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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O desejo de ser, ou de não ser, gera condicionamentos

Éramos três ou quatro na sala, e logo além da janela havia um gramado amplo e resplandecente. O céu era de um azul pálido, com grandes e movimentadas nuvens.

"Será possível", indagou o homem, "que a mente se livre de seu condicionamento? Se for, qual é o estado de uma mente que se descondicionou? Ouvi suas palestras durante vários anos, e dediquei muita reflexão ao assunto, mas minha mente não parece capaz de romper com as tradições e as ideias que foram implantadas na infância. Sei que sou tão condicionado quanto qualquer outra pessoa. Desde a infância, somos ensinados a nos conformar — brutalmente, ou com carinhos e sugestões gentis — até que a conformidade se torna instintiva, e a mente teme a insegurança de não se conformar.

"Tenho uma amiga que cresceu em ambiente católico", continuou ele, "e, naturalmente, ela ouviu falar sobre o pecado, o fogo do inferno, as alegrias confortadoras do céu e tudo mais. Ao chegar à maturidade, e depois de muito pensar, ela abandonou a estrutura católica de pensamento; mas, mesmo agora, na vida adulta, ela se vê influenciada pela ideia de inferno, com seus pavores contagiantes. Embora minha formação seja um tanto diferente na superfície, tal como ela, também tenho medo de não me conformar. Vejo o absurdo do conformismo, mas não consigo me livrar dele; e, mesmo que pudesse, provavelmente estaria fazendo o mesmo de outra forma — simplesmente me conformando a um novo molde."

"Essa também é minha dificuldade", disse uma das senhoras. "Vejo com bastante clareza as muitas maneiras pelas quais estou presa à tradição; mas será que posso me livrar de meu presente cativeiro sem recair em outro? Há pessoas que passam de uma organização religiosa, sempre buscando, nunca satisfeitas; e quando finalmente, ficam satisfeitas, tornam-se terrivelmente chatas. Provavelmente, é o que acontecerá comigo se eu tentar romper com meu presente condicionamento: sem perceber, serei arrastada para outro padrão de vida."

"Na verdade", continuou o homem, "a maioria de nós nunca pensou profundamente como a mente é quase completamente moldada pela sociedade e pela cultura em que crescemos. Não nos damos conta de nosso condicionamento, e simplesmente prosseguimos, lutando, buscando, ou sendo frustrados nos moldes de determinada sociedade. Esse é o destino de quase todos nós, incluindo políticos e líderes religiosos. Infelizmente, para mim, talvez, compareci a muitas de suas palestras, e logo começou a dor do questionamento. Durante algum tempo, não pensei no assunto com profundidade, mas, de repente, vi que me tornava sério. Andei experimentando, e agora estou consciente de muitas coisas em mim que jamais havia notado. Se eu puder continuar sem que os presentes sintam que estou tagarelando demais, gostaria de me aprofundar um pouco mais na questão do condicionamento".

Quando os outros lhe garantiram que também estavam profundamente interessados nesse tema, ele prossegui.

"após ouvir ou ler a maioria das coisas que você disse, percebi o quanto sou condicionado; e, da mesma maneira, vi que um indivíduo deve livrar-se do condicionamento — não apenas do condicionamento da mente superficial, mas também do inconsciente. Percebi a absoluta necessidade disso. Mas o que realmente está ocorrendo é o seguinte: o condicionamento que recebi em minha juventude continua, e, ao mesmo tempo, há um forte desejo de me descondicionar. Assim, minha mente está presa nesse conflito entre o condicionamento que percebo e a ânsia por me livrar dele. Essa é a minha situação atual. Como devo proceder agora?

O anseio da mente por se libertar do condicionamento põe em marcha outro padrão de resistência e condicionamento, não? Ao se tornar consciente do padrão ou molde em que cresceu, você deseja libertar-se dele; mas esse desejo de liberdade não condicionará a mente mais uma vez, de maneira diferente? O antigo padrão insiste que se conforme à autoridade, e, agora, você está desenvolvendo uma nova autoridade, que insiste que você não deve se conformar; assim, você tem dois padrões em conflito entre si. Enquanto houver essa contradição interna mais condicionamentos ocorrerão.

"Sei que o antigo padrão é completamente absurdo e morto, e que preciso libertar-me dele; caso contrário, minha mente continuará da mesma maneira estúpida".

Sejamos pacientes e nos aprofundemos na questão. A velha regra lhe dizia para se conformar, e por diversas razões — medo da insegurança, entre outras — você se adaptou. Pois bem, por razões de um tipo distinto, mas nas quais ainda há medo e desejo de segurança, você sente que não deve se conformar. É isso que ocorre, não?

"Sim, mais ou menos. Mas o antigo é estúpido, e eu tenho de me livrar da estupidez."

Permita-me destacar que você não está ouvindo. Segue insistindo que o antigo é mau, e que você precisa do novo. Mas alcançar o novo não é o problema, em absoluto.

"Este é meu problema, senhor."

Será. Você acredita nisso, mas vejamos. Por favor, não prossiga com seus pensamentos sobre o problema, apenas ouça, pode ser?

"Vou tentar."

Uma pessoa se conforma instintivamente por várias razões: por apego, medo, desejo de recompensa e assim por diante. Essa é a primeira reação de um indivíduo. Porém, chega alguém e diz que o indivíduo deve se livrar do condicionamento, e daí surge o anseio por não se conformar. Está entendendo?

"Sim, senhor, está claro."

Pois bem, há alguma diferença essencial entre o desejo de se conformar e o anseio por libertar-se da conformidade?

"Parece que deveria haver, mas realmente não sei. O que me diz, senhor?"

Não cabe a mim dizer, nem a você aceitar. Será que você não tem de descobrir por si mesmo se existe alguma diferença fundamental entre esses dois desejos aparentemente opostos?

"Como posso descobrir?"

Ao não condenar o primeiro nem buscar ansiosamente pelo segundo. Qual é o estado da mente que anseia por livrar-se da conformidade, e que a rejeita? Por favor, não me responda, apenas sinta, realmente vivencie esse estado. As palavras são necessárias para a comunicação, mas não são a experiência real. A menos que você realmente vivencie e compreenda esse estado, seus esforços por se libertar só provocarão a formação de outros padrões. Não é assim?

"Não compreendo muito bem."

Certamente, não dar fim completo ao mecanismo que produz padrões, moldes, sejam eles positivos ou negativos, implica continuar num padrão ou condicionamento modificado.

"Eu compreendo isso verbalmente, mas não o sinto de fato."

Para um homem faminto, a mera descrição da comida não têm valor; ele deseja comer.

Há o anseio que forma a conformidade e o anseio por ser livre. Independente do quão diferentes pareçam dois anseios, não são fundamentalmente semelhantes? E, se assim são, então sua busca por liberdade é vã, pois você apenas se deslocará de um padrão a outro, incessantemente. Não há qualquer condicionamento nobre, ou melhor, todo condicionamento é dor. O desejo de ser, ou de não ser, gera condicionamentos, e é esse desejo que deve ser compreendido.

Krishnamurti

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill