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terça-feira, 10 de julho de 2012

Krishnamurti - Sobre a compreensão do desejo

Para a maioria de nós, o desejo é um verdadeiro problema: desejo de propriedade, de posição, de poder, de conforto, de imortalidade, de continuidade; desejo de ser amado, de ter alguma coisa permanente, satisfatória, perdurável, alguma coisa que transcenda os limites do tempo. Pois bem, o que é o desejo? Que é essa coisa que nos estimula e impele? Não estou sugerindo que nos satisfaçamos com aquilo que temos ou com o que somos, o que é simplesmente o oposto de desejar. Estamos procurando compreender o desejo, e se pudermos investigar o problema por meio de tentativas, com prudência, creio que promoveremos uma transformação que não constituíra apenas a substituição de um objeto de desejo por outro objeto. É isso o que em geral entendemos por “mudança”, não é? Sentindo-nos insatisfeitos com determinado objeto de desejo, procuramos um substituto para ele. Estamos perenemente passando de um objeto de desejo para outro, que consideramos superior, mais nobre, mais requintado; mas, por mais requintado, que seja, o desejo é sempre desejo, e nesse movimento do desejo há uma luta infindável, que é o conflito dos opostos.
Vocês não acham, pois, importante descobrir o que é o desejo, e ver se ele pode ser transformado? Que é o desejo? Não é o símbolo e a respectiva sensação? O desejo é sensação, ligada ao objeto que se quer alcançar. Existe desejo sem nenhum símbolo e a respectiva sensação? Não existe, evidentemente. O símbolo pode ser um retrato, uma pessoa, uma palavra, um nome, uma imagem, uma ideia, que me dá uma sensação que me faz gostar ou desgostar. Se a sensação é agradável, desejo alcançar, possuir, conservar o respectivo símbolo, e continuar a fruir esse prazer. De vez em quando, segundo minhas inclinações e intensidades, troco de imagem, de objeto. Se estou farto, cansado de uma forma de divertimento, busco nova sensação, nova ideia, novo símbolo. Rejeito a velha sensação e adoto uma nova, com palavras novas, novos significados, novas experiências. Resito à velha e cedo à nova, que considero superior, mais nobre, mais satisfatória. Há, assim, no desejo, resistência, e transigência, que implica tentação, e, naturalmente, no transigir, no ceder a determinado símbolo de desejo, há sempre temor e frustração.
Se observo em mim mesmo o processo do desejo, percebo que há sempre um objeto para o qual a mente se dirige, em busca de novas sensações, e que este processo subentende resistência, tentação e disciplina. Há a percepção, a sensação, o contato e o desejo, e a mente se torna o instrumento mecânico desse processo, cujos símbolos, palavras, objetos, constituem o centro em torno do qual se formam todos os desejos, apetites e ambições; esse centro é o “eu”. Enquanto houver esperança, anseio, haverá sempre o fundo do temor, o qual, por sua vez, reforça aquele centro. E uma revolução só é possível naquele centro, não à superfície, pois aí só pode haver processo de distração, mudança periférica, que conduz à ação maléfica.
Quando estou consciente de toda estrutura do desejo, percebo que minha mente se torna um centro morto, um processo mecânico de memória. Cansando-me de um desejo, passo automaticamente a preencher-me noutro desejo. Minha mente está sempre experimentando, dentro dos limites da sensação; ela é o instrumento da sensação. Quando me enfastia determinada sensação, busco uma nova, a que passo chamar de “conhecimento de Deus”, mas que é sempre sensação. Já estou farto do mundo e das suas tribulações e agora quero paz, paz perene; por conseguinte, medito, controlo e moldo minha mente, a fim de experimentar aquela paz. O experimentar daquela paz é ainda sensação. Minha mente, pois, é o instrumento mecânico da sensação, da memória, um centro morto, de onde procedem meus atos e pensamentos. Os objetivos que persigo são projeções da minha mente, sob a forma de símbolos, dos quais a mente deriva sensações. A palavra “Deus”, a palavra “amor”, a palavra “comunismo”, a palavra “democracia”, a palavra “nacionalismo”, todas elas são símbolos que proporcionam sensações à mente, e por essa razão a mente se apega a elas. Como vocês e eu sabemos, todas as sensações têm fim, e por isso passamos sempre de uma sensação para outra; e toda sensação reforça o hábito de buscar novas sensações. Nessas condições, a mente se torna apenas um instrumento de sensação e memória, e nesse processo nos vemos colhidos. Enquanto a mente estiver em busca de novas experiências, só será capaz de pensar em termos relativos à sensação; e qualquer experiência —que poderia ser uma experiência espontânea, criadora, vital, singularmente nova — ela a reduz imediatamente à sensação e se põem a buscar essa sensação, que se torna então memória. A experiência, por conseguinte, está morta, e a mente se torna simples reservatório estagnado do passado.
Esse processo nos é bem familiar, ainda que o tenhamos examinado pouco profundamente; mas parecemos incapazes de passar além. Queremos passar além, porque estamos cansados desta rotina interminável, desta busca mecânica de sensações; e a mente, por isso, projeta a ideia da verdade, de Deus; sonha com uma transformação vital em que ela desempenhe o primeiro papel, etc. Por esse motivo, nunca há um estado criador. Observo em mim mesmo esse processo de desejo, esse processo mecânico, repetitivo, que conserva a mente numa rotina, transformando-a num centro morto do passado, sem espontaneidade criadora. Há também momentos súbitos de criação, dessa criação que não procede da mente, que não procede da memória, que nada tem em comum com a sensação ou o desejo.
Nosso problema, por conseguinte, é o de compreender o desejo — não até que ponto ele deve chegar ou em que ponto deve parar, mas compreender o inteiro processo do desejo, das ânsias, dos anelos e apetites ardentes. Quase todos nós pensamos que a posse de poucas coisas denota ausência de desejo — e como veneramos aqueles que possuem poucas coisas! Uma tanga, um simpels manto, simbolizam nosso desejo de estarmos livres do desejo; mas é também uma reação muito superficial. Por que começarmos no plano superficial, renunciando às posses exteriores, quando nossa mente está atravancada por inumeráveis necessidades e desejos, crenças e lutas? Por certo, é que se deve operar a revolução, não no quanto possuímos, ou que roupas vestimos, ou quantas refeições fazemos. Mas tais coisas nos causam impressão, porque nossas mentes são superficiais.
O problema de vocês e o meu problema, consistem em ver se a mente pode libertar-se do desejo, da sensação. A criação, por certo, nada tem em comum com a sensação,; a realidade, Deus, ou o que vocês quiserem, não é um estado susceptível de ser experimentado como sensação. Quando vocês têm uma experiência, que acontece? Ela lhes deu certa sensação, um sentimento de exaltação ou depressão. Como é natural, vocês procuram evitar o estado de depressão; se no entanto, é uma alegria, um sentimento de exaltação, vocês o buscam. A experiência de vocês produziu uma sensação aprazível e querem “mais”; e esse “mais” fortalece o centro da mente, que está sempre ansiando por novas experiências. A mente, por conseguinte, nada pode experimentar de novo; ela é incapaz de experimentar uma cosia nova, porque seu acesso a coisas é sempre através da memória, do reconhecimento; e o que pode ser reconhecido pela memória não é a verdade, a criação, a realidade. Essa mente não pode experimentar a realidade; só pode experimentar sensações, e a criação não é sensação, é algo tremendamente novo, a cada momento.
Reconheço agora o estado de minha própria mente; vejo que ela é o instrumento da sensação e do desejo, ou melhor, que ela é a sensação e desejo e está mecanicamente absorvida na rotina. Nestas condições a mente é incapaz de receber ou sentir o que é novo; pois é bem óbvio que o novo tem de ser algo que está acima da sensação, que é sempre coisa velha. Esse processo mecânico, com suas sensações, tem de acabar, vocês não acham? O desejo de “mais”, a busca de símbolos, de palavras, de imagens, com suas respectivas sensações — tudo isso deve acabar. Só então é possível à mente encontrar-se naquele estado de criação em que o novo sempre se manifesta. Se quiserem compreender, sem ser hipnotizados por palavras, por hábitos, por ideias, e puderem ver quanto é importante deixar que o novo se manifeste constantemente em nossa mente, então talvez compreendam o processo do desejo, da rotina, do tédio, da constante ânsia de experiência. Creio que começaremos então a perceber que o desejo tem muito pouca significação na vida de um homem que está realmente buscando. Sem dúvida, há certas necessidades físicas, necessidade de alimento, de roupa, de moradia, etc. Mas essas necessidades nunca se tornam apetites psicológicos, sobre os quais a mente possa construir-se como centro de desejo. Além das necessidades físicas, toda forma de desejo — desejo de grandeza, de verdade, de virtude — se torna um processo psicológico com o qual a mente constrói a ideia do “eu” e se fortalece nesse centro.
Ao perceberem esse processo, ao se tornarem verdadeiramente conscientes dele, sem oposição, sem nenhum sentimento de tentação, sem resistência, sem justificativas, ou julgamento, descobrirão que a mente é capaz de receber o novo, e que o novo nunca é sensação e, por conseguinte, não pode ser reconhecido, reexperimentado. Ele é um “estado de ser” no qual a criação se manifesta, sem chamado, sem interferência da memória. Isso é a realidade.

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill