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domingo, 1 de julho de 2012

Krishnamurti — A Consciência - A Totalidade da Vida — O Percebimento

A Consciência — A Totalidade da Vida — O Percebimento

Ao vos tornardes cônscio do vosso condicionamento compreendereis a totalidade de vossa consciência. A consciência é o campo total onde funciona o pensamento e existem as relações. Todos os motivos, intenções, desejos, prazeres, temores, inspiração, anseios, esperanças, dores, alegrias, se encontram nesse campo. Mas nós dividimos a consciência em ativa e latente, em nível superior e nível inferior; quer dizer, na superfície todos os pensamentos, sentimentos e atividades de cada dia e, abaixo deles, o chamado subconsciente, as coisas que não nos são familiares, que ocasionalmente se expressam por meio de certas sugestões, intuições e sonhos.
Ocupamo-nos com um pequeno canto da consciência, que constitui a maior parte de nossa vida; quanto ao resto, a que chamamos subconsciente, com todos os seus motivos, temores, atributos raciais e hereditários, não sabemos sequer como penetrá-lo. Agora, pergunto-vos: Existe mesmo tal coisa — o subconsciente? Empregamos muito livremente essa palavra. Admitimos que essa coisa existe e todas as frases e terminologias dos analistas e psicólogos se insinuaram na nossa linguagem; mas, existe ela? E, por que razão lhe atribuímos tamanha importância? A mim ela parece tão trivial e estúpida como a mente consciente, tão estreita, tão fanática, condicionada, ansiosa e sem valor quanto ela.
Assim, será possível ficarmos completamente cônscios de todo o campo da consciência e não meramente de uma parte, de um fragmento? Se puderdes tornar-vos cônscio da totalidade, agireis sempre com vossa atenção total e não com uma atenção parcial. Importa compreender isso, porque, quando se está cônscio de todo o campo da consciência, não há atrito. Quando se divide a consciência — toda ela constituída de pensamento, sentimento e ação — em diferentes níveis, é então que há atrito.
Vivemos de maneira fragmentária. No escritório somos uma coisa, em casa somos outra coisa; falais de democracia e, no íntimo, sois autocrata; falais em amor ao próximo e ao mesmo tempo o estais matando na competição; uma parte de vós está ativa, a olhar, independentemente da outra. Estais cônscio dessa existência fragmentária em vós mesmo? E será possível ao cérebro, que dividiu o seu próprio funcionamento, o seu próprio pensar em fragmentos, tornar-se cônscio do campo inteiro? É possível olharmos o todo da consciência completa e totalmente, o que significa sermos entes humanos totais?
Se, a fim de compreender a estrutura total do "eu", de extraordinária complexidade, procederdes passo a passo, descobrindo camada por camada, examinando cada pensamento, sentimento e_ motivo, ver-vos-eis todo enredado no processo analítico, que vos levará semanas, meses, anos; e quando admitimos o tempo no processo da autocompreensão, temos de estar preparados para toda espécie de deformação, porquanto o "eu" é uma entidade complexa, que se move, vive, luta, deseja, nega; sujeita a pressões e tensões de toda espécie, que nela atuam continuamente. Descobrireis, assim, por vós mesmo, que não é esse o caminho que deveis seguir; compreendereis que a única maneira de olhardes a vós mesmo é fazê-lo totalmente, imediatamente, fora do tempo; e só podeis ver a totalidade de vós mesmo quando a mente não está fragmentada. O que vedes em sua totalidade é a verdade.
Mas, sois capaz disso? A maioria não o é, porque nunca nos abeiramos do problema com seriedade, porque na realidade nunca olhamos a nós mesmos. Nunca! Lançamos a culpa a outros, satisfazemo-nos com explicações, ou temos medo de olhar. Mas, quando olhardes totalmente, aplicareis toda a vossa atenção, todo o vosso ser, tudo o que tendes, vossos olhos, vossos ouvidos, vossos nervos; estareis atento com o mais completo auto-abandono e não haverá então mais lugar para o medo, para a contradição e, por conseguinte, não haverá mais conflito.
Atenção não é a mesma coisa que concentração. A concentração é exclusão; a atenção é percebimento total, que nada exclui. A maioria de nós não me parece estar cônscia, não só do que estamos dizendo aqui, mas também de nosso ambiente, das cores que nos rodeiam, das pessoas, da forma das árvores, das nuvens, do movimento da água. Isso acontece, talvez, porque estamos tão interessados em nós mesmos, em nossos insignificantes problemas, nossas próprias idéias, nossos prazeres, ocupações e ambições, que não podemos ficar objetivamente cônscios. Entretanto, muito se fala de percebimento. Certa vez, na índia, eu viajava de automóvel. Um motorista conduzia o carro, e eu ia sentado a seu lado. Atrás, três homens discutiam com muito ardor sobre o percebimento, fazendo-me de vez em quando perguntas sobre o assunto. Naquele momento, o motorista, que estava a olhar para outra parte, infelizmente, atropelou uma cabra, e aqueles três homens prosseguiram na discussão sobre o percebimento, completamente alheios ao atropelamento da cabra. Quando essa falta de atenção lhes foi apontada, os três cavalheiros, que tanto se empenhavam em estar atentos, demonstraram grande surpresa.
A mesma coisa acontece com a maioria de nós. Não estamos conscientes nem das coisas exteriores nem das interiores. Se desejais compreender a beleza de uma ave, de uma mosca, de uma folha, de uma pessoa, com todas as suas complexidades, tendes de dispensar-lhe toda a vossa atenção — e isso é percebimento. E só podeis dar toda a atenção quando tendes zelo, quer dizer, quando amais realmente o compreender; aplicais então ao descobrimento todo o vosso coração e toda a vossa mente.
Esse percebimento é coisa semelhante a viverdes com uma serpente em vosso quarto; observais cada um dos seus movimentos, sois altamente sensível a cada ruído que ela produz. Um tal estado de atenção é energia total; nesse percebimento se revela instantaneamente a totalidade de vós mesmo.
Ao vos olhardes dessa maneira profunda, podeis descer mais fundo ainda.   Empregando as palavras "mais fundo" não estamos fazendo comparação. Nós pensamos comparativamente — profundo e superficial, feliz e infeliz. Estamos sempre a medir, a comparar. Mas, será que existe em alguém mesmo tal estado — o superficial e o profundo? Quando digo "minha mente é superficial, mesquinha, estreita, limitada" — como sei dessas coisas? Porque comparei minha mente com vossa mente, que é mais brilhante, tem mais capacidade, é mais inteligente e alertada. Posso conhecer minha pequenez sem comparação? Quando sinto fome, não comparo essa fome com a fome que ontem senti. A fome de ontem é uma idéia, uma lembrança.
Se estou sempre a medir-me por vós, a esforçar-me para ser igual a vós, estou então negando a mim mesmo. Por conseguinte, estou criando uma ilusão. Ao compreender que a comparação, em qualquer forma, só leva a uma ilusão e um sofrimento maiores ainda (tal como acontece quando analiso a mim mesmo, aumentando o meu conhecimento pouco a pouco, ou identificando-me com algo fora de mim mesmo — o Estado, um salvador ou uma ideologia), ao compreender que todos esses processos só levam a mais ajustamento e conflito, abandono toda comparação. Minha mente já não está a buscar. Muito importa compreender isso. Minha mente já não está então a tatear, a buscar, a indagar. Isso não significa estar satisfeito com as coisas como são, porém, sim, que a mente não tem ilusão nenhuma. Pode então mover-se numa dimensão totalmente diferente. A dimensão na qual vivemos nossa vida cotidiana, de dor, de prazer, de medo, condiciona a mente, limita-lhe a natureza, e quando aquela dor, aquele prazer e aquele medo deixaram de existir (o que não significa não ter mais alegria; a alegria é coisa totalmente diferente do prazer), a mente passa então a funcionar numa dimensão diferente, na qual não existe conflito, nenhuma idéia de diferença.
Verbalmente, só podemos chegar até esse ponto; o que existe além não pode ser expresso em palavras, porque a palavra não é a coisa. Até aqui, pudemos descrever, explicar, mas nem palavras nem explicações podem abrir a porta. O que abrirá a porta é o percebimento e a atenção diários — percebimento da maneira como falamos, do que dizemos, de nossa maneira de andar, do que pensamos. Isso é como limpar e manter em ordem um aposento. Manter o aposento em ordem é importante a um respeito e totalmente sem importância a outro respeito. Deve haver ordem no aposento, mas a ordem não abrirá a porta ou a janela. O que abre a porta não é vossa volição ou desejo. Não se pode de modo nenhum chamar o outro "estado de espírito". O que se pode fazer é apenas manter o aposento em ordem, o que significa ser virtuoso por amor à virtude e não pelo que isso nos trará, ser equilibrado, racional, ordenado. Então, talvez, se tiverdes sorte, a janela se abrirá e a brisa entrará. Ou pode ser que não. Tudo depende do estado de vossa mente. E esse estado da mente só pode ser compreendido por vós mesmo ao observá-lo sem tentar moldá-lo, sem ser parcial, sem contrariá-lo, sem jamais concordar, justificar, condenar, julgar; quer dizer, estar vigilante sem fazer nenhuma escolha. E, em razão desse percebimento sem escolha, a porta talvez se abrirá e conhecereis aquela dimensão em que não existe o conflito nem o tempo.

Krishnamurti — Liberte-se do Passado - Ed. Cultrix/Pensamento
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill