Criticar antes de investigar é um erro, e crer antes de investigar é outro erro. É preciso ler silenciosamente, nem voluntariosamente resistindo nem cegamente aceitando. Há um poder inerente nas palavras verdadeiras.
Não é nossa intenção fundamentar cada declaração aqui feita. Preferimos apresentar nossas observações para um público atento e já simpatizante, para que sejam comunicadas com maior economia de meios, evitando divagações e circunlocuções de uma argumentação desnecessária. Em suma, desejamos que estes textos sejam um real serviço para aqueles que estão mental e psicologicamente preparados para recebê-los. Não desejamos forçar ninguém, mesmo de maneira sutil, a aceitar uma posição à qual as circunstâncias de seu natural crescimento interno ainda não os conduziram, ou desperdiçar o tempo de todos com uma dialética que não leva a parte alguma.
Portanto, se o leitor deseja se beneficiar da leitura deste material, é preciso adotar uma atitude de simpatia intelectual para com estas observações, ao invés de uma postura de criticismo suspeitoso. Estas observações são apresentadas como vivência comprovada, não como opiniões teóricas; no entanto, nada há neles que não seja razoável, desde que o leitor aplique aquela razão impessoal que se recusa a confundir pensamentos e observações familiares com as verdadeiras. Ao pedirmos isto, sabemos bem que estamos pedindo o que para muitos é demasiado, mas esses não precisam seguir-nos adiante. Estamos seguros de que ninguém se volta para um caminho desta espécie enquanto não houver esgotado as possibilidades dos métodos convencionais de comprovar a verdade. Com efeito, as pessoas procuram em negro desespero, como uma espécie de último recurso. É somente as pessoas deste tipo que sentem uma imensa angústia por sua inabilidade de penetrar nas regiões "espirituais", que não acham nenhum auxílio nos sistemas ortodoxos, e que talvez tenham tido uma pesada partilha de sofrimentos, que estas páginas provavelmente interessarão.
Ler estas páginas com um espírito de acre antagonismo ou de determinada oposição, procurando descobrir falhas e arvorar-se em juiz do que imagina ser erros, será talvez um bom exercício para o intelecto, mas não vos aproximará da verdade. Infelizmente, na educação moderna se tem desenvolvido a tendência para este estilo de leitura. Daí esta advertência para suspender, temporariamente pelo menos, a faculdade crítica que tem sido altamente útil na preparação da fábrica da moderna civilização comercial e científica, porém que se torna um empecilho quando empregada às exposições emanadas daqueles que já penetraram realmente na esfera espiritual.
Não solicitamos ao leitor para que seja desonesto para com seu próprio raciocínio, ou que destrua sua faculdade de juízo independente. Com efeito, quem quer que não se incline ao exercício de sua faculdade de raciocínio, não está apto para este paradigma. Desejamos, sim, tornar claro ao leitor que é tão só quando se sinta insatisfeito com o atual ponto de vista, que se pode esperar que tome, no momento pelo menos, o ponto de vista logicamente apresentado pelos que passaram por uma extensa ordem de experiências superiores.
Nesse caso solicitamos ao leitor que reflita sem superstições frequentes contra afirmações que encontre em sua busca até que possa apreender o ponto de vista dos que as fizeram. Solicitamos que seja imparcial e a assimilar, experimentalmente por assim dizer, uma concepção que até então não tenha nutrido e que possui um poder próprio para despertar no leitor a faculdade intuitiva e dar-lhe maior energia.
Não é possível condensar este método numa fraseologia mais tersa ou melhor do que outrora adornou o gracioso pórtico do belo templo grego em Delfos: HOMEM, CONHECE-TE A TI MESMO!
O método mais exato para chegar à verdadeira natureza daquilo que somos, é seguir, por meio da observação, um processo de eliminação, isto é, distinguir entre o eu e o não-eu.
Ao leitor é preciso mergulhar repetidamente na corrente de pensamentos que lhe trouxeram a este ponto, pois necessita reconhecer sua verdade, não como algo que lhe é imposto de fora, porém, como algo que traz inerente em si a sua própria integridade, e portanto, nasce dentro de si com o mais pleno poder de convicção. Não utilizando outros meios senão os fatos da vida humana e das experiências do pensamento humano em suas várias fases, chegamos à visão da verdade de que o eu real que buscamos mora numa dimensão superior à corporal, emocional, à dimensão do pensamento e do tempo; oculta-se alhures por trás do eu de emoção-pensamento; e que em verdade deve existir além de todas as nossas categorias comuns.
Finalizando, desejamos ao leitor, uma boa viagem!
Texto parafraseado de Paul Brunton em "A Realidade Interna"