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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A ação criadora em que não existe um “eu” a se preencher

Pergunta: A fé no materialismo dialético suscitou uma onda de atividade criadora na Nova China. A fé religiosa parece tornar os homens complacentes e estra-terrenos. Pode a generosidade própria da índole espiritual combinar-se com a ação dinâmica do materialista?

Krishnamurti: é relativamente fácil, como vocês devem saber, inflamar-nos de entusiasmo pelo Estado, pela Liberdade, pela guerra ou pela paz, e identificar-nos com o Estado, com Deus, com uma ideia. O esquecer-nos a nós mesmos, ou melhor, o preencher-nos por meio da ideia do Estado, de Deus, ou da dialética materialista, é coisa relativamente fácil; infunde-nos um entusiasmo e uma capacidade espantosa. Como vocês pensam que se luta nas guerras — nas guerras que exigem o assassínio desapiedado, que acirram ódios, que impõem sofrimentos e sacrifícios, que nos desobrigam de todas as responsabilidades e nos transportam às frentes de batalha, para matar? Para tanto necessita-se um extraordinário grau de entusiasmo, energia, ímpeto, ódio, e do chamado amor da pátria, o qual faz o indivíduo preencher-se numa ação de tal ordem. Por conseguinte, para esse homem não há problema algum. Ele está vivendo. Analogamente, a identificação com o que chamamos Deus, o Estado, a identificação com a ideia, considera mais importante do que o “eu”, dá-nos evidentemente uma espantosa energia e força criadora. E o mesmo acontece no tocante à religião. Se sou um desses indivíduos ditos religiosos, isso me dá uma fé, uma capacidade, um ímpeto extraordinário. Temos de tudo isso nesse país. Quando vocês estavam lutando pela liberdade, eram capazes de tudo.

A luta pela liberdade representa preenchimento do “eu”, a pátria com que vocês se identificam representa um meio de fugirem de si mesmos. A luta, a dor, o sofrimento, para criar um mundo novo, uma Nova Índia, é um meio artificial de auto-esquecimento. É tudo preenchimento, de diferentes maneiras, do “eu”. Essas coisas nos dão uma energia extraordinária e transitória, provocam uma explosão de entusiasmo. Atrás de tudo isso, porém, está sempre o “eu”, na sua perpétua busca de plenitude; e o preenchimento, o desejo de preencher-se, produz conflito.

A religião, tal como vocês a conhecem e praticam, é uma rotina monótona, uma coisa morta, uma vez que está limitada pela tradição, pelo que Sankara disse, pelo que Buda disse. A mente, por conseguinte, empresta um significado ao que Sankara disse, ao que disse o Bhagavad-Gita, e esse significado constitui o caminho por onde vocês irão se preencher. A interpretação e os comentários de vocês, se tornam, por conseguinte, extraordinariamente importantes. Há uma falsa ação criadora, surgindo quando estão empenhados em se preencher. Não é criadora tal ação e sim, meramente, e sim uma progressão pela via da calamidade e do pensar condicionado. Mas há uma atividade que se acha muito além e muito acima desse impulso para o preenchimento do “eu”; e essa atividade só pode surgir depois de cessar definitivamente o nosso desejo de nos preenchermos, por diferentes maneiras.

Refleti a respeito de tudo isso, Senhores. Não se limitem a concordar ou discordar. É uma coisa essencial, para se alcançar a experiência, o verdadeiro “escutar”. Ele lhes comunicará uma energia incalculável, lhes dará uma vida isenta de mágoas, de opressão e de escravidão. Faz nascer uma ação criadora em que não existe “eu” a se preencher.

O “eu”, identificando-se com o Estado ou com determinado sistema, produz calamidades, cria antagonismo, cria inimizade, cria ódios. Se vocês se identificam com uma certa casta, não se sentem possuídos de assombroso entusiasmo e dispostos a manter essa casta, a lutar e a guerrear pra destruir todas as outras castas? O nosso problema, por conseguinte, não tem nada a ver com a mera identificação com uma “coisa maior”, e nem se acha ai a sua solução. Vejam mais uma vez como a nossa mente atua, como a nossa mente se movimenta, esperando compreender o todo através da parte. Pensamos que o todo é o Estado, a comunidade, a nação ou um ideal. O todo não é nenhuma dessas coisas, pois todas elas são “projeções” do pensamento, e o pensamento é sempre condicionado. Eis porque é impossível, quer por meio da religião, quer por meio dos livros, compreender-se o todo.

A experiência do todo só pode revelar-se e ser compreendida e sentida, quando a mente está totalmente cônscia de que se acha condicionada. Então, a mente, que é o centro do “eu”, o qual busca sem cessar o seu preenchimento e por conseguinte se evade através do entusiasmo — então a mente, reconhecendo a impossibilidade de mover-se em qualquer direção, se torna tranquila; e aí, nessa tranquilidade, há uma atividade que não é mero produzir, inventar, e sim uma atividade criadora. É essencial que se manifeste em cada um de nós esse estado criador, para desfazer as causas de todos os malefícios, sofrimentos e destruições. Você e eu somos entes humanos comuns; mas se descobrirmos esse estado criador, então este mundo será o nosso mundo, que vocês e eu estamos edificando juntos, vós e eu operando juntos, criando um mundo em que terá deixado de existir o sofrimento, a dor e a fome. Sem aquela Realidade Criadora, porém, qualquer outra ação é mera progressão no sofrimento, progressão do pensamento condicionado.

Krishnamurti – 2ª Conferência em Poona – Índia – 25 e janeiro de 1953

Do livro: Autoconhecimento — Base da Sabedoria

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill