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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Sobre o estado de eterna criação

            Que é que impede essa constante renovação em nossa vida, que impede o novo de realizar-se? Não será porque não sabemos morrer a cada dia? Porque vivemos em estado de continuidade, num constante processo de transportar de dia para dia as nossas memórias, nossos conhecimentos, nossas experiências, nossas tribulações, nossas penas e sofrimentos, nunca encontramos num dia novo, sem a lembrança do anterior.  Para nós, a continuidade é a vida. Saber que eu continuo como memória, identificado com um determinado grupo, com um determinado conhecimento, com uma determinada experiência - para nós, isso é a vida; e o que tem continuidade, o que subsiste pela memória, como pode isso renovar-se?  Positivamente, só é possível a renovação quando compreendermos, na sua inteireza, o processo do desejo de continuar; e só quando cessa tal continuidade como entidade, como eu, no pensamento, só então se produz uma renovação.
            Afinal de contas, nós somos um feixe de lembranças: as lembranças da experiência, as lembranças que acumulamos pela vida, pela educação; e o eu é o resultado da identificação com tudo isso. Somos o resultado de nossa identificação com um determinado grupo francês, holandês, alemão, ou hindu.  Sem essa identificação com um grupo, com uma casa, um piano, uma idéia, ou uma pessoa, sentimo-nos perdidos; apegamo-nos por isso, à memória, à identificação, e essa identificação dá-nos continuidade, e a continuidade impede a renovação. Positivamente, só há possibilidade de renovar-nos quando sabemos morrer e renascer em cada dia, isto é, quando sabemos morrer e renascer em cada dia, isto é, quando estamos livres de toda identificação, que dá continuidade.
            A criação não é uni estado de memória, é? Não é um estado em que a mente está ativa. A criação é um estado mental, do qual o pensamento está ausente; enquanto o pensamento funciona, não pode haver criação. O pensamento é contínuo, é o resultado da continuidade, e para o que tem continuidade não pode haver criação, renovação; o que é contínuo só pode mover-se do conhecido para o conhecido, e, por conseguinte, nunca pode ser o desconhecido. Por essa razão, a compreensão do pensamento, e a maneira de por fim ao pensamento, são de grande importância. Pôr fim ao pensamento não é um processo de viver numa torre de marfim de abstração; pelo contrário, o findar do pensamento constitui a forma mais elevada da compreensão. O findar do pensamento gera a criação, e nesta há renovação; mas enquanto existir pensamento, não haverá renovação. Por esta razão é muito mais importante compreender como pensamos, do que considerar a maneira de renovar-nos. É só quando compreendo as tendências do meu próprio pensar, só quando percebo todas as suas reações, não apenas nos níveis superficiais, mas também nos profundos níveis inconscientes – é só então que, compreendendo a mim mesmo, o pensamento se extingue.
            O findar do pensamento é o começo da criação, o findar do pensamento é o começo do silêncio; mas o findar do pensamento não pode dar-se pela compulsão, nem por forma de disciplina, de constrangimento. Já devemos ter tido momentos em que nossa mente se achou muito tranqüila – espontaneamente tranqüila, sem nenhuma intenção de compulsão, sem nenhum impulso, nenhum desejo de fazê-la silenciosa. Já devemos ter experimentado momentos em que a mente esteve de toda quieta. Ora, essa tranqüilidade não é o resultado de continuidade, essa tranqüilidade nunca pode ser o produto de uma certa forma de identificação. A mente, num tal estado, deixa de existir; isto é, o pensar, como reação de um determinado condicionamento, deixa de existir. Este extinguir-se do pensamento é renovação, é o estado de novo, no qual a mente pode começar de maneira nova.
            Assim, a compreensão da mente, não como pensante, mas só como pensamento, a direta percepção da mente como pensamento, sem nenhum senso de condenação ou justificação, sem escolha, causa a extinção do pensamento. Vereis então, se o experimentardes, que depois da extinção do pensamento não existe mais pensante; e, quando não existe pensante, a mente está tranqüila. O pensante é a entidade que tem continuidade. O pensamento, vendo-se transitório, cria o pensante como entidade permanente, e dá continuidade ao pensante; e o pensante se torna então o agitador, mantendo a mente em estado de constante agitação, de constante busca, indagação, ansiedade. Só quando a mente compreende o processo total de si mesma, sem nenhuma forma de compulsão, há tranqüilidade e, por conseguinte, uma possibilidade de renovação.
            Assim, em todas essas questões o mais importante é compreender o processo da mente; e compreender o processo da mente não significa ação introspectiva, ação de auto-isolamento; não significa negação da vida, retraimento para um eremitério ou mosteiro, nem enclausuramento numa determinada crença religiosa.  Pelo contrário, toda crença condiciona a mente. A crença gera antagonismo; e a mente que crê nunca pode estar tranqüila, a mente presa a um dogma nunca saberá o que é ser criador. Logo, nossos problemas só podem ser resolvidos quando compreendemos o processo da mente, que é a criadora dos problemas; e o criador só pode deixar de existir ao compreendermos a vida de relação. A vida de relação é a sociedade, e para promover uma revolução na sociedade, cumpre compreender as nossas reações na vida de relação. A renovação, esse estado criador, só pode realizar-se quando a mente está de todo tranqüila, quando não está encerrada em atividade ou crença alguma. Quando a mente está quieta, totalmente tranqüila, porque o pensar se findou, só então há criação.

Krishnamurti - 9 de  abril de 1950.
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill