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sábado, 16 de fevereiro de 2013

É possível, pelo pensamento, descobrir-se uma harmônica maneira de viver?

Vós viveis fragmentariamente: no escritório sois diferentes do que sois em casa; tendes pensamentos “particulares” e pensamentos “públicos”. Assim, percebendo essa enorme separação e contradição existente entre os fragmentos, perguntamos se o pensamento pode uni-los, efetuar a integração de todos os elementos. É ele capaz de tanto?

Consequentemente, cumpre-nos investigar a natureza e estrutura do pensamento. Pode o pensamento, a atividade pensante, o processo intelectual de raciocinar, produzir uma vida harmoniosa? Para investigarmos isso, cumpre-nos investigar, examinar atentamente a natureza e estrutura da pensamento; isso significa que iremos examinar juntos o vosso pensar, não a descrição ou a explicação dada pelo orador, porquanto a descrição nunca é a coisa descrita e tampouco a explicação é a coisa explicada. Portanto, não nos deixemos enredar na explicação ou descrição, mas investiguemos juntos, verifiquemos juntos como o pensamento funciona e se ele é realmente capaz de produzir uma maneira de vida totalmente harmônica, não contraditória, completa em todas as ações. Isso é muito importante, porque, se desejamos um mundo totalmente transformado, um mundo sem corrupção, uma maneira de vida em si mesma significativa, temos de indagar se o pensamento é capaz de criar tal maneira de vida. E indagar, também, o que é o sofrimento, se ele pode findar, e o que é a dor, o medo, o amor, a morte.

(…) Cumpre, pois, investigar a sério a natureza do pensamento.

Que é pensar? Fazei a vós mesmos esta pergunta: Que é pensar? Temos de compreender o significado profundo do pensamento, porque nós vivemos pelo pensamento. Se fazemos qualquer coisa, ou a fazemos refletidamente, ou a fazemos mecanicamente, em conformidade com o padrão de ontem, a tradição. Temos, portanto, de ver claramente qual é a função do pensamento. Se vos observais mui atentamente, não descobris que o pensamento é reação da memória, sendo essa memória experiência, conhecimento? Se não tivésseis nenhum conhecimento, nenhuma experiência, nenhuma memória, não haveria pensar. Estaríeis vivendo num estado de amnésia. O pensamento, como vimos, é reação da memória, e a memória está condicionada pela cultura em que viveis, pela educação que recebestes e a propaganda religiosa que vos foi instalada; o pensamento é reação da memória, isto é, do saber e da experiência nela acumulados. Necessitamos do conhecimento, da memória, para acharmos o caminho de casa, para falarmos uns com os outros, mas o pensamento, sendo reação da memória, nunca é livre, é sempre velho.

E o pensamento — essa reação do “velho”, da memória — é capaz de descobrir uma maneira de viver totalmente harmônica e clara? Todavia, queremos descobri-la por meio do pensamento ; digo: “pensarei nisso a fundo e descobrirei a maneira de viver harmonicamente”. E, já que o pensamento é reação do passado, de nosso condicionamento, não tem nenhuma possibilidade de descobrir a maneira harmoniosa de viver. Estais entendendo? O pensamento não pode descobri-la e, entretanto, usamos o pensamento para descobri-la. Bem sabemos que o pensamento é necessário, para podermos voltar para casa, para ganharmos a vida, para fazermos qualquer coisa; num certo nível, ele é absolutamente necessário, mas, quando se trata de descobrir uma maneira de viver diferente da atual — que é de desarmonia — o pensamento se torna um empecilho.

Ao perceberdes esta verdade, que o pensamento, por mais racional e lógico, por mais são e claro que seja, é incapaz de descobrir aquela maneira de vida, qual o estado de vossa mente? Estais-me acompanhando? estais trabalhando com o orador, ou estais meramente ouvindo palavras e ideias? Compreendeis esta pergunta? espero estejais trabalhando com igual ardor e empenho, porque, do contrário, nada descobrireis. E nós, que vivemos neste mundo insano, temos de descobrir uma nova maneira de viver. Ora, se o pensamento é incapaz de descobri-la, e compreendemos isso como um fato verdadeiro e não como uma explicação verbal, qual é então o estado da mente, da vossa mente? Qual é o estado da mente quando percebe um fato verdadeiro?* Não me respondais, por favor. Nunca vos deixais entranhar de uma verdade;não “ficais com ela”, mas estais sempre prontos a saltar com palavras e explicações, sabendo muito bem que a explicação não é a coisa real.

Perguntamos,  pois: Qual é o estado da mente que percebe a necessidade do pensamento e percebe também que o pensamento, por mais que se esforce, não pode de nenhum modo produzir aquela beleza de uma vida totalmente harmônica? Esta é uma das coisas mais difíceis de transmitir, um dos assuntos mais difíceis de tratar, porque até agora só temos vivido de experiências alheias, sem percepção direta; temos medo da percepção direta. E, diante deste desafio, vossa tendência é fugir, refugiar-vos em palavras e explicações; mas cumpre por de lado todas as espécies de explicação. Assim, qual o estado da mente, isto é, qual a natureza da mente que percebe a verdade? Por ora, deixemos de lado este ponto, porque não há tempo para entrarmos em pormenores e há ainda assuntos a tratar. A ele voltaremos.

(…) Ante o nosso sofrimento, tratamos de fugir, e as palavras, as teorias, as explicações e crenças nos oferecem os desejados meios de fuga. Se morre meu filho, tenho uma dúzia de explicações. Fujo, por medo à solidão. E que acontece? Torno a adormecer. Mas, o sofrimento é uma espécie de desafio. Se “ficardes” com ele, completamente, sem fugir, sem “verbalizar”, sem nenhum movimento de pensamento, descobrireis toda a sua estrutura.

E cumpre-vos, também, descobri, por vós mesmo, se o medo pode terminar — não apenas o medo físico, mas também os temores internos, psicológicos.

Que é o medo? É ele produto do pensamento? Obviamente, o medo resulta do pensamento. Pensais numa certa coisa que, ontem ou no ano passado, vos causou dor, física ou de outra espécie, e sentis medo; é desse modo que o pensamento nutre o medo e lhe dá continuidade. O pensamento projeta, também, o medo no futuro: posso perder meu emprego, minha posição, meus prestígio, minha reputação. Compreendeis? O pensar tanto no passado como no futuro gera medo. Por conseguinte, perguntamos: pode o pensamento cessar?

E note-se, ainda, que o pensamento sustenta o prazer. O pensar no prazer que ontem experimentei, contemplando o pôr do Sol — tão maravilhoso, tão belo, tão estimulante, etc. — sustenta aquele prazer.

Temos, pois, o sofrimento, o medo, o prazer e a alegria.

A alegria difere do prazer? Não sei se alguma vez a conhecestes. A alegria “acontece”, vem subitamente. Mas, não se sabe como, o pensamento dela se apodera e a reduz a prazer; e, assim, dizeis: “Quero experimentar de novo aquela alegria”. O pensamento, pois, sustenta e nutre o prazer, o medo, e dá continuidade ao sofrimento.

E, por fim, há o medo da morte, o medo fundamental do homem. Dele trataremos mais tarde.

Agora, ao perceberdes que o pensamento perpetua o prazer e o medo, e que evitar o medo, mediante diferentes formas de fuga, deforma a mente e, por conseguinte, a torna incapaz de compreender de todo o medo — qual o estado de vossa mente ao perceberdes esta verdade? E qual o estado da mente que sabe quando o pensamento é necessário, quando deve ser empregado, logicamente, objetivamente, equilibradamente, e sabe também que o pensamento, que é reação do conhecimento, ou seja, do passado, se torna um obstáculo a uma maneira de viver isenta de contradição? Qual o estado de vossa mente quando dizeis: “Compreendo”? Ela está completamente vazia e em silêncio. Não é exato isso? Só se pode ver uma coisa bem claramente quando não há escolha. Havendo escolha, há confusão. Só a mente confusa escolhe, discrimina entre o essencial e o não essencial; mas o homem que vê com clareza não faz escolha.

Há, pois, uma ação que vem quando a mente está vazia de todo o movimento de pensamento, exceto aquele movimento que é necessário quando o pensamento deve funcionar. A mente é então capaz de dar atenção aos fatos da vida diária. Mas, ela é capaz de funcionar dessa maneira se sois muçulmano, budista, hinduísta, e estais condicionado por esse fundo? Não é, evidentemente. Por conseguinte, se perceberdes esse fato, deixareis de ser muçulmano, cristão, e vos tornareis outra coisa bem diferente —  não algum dia, no futuro, mas agora, neste mesmo momento. De outro modo, jamais vereis a verdade. Sobre ela podereis falar interminavelmente, ler todos os livros do mundo, mas jamais alcançareis sua beleza e vitalidade. Assim, a mente que investiga, que faz perguntas fundamentais, indaga também se a sociedade pode ser transformada radicalmente, fundamentalmente — não sua estrutura econômica, mas sim, a estrutura psicológica. Porque, se a psique não for transformada, continuareis a fazer, exteriormente, as mesmas coisas — modificadas, talvez, mas sempre segundo o velho padrão.

Cabe-vos, pois, fazer esta pergunta fundamental; a ela ninguém pode responder senão vós mesmo. Não há confiar em ninguém. Deveis, portanto, observar e, observando, aprender. Assim, pode a mente manter-se completamente desperta, observando, a fim de ver a verdade relativa a qualquer coisa e, vendo-a, atuar — assim como atuais em presença de um perigo? Ao verdes um perigo, atuais instantaneamente. Do mesmo modo, ao verdes, por inteiro, a  verdade relativa a qualquer coisa, há ação imediata. 

Krishnamurti — Nova Deli, 13 de dezembro de 1970
Extraído do livro: O Novo Ente Humano – Ed. ICK

(*) A mente está vazia e em silêncio, conforme Krishnamurti explica mais adiante (Nota do tradutor)

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill