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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O que sois, o governo é

            PERGUNTA: Que devemos fazer para termos um governo deveras bom, e não simplesmente o governo “do povo pelo povo”?

            KRISHNAMURTI: Senhores, para terdes um bom governo, deveis em primeiro lugar compreender o que significa “governo”. Não façamos uso de palavras sem “referente”, palavras sem significação, sem algo em que se apóiem. A palavra relógio tem “referente”, mas a expressão “bom governo” não o tem. Para acharmos o seu “referente”, precisamos examinar o que significa “governo” e o que significa “bom”. Mas dizer, simplesmente, o que é um “bom governo” não tem sentido algum.
            Vejamos, pois, em primeiro lugar o que se entende por “bom”. Não estou esmiuçando, não estou procedendo como um estudante discutindo numa união; porque é muito importante descobrirmos o que estamos falando, em vez de fazermos, simplesmente, emprego de palavras que pouca significação têm. Bem sei que nos nutrimos de palavras. Produz impressão dizermos que temos um governo “do povo pelo povo”, e agitarmos a nossa bandeira — bem sabeis como é isso, como ficamos fascinados por palavras, quando os nossos corações e nossas mentes estão vazios. Verifiquemos, pois, o que significa “bom governo”.
            Que significa “bom”? “Bom” tem naturalmente um “referente”, baseado no prazer ou na dor. “Bom” é o que dá prazer, “mau” o que causa dor, quer exterior, quer interiormente (física ou psicologicamente). Isso é um fato. Estamos apreciando o fato, e não o que gostaríeis que ele fosse. Visto que buscais o prazer sob várias formas: segurança, conforto, poder, dinheiro — o fato é que o prazer é o que chamamos “bom”; e qualquer coisa que perturbe o estado de prazer, dizemos que “não é boa”. Não estou discutindo filosoficamente, mas com base na realidade. O prazer é o que desejais. Assim, evidentemente, chamais bom àquilo que vos dá segurança, conforto, posição, poder, garantia. Estais compreendendo? Isto é, um bom governo é aquele órgão que pode dar-vos o que desejais; e se o governo não vos dá o que quereis, tratais de derrubá-lo — se não for um governo totalitário. Mas até mesmo um governo totalitário pode ser destruído, se o povo disser: “Não o queremos”. Entretanto, nos dias de hoje é quase impossível a revolução física, porque os aviões e outras máquinas de guerra sem as quais não é possível, modernamente, uma revolução, estão nas mãos do governo. Assim, “bom” é aquilo que desejais, não é verdade? Senhores, não nos iludamos com palavras sobre o “bem” abstrato e o “mal” abstrato. O fato é que, em vossa vida diária, chamais “bons”, “nobres”, “eficientes”, etc., aqueles que vos dão o que desejais. O que desejais é satisfação, sob diferentes formas, e àquilo que vô-la pode dar, chamais benéfico.
            O governo, portanto, é o órgão que criais com o vosso desejo, não é verdade? Isto é, o governo sois vós mesmos. O que sois, o governo é, — o que é um fato bem evidente no mundo. Detestais um de terminado país e elegeis um governo que apóie o vosso ódio. Tendes inclinações comunalistas, e criais um governo com o vosso ponto de vista comunalista, — o que, mais uma vez, representa um fato bem óbvio, sobre o qual não há necessidade de nos estendermos. Visto que o que sois o governo é, como podeis ter um “bom governo”? Só podeis ter um bom governo quando houverdes transformado a vós mesmos. Do contrário, o governo não passa de mera máquina administrativa, um grupo de pessoas que elegestes para vos darem aquilo que desejais. Dizeis que não desejais a guerra, mas nutris todas as causas geradoras da guerra, como o nacionalismo, o comunalismo, etc. Sendo esta a vossa condição, criais um governo, uma sociedade à vossa imagem e semelhança. E tendo criado esse governo, o governo, por sua vez vos explora. Temos, pois, um círculo vicioso. Só pode haver um governo “bom” — não quero chamá-lo “bom” — só pode haver um governo são, quando fordes sãos. Senhores, não estejais a sorrir. Isso é um fato; não somos sãos, não somos criaturas humanas racionais, puras. Estamos desequilibrados, e por isso os nossos governos são desequilibrados. Será que julgais, senhores, que, vendo o mundo inteiro avassalado pela aterradora catástrofe da guerra e a produção de máquinas de guerra, será que julgais que um homem são não deseja pôr termo a isso? Um homem são procura averiguar quais são as causas a guerra, em vez de dizer: “esta é minha pátria, e eu tenho de defendê-la” — o que é infantil e estúpido.
            Pois bem: uma das causas da guerra é a avidez — a avidez por serdes algo maior do que vós — a qual vos leva a identificar-vos com a nação. Dizeis “sou hinduísta”, sou “budista”, sou “cristão”, sou “russo”, isto ou aquilo. Esta é uma das causas da guerra. E um homem equilibrado diz: “Quero livrar-me dessa insana limitação, que leva sempre à destruição final”. Precisamos primeiro criar sanidade, e não um plano de um governo novo, ou disso que chamais “governo bom”, e para serdes sãos precisais saber o que sois, precisais tomar conhecimento de vós mesmos. Mas isso não vos interessa. O que vos interessa é agitar bandeiras, ouvir discursos ocos, ser estimulados. Tudo isso são sintomas de insanidade, e como podeis esperar um governo são, quando os cidadãos não estão inteiramente despertos, quando só estão semi-vigilantes e desequilibrados?
            Senhores, se estais confusos, vós criareis o chefe confuso e ouvireis a voz desse homem confuso. Se não estais confusos, se estais lúcidos, não esperais que o governo vos diga o que deveis fazer. Porque desejais um governo? Porque, não sabendo amar racionalmente, humanamente, precisais de alguém que vos diga o que deveis fazer; por essa razão multiplicam-se as leis — temos leis e mais leis, determinando o que devemos e o que não devemos fazer. A culpa, portanto, é vossa. Vós sois responsáveis pelo governo que tendes ou ides ter. Porque, a menos que vos transformeis radicalmente, o que sois o vosso governo é. Se tendes uma mentalidade comunalista, criareis um governo igual a vós. E que significa isso? Mais desordem, mais destruição.
            Nessas condições, só haverá uma sociedade sadia, um mundo sadio, quando vós, como parte da sociedade, do mundo, vos libertardes, isto é, vos tornardes sadios. E só haverá sanidade, se abandonardes a autoridade, se vos livrardes do espírito nacionalista, do espírito patriótico, se tratardes os entes humanos como entes humanos, e não como brâmanes ou como indivíduos pertencentes a qualquer outra casta ou nação. E é impossível tratar os entes humanos como entes humanos se lhes dais rótulos, se os designais por um termo, se lhes dais um nome, como “hindú”, “russo”, isso ou aquilo? É muito mais fácil pôr etiquetas nos outros, porque então podemos passar por eles e dar-lhes pontapés, ou lançar bombas sobre a Índia ou o Japão. Mas se não tendes rótulos, e ides ao encontro das pessoas simplesmente como seres humanos, que acontece então? Deveis estar muito despertos, ser muito sensatos, nas vossas relações com outro. Mas como não desejamos fazer isso, criamos um governo acomodado às nossas conveniências.

Krishnamurti – 15 de agosto de 1948 – Novo Avesso à Vida
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill