, mas consciência é interior, e usar o método analítico com consciência é tratá-la como um objeto enquanto não é mesmo um objeto.

E não pode ser feita um objeto; sua própria natureza é subjetividade, seu ser é subjetividade, então não deve ser aproximada de fora porque então tudo aquilo que é conhecido sobre ela não é sobre ela. Consciência deve ser aproximada de dentro — então o método é meditação e não análise.

Meditação é sintética: está interessada no todo, e não nas partes; é subjetiva, e não objetiva; é irracional ou super-racional, e não racional; é religiosa ou mística, e não científica.

Conhecimento autêntico de consciência vem somente através de meditação, e tudo o mais é apenas conhecimento superficial e basicamente errôneo, porque a própria fonte dele é errada e venenosa.

Osho, em "Um Xícara de Chá"

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill