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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O indivíduo é de fundamental importância, não o sistema

Quem viaja pelo mundo pode notar a extraordinária semelhança da natureza humana, seja na Índia, seja na América, na Europa ou na Austrália. Isto se verifica, principalmente nos colégios e nas universidades. Estamos como que fabricando, segundo um modelo, um tipo de ser humano cujo principal interesse é procurar segurança, tornar-se pessoa importante, ou viver deleitavelmente e com o mínimo de reflexão.

A educação convencional dificulta sobremodo o pensar independente. A padronização do homem conduz à mediocridade. Ser diferente do grupo ou resistir ao ambiente, não é fácil, e não raro é arriscado, porque adoramos o bom êxito. O esforço empregado para obter sucesso, que é o desejo de recompensa, seja na esfera material, seja na chamada esfera espiritual, a busca de segurança interior ou exterior, o desejo de conforto — tudo isso representa um modo de agir que abala o descontentamento, põe fim à espontaneidade, gera temor e este impede a compreensão inteligente da vida. Com o avançar da idade, a mente e o coração vão-se embotando cada vez mais.

Procurando o conforto encontramos, em geral, um cantinho sossegado na vida, onde podemos viver com o mínimo de conflito possível, e não ousamos mais dar um passo sequer para sair desse isolamento. Este medo à vida, este medo à luta e à experiência nova, mata em nós o espírito de aventura; por causa de nossa criação e educação, temos medo de ser diferentes do nosso próximo, temos medo de pensar em desacordo com o padrão social vigente, num falso respeito à autoridade e à tradição.

Felizmente, algumas pessoas se interessam com seriedade pelo exame dos problemas humanos, livres dos preconceitos da esquerda ou da direita; mas, a grane maioria dentre nós não tem o verdadeiro espírito de descontentamento, de revolta. Quando nos submetemos ao ambiente, sem compreendê-lo, todo o espírito de revolta que acaso possuímos esmorece e nossas responsabilidades em breve tempo o apagam definitivamente.

Há duas espécies de revolta: a revolta violenta, que é mera reação, sem inteligência, contra a ordem vigente, e a profunda revolta psicológica da inteligência. Muitos se revoltam contra velhas ortodoxias só para caírem em outras novas, em novas ilusões e secretas concessões aos próprios apetites. O que em geral acontece é que nos desligamos de um grupo ou conjunto de ideais e ingressamos noutro grupo, adotamos outros ideais, criando novo padrão de pensamento contra o qual nos revoltamos outra vez. Toda reação gera oposição, e toda reforma cria a necessidade de novas reformas.

Há, porém, uma revolta inteligente, que, não sendo reação, nasce com o autoconhecimento, com o percebimento do nosso próprio pensar e sentir. Só quando enfrentamos a experiência tal como se apresenta, quando não evitamos perturbações, é que podemos manter a inteligência altamente desperta; e a inteligência altamente desperta é intuição — o único guia seguro na vida.

Qual é, pois, a significação da vida? Para que vivemos e lutamos? Se somos educados apenas para nos tornarmos pessoas eminentes, para conseguirmos melhores empregos, para sermos mais eficientes, para exercermos domínio mais amplo sobre os outros, em tal caso nossas vidas serão superficiais e vazias. Se somos educados, apenas, para sermos cientistas, eruditos casados com seus livros, ou especialistas devotados à ciência, estamos então contribuindo para a destruição e a desgraça do mundo.

Se a vida tem um significado mais alto e mais amplo, que valor tem nossa educação se nunca descobrimos um significado? Podemos ser superiormente cultos; se nos falta, porém, a profunda integração do pensamento e sentimento, nossas vidas são incompletas, contraditórias e cheias de temores torturantes; e enquanto a educação não abranger o sentido integral da vida terá muito pouca significação.

A civilização atual divide a vida em tantos compartimentos que a educação — excetuando-se o ensino de uma técnica determinada ou profissão — tem muito pouco valor. Ao invés de despertar a inteligência integral do indivíduo, a educação o induz a adaptar-se a um padrão, vedando-lhe assim a compreensão de si mesmo como um processo total. Procurar resolver os numerosos problemas da existência nos seus níveis respectivos — classificados como estão (os problemas) em diferentes categorias — denota uma total ausência de compreensão.

O indivíduo é constituído de várias entidades, mas o realçar as diferenças e ao mesmo tempo favorecer a produção de um tipo definido, leva a resultados complexos e a contradições. Compete à educação promover a integração dessas entidades separadas — uma vez que, sem integração, a vida se transforma numa série de conflitos e tribulações. Para que formar advogados se perpetuamos os litígios? Que valor tem o saber, se continuamos em nossa confusão? Qual o significado da capacidade técnica e industrial, se a utilizamos para nos destruirmos mutuamente? Qual a finalidade da existência, se ela leva à violência e à desdita extrema? Embora tenhamos dinheiro ou sejamos capazes de ganhá-lo, embora tenhamos prazeres e religiões organizadas, vivemos num conflito interminável.

Cumpre distinguir entre "pessoal" e "individual". O pessoal é acidental; por acidental entendo as circunstancias de origem, o ambiente em que fomos criados, com seu nacionalismo, suas superstições, distinções e preconceitos de classe. O pessoal ou acidental é só momentâneo, ainda que esse momento dure a vida inteira; e como o atual sistema de educação se baseia no pessoal, no acidental, no momentâneo, só conduz à perversão do pensamento e à implantação de temores defensivos.

Fomos todos preparados pela educação e o ambiente, para a busca de proventos e segurança pessoal, para lutarmos em nosso próprio interesse. Embora costumemos dissimulá-lo com frases amenas, fomos educados para várias profissões dentro de um sistema que se funda na exploração e no temor com sua concomitante avidez. Tal educação acarretará inevitavelmente confusão e tribulações para nós e para o mundo, porquanto cria em cada indivíduo aquelas barreiras psicológicas que o separam e o mantém isolado dos outros.

A educação não é uma simples questão de exercitar a mente. O exercício leva à eficiência, mas não produz a integração. A mente que foi apenas exercitada é o prolongamento do passado, nunca pode descobrir o que é novo. Eis porque, para averiguarmos o que é educação correta, cumpre-nos investigar o total significado do viver.

Para a maioria das pessoas o significado da vida como um todo não é de importância primária, e nossa educação encarece os valores secundários, fazendo-nos apenas proficientes num determinado ramo de saber. Embora sejam necessários o saber e a eficiência, se lhes atribuímos importância demasiada, somos levados ao conflito e à confusão.

Há uma eficiência inspirada pelo amor, que leva muito mais longe, que é muito superior à eficiência da ambição; e sem o amor, que traz a compreensão integral da vida, a eficiência gera a crueldade. Não é isso o que está acontecendo no mundo inteiro? A educação atual está aparelhada para a industrialização e a guerra, e desenvolver a eficiência é seu alvo principal; estamos dentro da engrenagem desta máquina de competição impiedosa e destruição mútua. Se a educação conduz à guerra, se nos ensina a destruir ou a ser destruídos, não falhou completamente? Para instituirmos a educação correta, é evidente que temos de compreender o significado da vida como um todo, e, para tal, devemos ser capazes de pensar, não consistentemente, mas de maneira direta e verdadeira. Um pensador consistente não pensa verdadeiramente, porque está ajustado à um padrão; repete frases e pensa dentro de uma rotina. Não se pode compreender a existência abstrata ou teoricamente. Compreender a vida é compreender a nós mesmos; este é o princípio e o fim da educação.

Educação não significa, apenas, adquirir conhecimentos, coligir e correlacionar fatos; é compreender o significado da vida como um todo. Mas o todo não pode ser alcançado pela parte — como estão tentando fazer os governos, as religiões organizadas e os partidos autoritários.

A função da educação é criar entes humanos integrados e, por conseguinte, inteligentes. Podemos tirar diplomas e ser mecanicamente eficientes, sem ser inteligentes. A inteligência não é mera cultura intelectual; não provém de livros, nem consiste em jeitosas reações defensivas e asserções arrogantes. O homem que não estudou pode ser mais inteligente do que o erudito. Fizemos de exames e diplomas critério de inteligência e desenvolvemos mentes muito sagazes, que evitam os problemas humanos vitais. Inteligência é a capacidade de perceber o essencial, o que é; despertar essa capacidade, em si próprio e nos outros: eis em que consiste a educação.

A educação deve ajudar-nos a descobrir valores perenes, para que não nos apeguemos a fórmulas ou à repetição de slogans; deve ajudar-nos a derrubar as barreiras nacionais e sociais, em lugar de as reforçar, porquanto essas barreiras geram antagonismo entre homem e homem. Infelizmente o nosso atual sistema de educação nos torna subservientes, mecânicos e fundamentalmente incapazes de pensar; embora desperte nosso intelecto, deixa-nos interiormente incompletos, estupeficados e estéreis.

Sem uma integral compreensão da vida, os nossos problemas individuais e coletivos só tenderão a crescer, em profundidade e extensão. O objetivo da educação não é o de produzir meros letrados, técnicos caçadores de empregos, mas homens e mulheres integrados, livres do temor; porque só entre tais entes humanos pode haver paz perene.

A compreensão de nós mesmos extingue o medo. para pelejar com a vida, de momento em momento, enfrentar suas complicações, tribulações e imprevistos, deve o indivíduo ser infinitamente flexível e portanto livre de teorias e padrões determinados de pensamento.

Não deve a educação estimular o indivíduo a adaptar-se à sociedade ou a manter-se negativamente em harmonia com ela, mas ajudá-lo a descobrir os valores verdadeiros, que surgem com a investigação livre de preconceitos e com o autopercebimento. Quando não há autoconhecimento, a expressão individual se transforma em arrogância, com todos os seus conflitos agressivos e ambiciosos. A educação deve despertar no indivíduo a capacidade de estar cônscio de si mesmo, e não apenas deixá-lo comprazer-se na expressão individual.

Que benefício traz a instrução, se no decorrer da vida nos destruímos? A série de guerras devastadoras, que temos tido, uma após outra, evidencia uma falha fundamental na educação que proporcionamos a nossos filhos. Quase todos nós, creio, estamos cônscios disso, mas não sabemos como atender ao problema.

Os sistemas, quer educativos, quer políticos, não se transformam miraculosamente; só se modificam quando há uma transformação fundamental em nós mesmos. O indivíduo é de fundamental importância, e não o sistema; e, enquanto o indivíduo não compreender o processo total de si mesmo, nenhum sistema, seja da direita, seja da esquerda, trará ordem e paz ao mundo.

Krishnamurti — A educação e o significado da vida

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill