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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Enfrentando a natureza exata do medo

Que é então o medo? será que o conhecemos realmente, ou só conhecemos o medo quando ele já acabou? É importante descobrir isso. Estaremos alguma vez diretamente com contato com o medo, ou estará a nossa mente tão acostumada, tão treinada em evadir-se, que está sempre a fugir e portanto nunca entra em contato direto com aquilo que chama medo? Valeria a pena reparardes no vosso próprio medo e, à medida que formos investigando juntos, talvez nos seja possível aprender diretamente o que é o medo.
 
Que é o medo? Como é que ele surge? Qual  a sua estrutura e natureza? Como dissemos, uma pessoa tem medo, por exemplo, da opinião pública; há várias coisas implicadas nisso: pode-se perder o emprego, e assim por diante. Como nasce este medo? Resultará do tempo? Será que o medo acaba quando conheço a causa que o provoca? Desaparecerá ele por meio da análise, quando se investiga e se descobre a sua causa?
 
Tenho medo de alguma coisa da morte ou do que pode acontecer amanhã, ou o passado atemoriza-me; o que é que mantém e dá continuidade a esse medo? Uma pessoa pode ter cometido um erro, ou pode ter dito alguma coisa que não devia — tudo isso no passado; ou tem medo do que pode vir a acontecer, saúde precária, doença, perda do emprego — tudo no futuro. O medo do passado é o medo de alguma coisa que de fato aconteceu e o medo do futuro é o medo de algo que poderá vir a acontecer, de uma possibilidade.
 
Que é que sustenta e dá continuidade ao medo do passado e também o medo em relação ao futuro? É seguramente, o pensamento — pensa-se, por exemplo, em algo que se fez no passado, ou numa determinada doença que causou sofrimento e tem-se medo da repetição futura desse sofrimento. O medo é sustentado pela memória, pelo pensamento. Ao pensar na dor ou no prazer passados, o pensamento dá-lhes continuidade, mantém-nos e alimenta-os.
 
O prazer ou o sofrimento em relação ao futuro são resultantes da atividade do pensamento. Tenho medo de alguma coisa que fiz, das suas possíveis consequências no futuro. Este medo é sustentado pelo pensamento. Isto é bem evidente. Portanto, o pensamento é tempo — psicologicamente. O pensamento cria o tempo psicológico como distinto do tempo cronológico — não é do tempo cronológico que estamos a falar.
 
O pensamento, que constrói o tempo, como "ontem", "hoje" e "amanhã", gera medo. O pensamento cria o intervalo entre agora e o que poderá acontecer no futuro. É ele que perpetua o medo, por meio do tempo psicológico; o pensamento é a origem do medo; é a fonte do sofrimento. E aceitamos isso? Será que vemos realmente a natureza do pensamento, como ele opera, como funciona e produz toda a estrutura do "passado", "presente" e "futuro"? Será que compreendemos que o pensamento, por meio da análise, descobrindo as causas do medo — o que leva tempo — não é capaz de dissolver o medo? No intervalo entre a causa do medo e o findar do medo há ação do medo. É como um home que é violento e inventa a ideologia da "não-violência"; diz "hei de tornar-me não violento", mas, entretanto, vai semeando os germes da violência. Assim, se utilizarmos o tempo — que é pensamento — como meio de libertar-nos do medo, não nos libertaremos. Não é pelo pensamento que podemos fazê-lo, porque é o pensamento que gera o medo.
 
Que se pode fazer, então? Se o pensamento não é saída para esta armadilha do medo — compreendamos isto com muita clareza, não intelectualmente, não verbalmente, nem como argumento com que concordamos ou que discordamos, mas compreendamo-lo como alguém que está empenhado, implicado nesta questão do medo, profundamente, como temos de estar se somos realmente sérios — então, que se há de fazer?

O pensamento é responsável pelo medo; é ele que lhe dá origem, assim como dá origem ao prazer. Se vemos muito claramente que é o pensamento que gera esse enorme sentimento de medo e que não é capaz de lhe pôr termo, qual é o passo seguinte? Espero que façais vós mesmos a pergunta sem esperar que seja eu a dar-lhes resposta. Se não estais à espera que seja eu a responder-lhes, estais então confrontados com ela, ela é então um desafio e tendes de lhe dar resposta. Mas se reagis ao desafio com as velhas respostas, então, onde ficais? Ficais ainda com o medo. O desafio é novo, imediato: o pensamento gera o medo e não é capaz de lhe pôr fim; que fareis, portanto?
 
Antes de mais nada, quando dizemos "compreendo toda a natureza e estrutura do pensamento", que entendemos por isso? Que entendemos por "compreendo, vejo bem a natureza do pensamento"? Qual é o estado da mente que diz "compreendo"?
 
Prestem muita atenção, por favor, sem fazerem qualquer afirmação. A nossa pergunta é: Será que o pensamento compreende? Dizem-me qualquer coisa, descrevem, por exemplo, com muito cuidado e minúcia, a complexidade da vida moderna, e eu digo, "compreendo", não apenas a descrição, mas o conteúdo, a profundidade, de tal modo que vejo como os seres humanos prisioneiros de tudo isso estão numa tensão, num estado neurótico terrível, e tudo o mais. Compreendo sentindo-o, compreendo com os nervos, com os ouvidos, com o ser inteiro, de modo que nunca mais sou apanhado nisso. Exatamente como quando compreendo que uma serpente é perigosa — então, pronto, não mais me aproximo dela. E se encontrar alguma, a minha ação será imediatamente diferente agora que compreendi isso.
 
Do mesmo modo, estaremos a compreender a natureza do pensamento e que ele produz o prazer e o medo? Estaremos a confrontar-nos com isso? Vemos realmente, e não teórica, verbal ou intelectualmente, como o pensamento opera? Ou ficamos-nos apenas na descrição, no argumento, na sequencia lógica, sem estarmos realmente com o fato? Se me satisfaço com a descrição, com a explicação verbal, então estou apenas a entreter-me com isso. Quando a descrição me leva até à realidade que é descrita, tenho uma percepção direta; então há uma ação completamente diferente — tal como um homem faminto que quer comida, e não uma descrição do alimento, ou uma conclusão acerca do que aconteceria se comesse; o que ele quer é o alimento.
 
Quando se vê como o pensamento gera o medo, que acontece então? Quando a pessoa tem fome e alguém descreve a boa qualidade dos alimentos, que é que ela faz, qual é a sua resposta? Diz: "Não me descrevam os alimentos, deem-mos".   A ação aí está, direta, direta, e não teórica. Portanto, quando dizemos "compreendo", isso significa que há um constante movimento de aprendizagem acerca do pensamento, do medo e do prazer; e é a partir deste movimento constante que se atua; atua-se no próprio momento de aprender. Quando existe uma tal aprendizagem do que é o medo, ele acaba.
 
Há medos que a mente nunca pôs a descoberto, medos ocultos, secretos. Como pode a mente torná-los patentes? A mente consciente recebe avisos desses medos por meio de sonhos. Quando se têm estes sonhos, terão eles de ser interpretados? Como a pessoa não é capaz de os compreender facilmente por si mesma, poderá encontrar um interprete exterior, mas este interpretá-los-á segundo o seu método ou especialização particulares. E há aqueles sonhos que a pessoa, ao mesmo tempo que os tem, está a interpretar.
 
Será mesmo que preciso sonhar? Os especialistas dizem que se tem de sonhar, de outro modo enlouquece-se; mas não tenho assim tanta certeza de que sonhar seja indispensável. Por que é que, durante o dia, não havemos de poder estar abertos às mensagens e aos avisos do inconsciente, para que não seja necessário sonhar? Enquanto esta batalha dos sonhos se processa durante o sono, a mente nunca está tranquila, nunca se refresca, nunca se renova. Não poderá a mente durante o dia estar tão aberta, tão vigilante, acordada e atenta, que os avisos e sinais dos medos ocultos possam manifestar-se, e ser observados e compreendidos?
 
Pela observação, pela atenção, durante o dia, ao falar, ao agir, a tudo o que acontece, tanto os medos ocultos como os que já se conhecem ficam expostos; então, quando dormimos, o sono é completamente tranquilo, sem um único sonho, e de manhã a mente acorda fresca, jovem, inocente, cheia de vida. Não se trata de teoria, fazei-o e vereis.
 
(...) Se durante o dia estivermos vigilantes, atentos a todo o movimento do pensamento, atentos ao que estamos a dizer, aos nossos gestos, ao modo como andamos, como estamos, como falamos, atentos às nossas reações, então todas as coisas que estão ocultas facilmente se manifestarão; e  isso não levará tempo, não exigirá muitos dias, porque já não estaremos a resistir, já não estaremos a "escavar" ativamente, estaremos apenas a observar, a ouvir atentamente. Nesse estado de atenção, tudo se revela. Mas se se disser "vou conservar umas coisas e deitar fora outras", está-se ainda adormecido...
 
Temos portanto de deixar que tudo isso se manifeste, sem qualquer resistência.
 
Interrogante: Nessa atenção não há escolha?

Krishnamurti: Se nessa atenção houver "escolha" então estaremos a bloqueá-la. Mas se for só observar, sem escolher nada, tudo ficará exposto, até os mais escondidos e secretos desejos, impulsos e medos.
 
Interrogante: Será conveniente tentar-se estar atento uma hora por dia?

Krishnamurti: Se eu estiver atento, vigilante, durante um minuto, isso é suficiente. Quase todos estamos desatentos. Tomar consciência dessa desatenção é atenção; mas cultivar deliberadamente a atenção não é atenção.
 
Estou atento só por um minuto a tudo o que está a passar em mim, sem qualquer escolha, a observar com muita clareza; depois passo uma hora, por exemplo, sem prestar atenção; ao fim dessa hora, retomo-a outra vez.
 
Krishnamurti — Conferência na Universidade de Brandeis   
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill