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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Compreendendo a desordem dentro de si mesmo

Quando falamos de meditação, temos de ver muito claramente se o fazemos com a intenção de fugir da vida — da rotina diária, do tédio, da ansiedade e do medo — ou se a encaramos como um modo de viver. Temos de ver se, através da meditação, procuramos evadir-nos totalmente deste mundo disforme e louco ou se, pelo contrário, ela é exatamente compreender, atuar, e estar inteiramente na vida. Se queremos evadir-nos, há então várias escolas, como os mosteiros Zen, no Japão, e muitos outros sistemas. podemos compreender a tentação que tudo isso representa, porque a vida, tal como está, é extremamente desumana, disforme, competitiva, desapiedada; tal como está, não tem qualquer sentido. Quando os Hindus oferecem os seus sistemas de Yoga, os seus “mantras”, a repetição de palavras, etc., pode-se, é claro, ser tentado a aceitar isso com bastante facilidade e sem muita reflexão, porque tudo isso promete uma recompensa, um sentimento de que a evasão é compensadora… Uma mente embotada pode pensar em Deus, na virtude, na beleza, mas continuar pouco sensível, sem inteligência e vivacidade. Não estamos de modo nenhuma interessados nessas várias formas de fuga.

A meditação não consiste em fragmentar a vida; não é retirar-se para um mosteiro, ou para um quarto, e estar em sossego, durante dez minutos ou uma hora, a tentar concentrar-se, a tentar aprender a meditar, enquanto em relação a tudo o mais se é um ser humano insensível e deformado.

Pomos de lado tudo isso, por ser destituído de inteligência e fazer parte de um estado de espírito incapaz de ter realmente a percepção do que é a verdade; porque para compreender o que é a verdade é preciso ter uma mente penetrante, lúcida, rigorosa; não uma mente astuciosa, deformada, mas uma mente capaz de ver sem qualquer distorção, uma mente inocente e aberta; só assim se pode ter o percebimento do que é a verdade. Uma mente preenchida com conhecimentos também não pode estar disponível para ver o que é a verdade; só uma mente inteiramente capaz de aprender é capaz desse percebimento. Aprender não é acumular conhecimento; aprender é um movimento de momento a momento.

Não apenas a mente mas também o corpo têm de estar  altamente sensíveis. Não se pode ter um corpo embotado, indolente, pesadamente alimentado de carne e de vinho e tentar depois meditar — não faz sentido. Portanto, se examinarmos esta questão profundamente e com muita seriedade, veremos que a mente tem de estar altamente desperta, sensível e inteligente, inteligência esta que não nasce do conhecimento.

Mas, vivendo neste mundo tão cheio de sofrimentos, tão aprisionado na miséria, na dor e na violência, será possível trazer a mente a um estado altamente sensível e inteligente? Este é o primeiro ponto, um ponto essencial em meditação. Segundo: uma mente que seja capaz de percepção lógica, sequencial; sem estar distorcida ou neurótica. Terceiro: uma mente altamente disciplinada. A palavra “disciplina” significa “aprender”, e não “ser treinado”. Disciplina é um ato de aprendizado — a própria raiz da palavra significa isso. Uma mente disciplinada vê todas as coisas com muita clareza e objetividade, não de modo emocional, não sentimentalmente. Estas são as necessidades básicas para descobrir aquilo que está além da medida do pensamento, algo não arquitetado por ele, e que é capaz da mais alta forma de amor — uma dimensão que não é uma projeção da mente limitada que se tem.

Criamos a sociedade e essa sociedade condiciona-nos. As nossas mentes são deformadas e pesadamente condicionadas por uma moralidade que não é moral; a moralidade da sociedade é imoralidade, porque a sociedade admite e estimula a ambição, a violência, a competição, a avidez, etc., que são essencialmente imorais. Não existe amor, atenção para com o outro, afeição, ternura, e a “respeitabilidade social” da sociedade é uma desordem extrema. A mente, que foi treinada durante milhares de anos para aceitar, para obedecer e ajustar-se, não é capaz de ser altamente sensível e portanto altamente virtuosa. Estamos aprisionados nesta armadilha. Sendo assim, que é então virtude? Porque ela é necessária.

Sem as bases adequadas, um matemático não vai muito longe. Do mesmo modo, se queremos compreender e ir mais além, até algo que é uma dimensão totalmente diferente, temos de alcançar a base correta;e essa base é virtude, que é ordem — mas não a ordem da sociedade, que é desordem. Se não tiver ordem, como é que a mente é capaz de ser sensível, cheia de vida, livre?

Virtude não é evidentemente a conduta repetitiva do ajustamento a um padrão que se tornou “respeitável”, e que o Sistema, quer neste país quer no resto do mundo, aceita como moralidade. Temos de ser muito claros, em reação ao que é virtude. Ela surge;não pode ser cultivada, tal como não se pode cultivar a humildade ou o amor. A virtude surge — com a sua beleza, a sua ordem natural — quando sabemos o que ela não é; pela negação descobrimos o positivo.

Não é definindo o positivo e imitando-o depois que a virtude nasce — isso não é virtude. Cultivar várias formas do que “deveria ser”, e a que as pessoas chamam de virtude — como a não-violência, por exemplo — “praticando-as” dia após dia, até se tornarem mecânicas, não tem sentido.

A virtude existe de momento a momento, como a beleza, como o amor. Não é algo que se acumule e a partir do qual se atue.Isto não é uma simples afirmação, para se aceitar ou não aceitar. Há desordem — não só na sociedade, mas também em nós mesmos, desordem total — e não se trata de criar ordem numa parte de nós, ficando o resto no campo da desordem; isso é outra dualidade e portanto contradição, confusão e luta. Onde há desordem tem de haver escolha e conflito. Só a mente que está confusa escolhe; para aquela que vê todas as coisas muito claramente, não existe escolha. Se estou confuso, as minhas ações serão também confusas.

A mente que vê com grande lucidez, sem distorção, sem qualquer preconceito pessoal, compreende a desordem e fica livre dela; essa mente é virtuosa, tem uma ordem natural — ordem, não de acordo com os Comunistas, os Socialistas, os Capitalistas ou qualquer Igreja, mas a ordem de quem compreendeu toda a medida da desordem dentro de si mesmo.

A ordem interior é semelhante à ordem absoluta das matemáticas. A mais alta ordem interior é como um absoluto; e não é cultivando-a que ela surge, nem é pela “prática”, pela opressão, pelo controle, pela obediência e pelo conformismo. Só a mente altamente dotada de ordem é capaz de ser sensível, de ser inteligente.

Cada um deve tomar consciência da desordem dentro de si mesmo, aperceber-se das contradições, dos conflitos dualistas, dos desejos opostos, das preocupações ideológicas e seu irrealismo. Tem de se observar aquilo que é, sem condenar, sem “julgar”, sem “avaliar”: vejo este microfone como microfone que é — não como algo de que gostou ou não gosto, considerando-o “bom” ou “mau” — vejo-o tal como é. Do mesmo modo, temos de ver-nos tal como somos, sem chamar “mau” ou “bom” àquilo que vemos, fazendo juízo de valor — o que não significa fazer o que nos apetece. Virtude é ordem. E não podemos ter dela uma “fotografia”, para depois nos ajustarmos; se fizermos isso, tornamo-nos imorais, ficamos em desordem. 

Krishnamurti — conferência na Universidade de Brandeis

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill