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terça-feira, 23 de abril de 2013

A armadilha do túnel do tempo psicológico

Visto que o sofrimento é pensamento, e o pensamento tempo, deveis compreender o tempo. Há o tempo do relógio — ontem, hoje e amanhã. O sol se põe e o sol nasce — o fenômeno físico. O ônibus sai a uma certa hora, e o trem parte na hora marcada; é esse o tempo do relógio, o tempo cronológico. Mas, existe outro “tempo”? Fazei a vós mesmo esta pergunta: “Há outro tempo, além do tempo cronológico?” Há: o tempo compreendido como duração, separado do tempo cronológico, do tempo do relógio. Há duração, a continuidade da existência — eu fui, eu sou, eu serei. As memórias, as experiências, as diferentes ansiedades, temores, esperanças — tudo isso está na esfera do tempo entendido como “passado”. E esse passado, que é psicológico, que é memória, essa carga de ontem, com todas as suas experiências, eu a estou transportando hoje; a memória a está transportando hoje, memória essa que está identificada, pelo pensamento, como “Eu”. Se não houvesse memória, se não houvesse identificação com aquela memória de que nasce o pensamento, não haveria nenhum “centro”, ou seja “Eu”, a transportar aquela carga de dia para dia.

Temos, pois, o tempo marcado pelo relógio. E há o tempo psicológico; mas este tempo é válido? É o tempo verdadeiro? O tempo não é o intervalo existente entre ações? Quando há ação espontânea, real, não há, com efeito, tempo. Estais esquecidos do passado, do presente e do futuro, quando estais vivendo naquele estado de ação. Mas, quando a ação procede do passado, introduzistes o tempo na ação. Mas, quando a ação procede do passado, introduzistes o tempo na ação. Isto exige muita atenção de vossa parte, porque estamos tratando de um problema sumamente complexo, relativo à ação dentro do campo do tempo e à ação fora do campo do tempo; não se trata de teorias, não se trata do que está dito no Gita ou no Upanishads.

(...) O que o orador está fazendo é levar o tempo a uma “crise”. Pois estamos habituados a servir-nos do tempo como meio de fuga. Ou, também, nos temos servido do tempo como o “presente único”, “o agora”, tratando de tirar da vida o melhor proveito, agora — com todos os seus desesperos, agonias, ansiedades, temores, esperanças, alegrias. Dizemos: “Só temos poucos anos de vida, e vivamos com tudo o que a vida oferece, tirando dela o melhor partido”. É o que fazemos, e o mesmo tem feito todos os filósofos. E todos os que tem inventado teorias têm, também, um medo imenso da morte.

Estamos, pois, examinando o tempo. Dissemos que o tempo é o intervalo existente entre ações. A mente que está em ação pode existir sem o tempo. Prestai atenção, por favor. A mente que está em ação com uma ideia, um motivo, uma finalidade, uma fórmula, está enredada no tempo; sua ação, por conseguinte, não se completa e, portanto, dá continuidade ao tempo. Como sabeis, o tempo, para nós, é não só a duração psicológica, mas também a continuidade da existência. Serei isto futuramente — amanhã ou no próximo ano. Esse “ser futuramente” está condicionado não só ao ambiente, à sociedade, mas também à reação a tal condicionamento, tal sociedade — reação que consiste em dizer: “Serei isto e o alcançarei futuramente”. Quando uma pessoa diz: “Se hoje não sou feliz, se não sou rico interiormente, profunda, ampla, abundantemente rico, eu o serei” — essa pessoa está na armadilha do tempo.  O homem que pensa que será alguma coisa e se está esforçando para alcançar o que será, para esse homem a maior aflição é o tempo.

É possível a mente achar-se sempre em ação, diretamente, espontânea e livremente, de modo que nunca tenha um momento de tempo? Porque o tempo é pensamento periférico. Todo pensar é periférico, marginal — todo. Pensamento é reação da memória, da experiência, do conhecimento, acumulados; daí procede o pensamento, a reação ao passado. O pensamento jamais pode ser original. Podeis usar palavras, que pertencem ao passado, expressar o original, mas o original não pertence ao tempo. Por conseguinte, para descobrir o original deve a mente estar inteiramente livre do tempo — do tempo psicológico; da duração; da ideia de “serei”, “alcançarei”, “tornar-me-ei”.

O funcionário, o pobre coitado que, por quarenta anos seguidos, tem de dirigir-se todos os dias a seu escritório, de trem subterrâneo, de ônibus, em transportes repletos de passageiros, malcheirosos, sujos — só pode nutrir a esperança de um dia tornar-se “Gerente”. A mulher o incita, a sociedade o impele, o compele a ser alguma coisa neste mundo, dono de uma casa maior, com mais conforto, mais satisfações. Todos necessitam de satisfação, de conforto físico. E, hoje em dia, cientificamente, é perfeitamente possível proporcioná-lo a todos os entes humanos. Mas isso não se verifica porque somos muito estúpidos: separamo-nos em nacionalidades; somos bairristas, estamos separados por línguas diferentes, etc., etc. Eis o nosso único empecilho.

Assim como o bancário deseja tornar-se gerente do banco, e o gerente aspira a ser diretor, assim como o vigário aspira a ser o arcebispo, assim como o sanyasi deseja “vir a ser”, alcançar, no final de tudo, isto ou aquilo — assim também nós adotamos perante a vida a mesma atitude. Abeiramo-nos do viver de cada dia com a ideia de realização e, assim, psicologicamente, abeiramo-nos da vida, dizendo “devo ser bom”, “devo fazer isto”, “devo vir a ser...” É a mesma mentalidade, a mesma ambição; portanto, introduzimos o tempo em nosso viver. Nunca questionamos o tempo. Nunca dizemos: “É mesmo assim? Daqui a dez anos, serei feliz, serei inteligente, vigilante, imensamente rico interiormente, e então só uma coisa existirá?” Nunca questionamos o tempo; aceitamo-lo, como temos aceitado tudo o mais: cegamente, estupidamente, sem pensar, sem raciocinar.

Por isso eu digo que o tempo é veneno, que o tempo é um perigo contra o qual deveis estar sumamente precavidos, perigo tão vivo como um tigre. Deveis estar consciente, a cada minuto, de que o tempo é um veneno mortal, uma cosia fictícia. Estais vivendo hoje; e não podeis viver hoje, de modo completo, com riqueza, plenitude, com extraordinária sensibilidade à beleza, à graça, se vindes com toda a carga de ontem. É preciso, pois, examinar a questão da memória. Memória, conhecimento, experiência, todo o acúmulo de dados científicos e técnicos, são da maior importância quando se trata de executar um trabalho material. Nas coisas de que necessitamos para viver, a memória deve funcionar com o máximo de eficiência, qual um cérebro eletrônico. Este é capaz das coisas mais extraordinárias: pintar, escrever poemas, traduzir, e até dirigir uma orquestra. Mas, esse cérebro eletrônico só pode funcionar com os dados que lhe são fornecidos, por associação, etc. E quando se faz uma pergunta ao cérebro eletrônico, devem-se usar termos precisos; senão, ele não responderá. Por isso mesmo, há hoje todo um conjunto de cientistas empenhados em investigar a questão da ação na linguagem; mas não é este o assunto que nos interessa no momento.

Como já sabemos, a maioria de nós traz o passado para o presente, e o presente se torna mecânico. Se observardes vossa própria vida, vereis quanto é mecânica! Funcionais tal qual uma máquina, como uma imitação perfeita do cérebro eletrônico. Porque aceitastes o tempo e com ele vos acostumastes. Ora, há uma vida fora do tempo, quando se compreende o passado, que é só memória e nada mais.

A memória, na forma de conhecimento, de acumulação de experiência, de coisas que o homem vem juntando a milhões de anos — a memória é o passado, consciente ou inconsciente; nela estão depositadas todas as tradições. E com tudo isso vindes para o presente, para o agora e, por conseguinte, não estais, em absoluto, vivendo. Estais “vivendo” com as lembranças, as cinzas frias de ontem. Observai a vós mesmo. Com essas cinzas frias da memória, inventais o amanhã: um dia, serei não-violento; hoje sou violento, mas irei limando esta minha “grata” violência e, um dia, hei de ser livre, não-violento. Que infantilidade! É uma ideia que aceitastes e, portanto, não podeis despreza-la. E há homens que dizem tais absurdos! E os tratais como grandes homens; porque estais aprisionados no tempo, tal como eles. Esses homens não vos estão libertando, fazendo-vos enfrentar o fato — o tempo — isto é, trazer para o presente o passado inteiro e levá-lo a uma “crise”.

Sabeis o que sucede quando vos vede numa crise — numa crise real, não uma crise inventada, uma crise verbal, de ideias e teorias? Quando vos vedes, de fato, em presença de uma crise, que vos exige atenção integral e “atenção integral” significa: atenção com vossa mente, vossos olhos, vossos ouvidos, vosso coração, vossos nervos, com todo o vosso ser — sabeis o que acontece? Não existe, então, o passado; não há então ninguém para dizer-vos o que deveis fazer; e, então, dessa extraordinária atenção, vem a espontaneidade; e, nesse estado, não existe o tempo. Mas, no momento em que começais a pensar a respeito da crise, no momento em que começais a pensar, todo o passado entra em ação. O pensamento é a reação do passado — associação, etc. E verifica-se, nesse momento, o começo do tempo e do sofrimento.

Por conseguinte, quando a mente não se acha verdadeiramente num estado de ação, porém, num estado de inação, daí vem mais inação, que é do tempo. Há duas espécies de inação: a inação gerada pelo tempo, e a inação que é o estado total da mente que se vê em presença de uma tremenda crise. Com o enfrentar uma crise tremenda, a mente se torna completamente inativa, quer dizer, livre de todo pensamento; e dessa inação vem ação; esta é a única ação importante, e não a outra.

Assim, pois, cumpre compreender a natureza do tempo e o significado do tempo. Com a palavra “compreender” quero dizer “ter vivido” com a coisa, tê-la penetrado; não ter aceito nenhuma teoria nem explicação verbal; não ter fugido por meio do passado, porém ter perquirido, de fato, o fenômeno do tempo psicológico. Fazendo-o, levais o tempo a uma “crise”; essa crise vos torna então sobremaneira atento e, por conseguinte, a mente fica num estado de ação. Fica atuando sempre, porque já se livrou daquele estado de “passado e futuro” — do tempo. E nesse estado, em que a mente não está interessada no passado nem no futuro, tem o presente uma diversa significação. Isso não é teoria, e não se trata de um estado de desespero. Por conseguinte, a cessação do sofrimento é a cessação do pensamento, e a cessação do pensamento é o começo da sabedoria. A cessação do sofrimento é sabedoria.

Krishnamurti – Bombaim, 23 de fevereiro de 1964
O Despertar da Sensibilidade — ICK
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill