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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Como promover a essencial mudança radical em nós mesmos?

Dissemos outro dia que se faz necessária uma revolução radical, não só na estrutura da sociedade, mas também psicologicamente. Há uma necessidade de uma total mutação interior, de uma revolução no ser psicológico.


Vemos a sociedade mergulhada numa terrível desordem, baseada que está na avidez, na inveja, no poder, na posição, etc. E nós, entes humanos, componentes da sociedade vemo-nos também em desordem. Porque a vida do ente humano em geral — a rotina diária, o diário tormento de ganhar o sustento — terrível solidão e tédio, interminável repetição — pouco significa. Para dar significado e sentido à vida, inventaram os intelectuais, em todo o mundo, no Ocidente e no Oriente, filosofias e religiões; disseram: “Existe Deus; há um certo estado mental que devemos esforçar-nos para alcançar”. Também um grande número de filósofos têm dito coisas sem nenhuma relação com a vida. Tem-se tentado dar-lhe significado, porém, na realidade — não intelectual ou idealmente considerada — a vida, tal como é, tal como a conhecemos diariamente, é na verdade absolutamente sem significação. Sem significação, não só porque nós, entes humanos, nos achamos num estado de desordem, mas porque nossa vida é toda de repetição. Passamos anos inteiros num escritório — quarenta ou cinquenta — a executar incessantemente coisas desinteressantes e, é bem de ver, interiormente a desordem é cada vez maior. Exteriormente, tem-se tentado estabelecer a ordem mediante a legislação, mediante a ditadura sob várias formas, mediante o controle da mente e do comportamento humano — criando-se, no exterior, politicamente, economicamente, um simulacro de ordem, enquanto interiormente, nenhuma ordem existe. A ordem implica — não é verdade? — um estado inteiramente livre de conflito; um estado mental lúcido, livre de toda rotina; um estado mental não condicionado por inclinações ou tendências pessoais ou compelido por influências externas, ambientes. E essa ordem — assim me parece — deve nascer sem esforço algum de nossa parte; ela não pode ser produzida pela vontade, pelo empenho, no terreno dos conceitos e das ideias. Em nossa mente confusa, em nossa aflição, em nossa infinita solidão e conflito, tal esforço não pode, de modo nenhum, criar a ordem, porém, tão-só, aumentar a confusão.

Que fazer? Que deve fazer um ente humano, ao compreender que está confuso, incerto, vivendo uma vida de rotina, de imitação, de ajustamento a um padrão estabelecido pela sociedade de que faz parte, e percebendo a um só tempo a necessidade de ordem dentro de si mesmo? Se não há ordem interior, por maior que seja a ordem exterior, a desordem interior superará o simulacro de ordem externa. Isso me parece bastante claro. Assim, como estabelecer ordem nós mesmos?

Ordem significa um estado mental em que não há contradição e, portanto, nenhum conflito. Isso não implica estagnação ou declínio. A ordem que obedece a uma fórmula, a um ideal ou conceito é, simplesmente, desordem. Se um ente humano se ajusta a um padrão de pensamento — uma certa coisa ideal que ele deveria ser — nesse caso está meramente a imitar, a ajustar-se, a disciplinar-se, a forçar-se, a fim de adaptar-se a um molde. Assim fazendo (como na vida em sociedade vem sendo forçado a fazer há séculos e séculos, porquanto a sociedade trata sempre de controla-lo mediante diferentes sansões religiosas, leis, etc.), nesse caso, naturalmente, está sempre a produzir-se uma grande desordem. Essa me parece ser a razão básica da revolta que atualmente se observa em todo o mundo. As gerações mais novas estão tratando de lançar fora as ideias, os deuses, as normas de conduta da geração mais velha; tudo isso está sendo posto de lado; estão em revolta contra a sociedade, contra a ordem estabelecida. E, todavia, a ordem que estão buscando irá estabilizar-se, pouco a pouco, num padrão e, por conseguinte, criará a desordem neles próprios.

O problema, portanto, é este: Como promover a mudança radical? Essa é uma necessidade essencial e óbvia. Se existe um motivo para a mudança, nesse caso a pessoa está agrilhoada ou escravizada ao passado, uma vez que todos os motivos procedem do fundo de condicionamento de cada um.

Espero que, juntos, possamos examinar a fundo esta matéria. Se estais apenas a ouvir intelectual, emocional ou verbalmente, nesse caso não estamos trabalhando juntos; estais apenas a ouvir algumas séries de ideias e a concordar ou discordar — e isso tem muito pouco valor. Mas se, realmente, pudermos, todos juntos, penetrar este problema, destrinchá-lo de fato, vive-lo, nesse próprio ato de escutar poderá operar-se a revolução radical, psicológica.

Todos estamos de acordo (pelo menos intelectualmente) quanto a necessidade de uma mudança em toda a estrutura mental, no ser inteiro. Nesse sentido temos tentado vários meios: disciplina, ajustamento, obediência, seguir; ou temos aceito a vida tal qual é e tratado de vive-la a pleno; e, se temos certas capacidades, dinheiro, ao chegar a morte dizemos que vivemos uma boa vida e agora é chegado o fim dela. Podemos perceber que, para viver, necessita-se ordem — porque sem ordem não há paz — mas a ordem que se cria mediante a identificação do indivíduo com um conceito, uma ideia, uma fórmula, só produz isolamento. Embora a pessoa possa identificar-se com uma coisa tal o nacionalismo ou uma ideia de Deus, essa identificação causa separação e conflito. Por conseguinte, o identificar-nos com uma ideia, um conceito, não efetua nenhuma mudança radical.

Exteriormente, estão-se verificando enormes mudanças tecnológicas, porém, interiormente, continuo o mesmo que sou há séculos — em conflito, aflição, a batalhar comigo mesmo e com os outros; minha vida é um campo de batalha, todas as minhas relações baseiam-se em imagens formadas pelo pensamento. Sendo a vida um campo de batalha, desejo alterá-la, porque vejo que nenhuma possibilidade tenho de viver em paz, dentro de mim mesmo, ou com a sociedade, ou com meu semelhante, a menos que haja perfeita ordem, quer dizer, liberdade perfeita. A ordem só pode tornar-se existente quando há liberdade; e não é possível a liberdade pela escravização a uma ideia, ou a aceitação de uma certa teologia, ou o ajustamento a um certo padrão, imposto pela sociedade ou por mim próprio. Que devo fazer, então? Não sei se já refletistes a esse respeito; se o fizestes, deveis ter percebido que se trata realmente de um problema formidável. Que devo fazer, eu, um ente humano condicionado por milhões de anos, dotado de um cérebro que só funciona por padrões de autoconservação (autoconservação que leva cada vez mais ao isolamento e, portanto, a mais e mais conflito), que devo fazer? Percebendo todo este campo de batalha em que, como ente humano, estou vivendo, atormentado pelo medo, pelo sentimento de “culpa”, pelo desespero; apegado às memórias do passado; temendo morrer; vivendo numa semi-obscuridade, embora suficientemente engenhoso para inventar teorias de toda espécie; trabalhando, escrevendo livros, explicando, fazendo tudo o que em geral fazem os entes humanos — percebendo tudo isso, não como ideia, não como coisa existente fora de mim, porém, vendo realmente que essa é minha vida, que devo fazer? Como mudar toda estrutura psicológica de minha existência?

Se este é um problema que vos concerne tanto quanto concerne ao orador (não é propriamente um problema meu, mas estamos explorando juntos), que devemos fazer? É claro que não pode mais haver autoridade alguma, pois ninguém pode dizer-nos o que devemos fazer — nenhum sacerdote, nenhum teólogo, nenhum guru, nenhum livro, nenhum agente externo pode dizer-nos o que devemos fazer. Tudo isso já tentamos e não tem significação alguma, nem nunca a teve. Uma vez que não pode haver nenhuma autoridade, tenho de depender totalmente de mim mesmo. Entretanto, esse “eu mesmo” é uma entidade confusa. Quanto mais rejeito todo e qualquer agente externo que me prometa uma mudança dentro de mim mesmo — sanções, leis que me obrigam a fazer isto ou aquilo — quanto mais rejeito tudo isso, tanto mais cônscio me torno do enorme problema de “mim mesmo” — um ente confuso, incerto, ignorante. E, ao tornar-me cônscio disso, há mais medo, mais desespero e, como reação, uma reversão às condições anteriores, isto é, trato de ingressar em organizações políticas ou religiosas; se eu era católico, torno-me protestante; se era protestante, trato de seguir o Zen ou de adotar outra espécie de distração. E o problema fundamental fica sem solução.

Eis, pois a situação. Rejeitamos totalmente a autoridade externa — se a temos — percebendo que essa autoridade é uma das causas da desordem. Vemos que estivemos seguindo um certo “instrutor”, filósofo, salvador, e que o seguíamos por medo e não por amor. Se tivéssemos amor, não seguiríamos ninguém; o amor não obedece, o amor não conhece dever e responsabilidade. Uma pessoa segue, aceita, obedece, essencialmente porque tem medo — medo de não alcançar os seus fins, de errar o caminho, etc. — há dúzias de formas de medo. Interiormente, é dificílimo rejeitar a autoridade — a autoridade de outrem e também a autoridade de nossos próprios conceitos, de nossa passada experiência. Relativamente fácil é rejeitar a autoridade da sociedade; os monges o têm feito de várias maneiras e a moderna “geração mais nova” o está fazendo de diferente maneira. Mas, o livrar-nos da autoridade de nosso próprio condicionamento, de nossas experiências, da autoridade do passado é sobremodo importante, é essencial, porque é ela que gera a autoridade externa, e também o medo, dado o nosso desejo de certeza, segurança, proteção.

Assim, o libertar-nos do passado, que significa libertar-nos do medo, do medo psicológico, é, sem dúvida, o primeiro requisito da ordem. Podemos ficar totalmente livres do temor, tanto no nível consciente como no inconsciente?

Krishnamurti – 20 de abril de 1967 - A essência da Maturidade – Ed. ICK – pág. 20 à 24
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill