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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O sistema educacional como fator condicionante


Inquirir e aprender é função da mente. Por aprender não me refiro simplesmente ao cultivo da memória ou o acúmulo de conhecimentos , mas sim a capacidade de pensar de forma sã e clara, sem ilusões, e de partir de fatos e não de crenças e ideais. Não há aprendizagem quando o pensamento origina de conclusões. O simples adquirir informação ou conhecimento não é aprender. A aprendizagem implica o amor de compreender e o amor de fazer uma coisa por si mesma. A aprendizagem só é possível quando não há nenhum tipo de coerção. E a coerção assume muitas formas, não é verdade? Há coerção por meio de influência, por meio de ameaça ou de apego, por meio de encorajamento persuasivo ou de formas sutis de recompensa.

A maioria das pessoas pensa que a aprendizagem é encorajada através de comparações, ao passo que a verdade é precisamente o contrário disso. As comparações produzem decepções e só estimulam a inveja, que se chama competição. Como outras formas de persuasão, a comparação impede a aprendizagem e produz o medo. A ambição também provoca medo. A ambição, seja pessoal ou identificada com o coletivo, é sempre anti-social. A assim chamada ambição nobre no relacionamento é fundamentalmente destrutiva.

É necessário encorajar o desenvolvimento de uma boa mente — uma mente capaz de lidar com as muitas questões da vida como um todo, e que não procure escapar das mesmas, e, desse modo, tornar-se contraditória, frustrada, amargurada e cínica. E é essencial que a mente tome consciência de seu próprio condicionamento, de suas próprias motivações e objetivos.

Visto que o desenvolvimento de uma boa mente é uma de nossas principais preocupações, a forma de ensinar torna-se muito importante. É preciso cultivar a totalidade da mente, e não a mera transmissão de informações. No processo de comunicação de conhecimento, o educador tem de convidar os estudantes à discussão e estimulá-los a inquirir e a pensar de forma independente.

A autoridade, como “aquele que sabe”, não tem lugar no processo de aprendizagem. Tanto o educador como o estudante estão aprendendo, através de seu relacionamento especial um com o outro; mas isso não quer dizer que o educador não deva levar em conta a boa ordem do pensamento. Essa boa ordem não é produzida por meio da disciplina, sob forma de afirmações convictas de conhecimento; mas ela ocorre naturalmente, quando o educador compreende que, ao cultivar a inteligência, é preciso haver uma sensação de liberdade. Isto não quer dizer liberdade para fazer o que se quiser, ou de pensar com espírito de mera contradição. Trata-se da liberdade em que o estudante é ajudado a tomar consciência de suas próprias necessidades e motivações, que lhe são reveladas através de seu pensamento e ação diários.

Uma mente disciplinada nunca é uma mente livre, nem pode ser livre a mente que suprimiu o desejo. Só através da compreensão de todo o processo do desejo é que a mente pode ser livre. A disciplina sempre limita a mente a um movimento dentro do quadro de um sistema particular de pensamento ou de crença, não é verdade? E essa mente nunca é livre para ser inteligente. A disciplina acarreta submissão à autoridade. Ela proporciona a capacidade de agir de acordo com o modelo de uma sociedade que exige capacidade funcional, mas não desperta a inteligência que tenha capacidade própria. A mente que não cultivou nada, senão a capacidade através da memória, é como o moderno computador eletrônico que, embora funcione com assombrosa capacidade e precisão, continua apenas sendo uma máquina. A autoridade pode persuadir a mente a pensar em certa direção. Mas ser guiado a pensar numa determinada maneira, ou em termos de uma conclusão prévia não é absolutamente pensar; é apenas funcionar como uma máquina humana, o que produz irrefletido descontentamento, acarretando decepções e outras misérias.

(...) Qualquer espírito de comparação impede esse florescimento pleno do indivíduo, seja ele um cientista ou um jardineiro. A plena capacidade do jardineiro é idêntica à plena capacidade do cientista, quando não há comparação; mas, quando são feitas comparações, surgem o desprezo e as reações invejosas que criam conflitos entre os homens.

(...) Cumpre aqui fazer uma distinção entre função e status. O status, com todo o seu prestígio emocional e hierárquico, surge apenas da comparação de funções como sendo altas ou baixas. Quando cada indivíduo floresce até sua capacidade plena, passa a não haver comparação de funções; há apenas a expressão de sua capacidade como professor, como primeiro-ministro, ou como jardineiro, e assim o status perde seu aguilhão de inveja.

A capacidade funcional ou técnica agora é reconhecida por se ter um título junto ao próprio nome; mas se estivermos realmente interessados no desenvolvimento total do ser humano, nosso enfoque precisa ser completamente diferente. O indivíduo que tem capacidade pode graduar-se e apor o devido título ao seu nome, ou deixar de fazê-lo, como quiser. Mas ele conhecerá, por si mesmo, suas profundas aptidões, que não serão limitadas por um título, e a expressão delas não acarretará aquela confiança autocentrada que a mera capacidade técnica normalmente produz. Tal confiança é comparativa e, portanto anti-social. A comparação pode existir para fins utilitários; mas o educador não deve comparar as capacidades de seus alunos nem dar-lhes maior ou menor apreço.

(...) Se o aluno for ajudado, desde o princípio, a encarar a vida como um todo, com todos os seus problemas psicológicos, intelectuais e emocionais, não ficará amedrontado com ela.

A inteligência é a capacidade de encarar a vida com uma totalidade; e dar notas ou letras ao aluno não assegura inteligência. Ao contrário; degrada a dignidade humana. Essa avaliação comparativa paralisa a mente — o que não quer dizer que o professor não deva observar o progresso do estudante e manter o registro desse progresso. Os pais, naturalmente ansiosos por saber do progresso dos filhos, desejarão ter um relatório; mas se, infelizmente, eles não puderem entender o que o educador está procurando fazer, esse relatório tornar-se-á um instrumento de coerção no sentido de produzir os resultados que eles desejam, e desse modo anulará o trabalho do educador.

Os pais precisam entender o tipo de educação que a escola tenciona proporcionar. Em geral eles se satisfazem em ver os filhos sendo preparados para obter um diploma que lhes assegure a sobrevivência. Muito poucos estão interessados em algo mais que isso. É claro que desejam ver os filhos felizes; mas, além desse vago desejo, bem poucos fazem qualquer tipo de reflexão acerca do desenvolvimento total deles. Visto que a maioria dos pais deseja, acima de tudo, que seus filhos tenham uma carreira de sucesso, eles os ameaçam ou induzem afetuosamente a adquirir conhecimento, e assim o livro se torna muito importante; com isso, vem o mero cultivo da memória, a mera repetição, sem a qualidade do verdadeiro pensamento por trás dela.

Talvez a maior dificuldade que o educador tenha de enfrentar seja a indiferença dos pais em relação a uma educação mais ampla e mais profunda. A maioria dos pais está interessada apenas no cultivo de algum conhecimento superficial, que assegura aos seus filhos posições respeitáveis numa sociedade corrupta. Assim sendo, o educador não só tem de educar as crianças de maneira certa, como ainda precisa evitar que os pais anulem qualquer benefício porventura produzido na escola. Na verdade, a escola e o lar devem ser centros conjuntos da educação correta, não devendo, de modo algum, opor-se um ao outro, desejando os pais uma coisa e o educador algo inteiramente diferente... O total desenvolvimento da criança só pode ocorrer quando houver um relacionamento correto entre professor, aluno e pais... A aprendizagem é facilitada quando há uma atmosfera de afeição feliz e de consideração humana.

Franqueza emocional e sensibilidade só podem ser cultivadas quando o estudante se sente seguro em seu relacionamento com os professores. A sensação de segurança nos relacionamentos é uma necessidade primordial da criança. Há grande diferença entre a sensação de segurança e a sensação de dependência. Conscientemente ou não, a maioria dos educadores cultiva a sensação de dependência, e desse modo encoraja sutilmente o medo — o que os pais também fazem, à sua própria maneira, afetuosa ou agressiva. A dependência na criança é proporcionada mediante asserções autoritárias ou dogmáticas por parte dos pais e dos professores no tocante ao que a criança deve ser ou fazer. Com a dependência sempre há a sombra do medo, e esse medo obriga a criança a obedecer, a conformar-se, a aceitar sem discutir os editos e as sanções de seus maiores. Nessa atmosfera de dependência, a sensibilidade é esmagada; mas quando a criança sabe e sente que está segura, seu desenvolvimento emocional não é distorcido pelo medo.

Essa sensação de segurança por parte da criança não é o oposto de insegurança. É a sensação de estar à vontade, seja no lar ou na escola; a sensação e que ela pode ser o que ela é, sem sofrer nenhum tipo de compulsão; de que pode trepar numa árvore e não ser recriminada se cair. Ela só pode ter essa sensação de segurança quando seus pais e educadores estiverem profundamente interessados em seu bem-estar total.

É importante que numa escola a criança se sinta à vontade completamente segura, desde o primeiro dia de aula. Essa primeira impressão é da mais alta importância... O primeiro impacto desse novo relacionamento baseado na confiança, que a criança talvez nunca tenha tido antes, ajudará a promover uma comunicação natural, sem que os jovens encarem os mais velhos como uma ameaça a recear. Uma criança que se sinta segura tem seus próprios meios naturais de exprimir o respeito, que é essencial ao aprendizado. O respeito é isento de toda autoridade e de todo medo... É somente nessa atmosfera de segurança que podem florescer a franqueza emocional e a sensibilidade. Estando à vontade, sentindo-se segura, a criança fará o que melhor lhe parecer; mas, ao fazê-lo, descobrirá qual é a coisa certa a fazer, e sua conduta, então, não se deverá à resistência ou à obstinação, nem a supressão de sentimentos ou à mera expressão de uma necessidade momentânea.

Ter sensibilidade significa ser sensível a tudo que nos cerca — às plantas, aos animais, às árvores, ao céu, às águas dos rio, aos pássaros; e também ao estado de humor das pessoas que nos cercam, e aos estranhos pelos quais passamos. Esta sensibilidade acarreta a qualidade de reação não calculada, não egoísta, que é a verdadeira moral e a verdadeira conduta. Sendo sensível, a criança será franca, não será retraída em sua conduta; portanto, uma simples sugestão por parte do professor será aceita com facilidade, sem resistência nem atrito.

Krishnamurti — O verdadeiro objetivo da vida
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill