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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A necessidade de uma disciplina psíquica

O objetivo do processo evolucionário é libertar cada vez mais a mente autoconsciente do homem da escravidão do subconsciente a fim de capacitá-lo a chegar a níveis de cognição que, na presente condição de cativeiro, ele jamais poderá alcançar. Tal como um homem acordando de um sonho assustador retoma seu estado normal com profunda sensação de grande alívio, também o vidente acordado contempla, com alegria e gratidão, o transcendente estado do ser recentemente alcançado, livre da entorpecedora prisão do mundo sensorial. Esse processo de libertação é muitíssimo retardado quando a mente consciente falha no afirmar-se e submeter-se, docilmente, às ordens do subconsciente.
A evolução espiritual não implica maior habilidade na penetração das regiões da mente humana que se situam logo abaixo da superfície, mas concorre para elevá-la a níveis de percepção que ela jamais possui antes. Todo o progresso da humanidade tem sido consequência desse aumento da percepção de mentes bem dotadas.
As mais graves desorganizações da civilização moderna devem sua existência à deplorável carência de métodos salutares de cultivo da mente e de formação de caráter para se adaptarem aos processos evolucionários interiormente ativos. Outrora, a religião, até certo ponto, supria a necessidade vital. Agora, porém, nova orientação é exigida. Os indivíduos que nascem com consciência mais aberta e dotados de inteligência excepcional são assim atirados num mundo inteiramente esquecido da necessidade de disciplinas psicológicas, a fim de que possam acertar o passo com o desenvolvimento interno.
O aumento alarmante de adeptos de drogas, de alcoólatras, de grandes fumantes, de histéricos, de deliquentes, de anarquistas, de ociosos e dos que se rebelam contra a sociedade, causando um aumento não menos alarmante de perturbações mentais, de crimes e de violência, constitui um resultado inevitável dessa grave negligência.
Se a humanidade tiver de ser salva do desastre, o cultivo voluntário da mente e a formação do caráter, como preparação para a vinda de uma consciência maior — pelo menos no caso de indivíduos geneticamente prontos para o desenvolvimento —, deveriam formar parte integrante de todos os sistemas educacionais, tal como são, hoje, o exercício físico e a higiene.
Não está longe o dia em que, com a compreensão da irresistível tendência evolutiva do corpo humano, a elite será compelida a curvar-se, submissa, diante dessa imperiosa exigência do cérebro humano em evolução que está levando a humanidade para um destino glorioso e predeterminado.
A resposta jamais poderá vir do intelecto, que já está cambaleando sob o peso dos conhecimentos que reuniu até o momento presente. Mas virá através de um canal superior de percepção paranormal, canal que a humanidade deve desenvolver para realizar o seu destino.
Toda a trama da vida humana, suas estruturas sociais, políticas, religiosas e educacionais, terão de ser remodeladas para se adaptarem a essa necessidade. O cultivo da mente e o rearmamento moral são os dois ingredientes mais essenciais para esse inevitável reajustamento. A humanidade encontra-se agora frente a frente com a situação mais crítica de sua carreira evolutiva, uma situação que pede reflexão, calma, estudo e pesquisa, e não os expedientes aleatórios que estamos adotando no momento.
Gopi Krishna







domingo, 30 de dezembro de 2012

Pode se libertar a mente do processo de deterioração?

Seria interessante e proveitoso examinarmos nesta tarde a questão relativa ao fator de deterioração da mente. Quando jovens, somos muito zelosos, temos tantas ideias entusiásticas, revolucionárias, mas em geral acabamos enredados numa dada atividade e, lentamente, nos esgotamos. Vemos isso acontecer ao redor de nós e dentro de nós mesmos; e é possível deter esse processo de deterioração  que constitui sem dúvida um dos nossos problemas principais? Se é ao capitalismo ou ao socialismo, à esquerda ou à direita, que cabe organizar o bem-estar mundial — agora, que a produção é imensa — não me parece ser esse o problema. Penso que o problema é muito mais profundo, e o problema é este: pode-se libertar a mente, de maneira que ela permaneça livre para sempre e, por conseguinte, não mais sujeita à deterioração?

Não sei se já pensastes neste problema, ou se já tendes observado como a pouco e pouco se esgota a vitalidade  o vigor, a vivacidade da nossa mente e ela se torna, gradualmente, um instrumento de hábitos e crenças mecânicos  um complexo de rotina e repetição. Se realmente temos pensado a este respeito, devemos ver que isso é um problema, para a maioria de nós. Quando vamos envelhecendo  o peso do passado, a carga das coisas lembradas, das esperanças, das frustrações, dos temores, tudo parece cercar e fechar a mente e dela nunca nos vêm coisas novas mas só repetições, um sentimento de ansiedade, uma perpétua fuga de si mesmo e, por fim, o desejo de encontrar alívio de alguma espécie, um pouco de paz, um Deus que nos satisfaça completamente.

Ora, se pudéssemos examinar bem esta questão, acho que seria muito proveitoso. Pode a mente ser libertada de todo esse processo de deterioração e ultrapassar a si mesma, não de maneira misteriosa ou miraculosa, não amanhã ou noutra data futura, mas imediatamente, instantaneamente  Esse descobrimento pode ser função da meditação. Porque é, pois, que nossa mente se deteriora? Porque é que nada existe de original em nós, que tudo o que sabemos é mera repetição, que nunca há constância de criação? Estes são os fatos, não é verdade? Que é que causa essa deterioração, e pode a mente detê-la? Iremos debater a este respeito, dentro em pouco, e espero tomeis parte na discussão.

A mim é bem óbvio que existirá necessariamente deterioração  enquanto houver esforço. E pode-se observar que nossa vida está toda baseada no esforço — esforço para aprender, adquirir, reter, ser alguma coisa ou renunciar ao que somos e virmos a ser outra coisa. Haverá sempre esta luta de ser ou vir a ser, consciente ou inconscientemente, voluntariamente ou sob o impulso de desejos ocultos; e esta luta não é a causa principal da deterioração da mente?

Como disse, nós vamos debater esta questão, depois de eu dizer mais umas palavras, e peço-vos portanto não fiqueis apenas a ouvir palavras. Estamos tentando descobrir juntos por que razão a onda de deterioração está sempre a perseguir-nos. Sei que existe o problema imediato da alimentação, do vestir e morar, mas acho que temos de considerar este problema de um ângulo diferente, se queremos resolvê-lo; e mesmo àqueles de nós que têm o suficiente para comer e vestir e têm onde morar, apresenta-se outro problema que ê muito mais profundo. Observa se no mundo tanto a existência da extrema tirania como de uma liberdade relativa; e se só nos interessasse a distribuição universal dos alimentos e outros produtos, então talvez a tirania absoluta pudesse ser útil. Mas nesse processo se destruiria a possibilidade de desenvolvimento criador do homem; e, se o que nos interessa é o homem total e não unicamente o problema social e econômico, neste caso acho que tem de surgir inevitavelmente uma questão muito mais fundamental. Porque existe este processo de deterioração, esta incapacidade de descobrir o novo, não no terreno científico, mas dentro de nós mesmos? Por que razão não somos criadores?

Se observardes o que está sucedendo, seja aqui, seja na Europa ou América, devereis perceber que quase todos estamos imitando, conformando-nos, obedecendo ao passado à tradição, e como indivíduos jamais descobrimos, profundamente, fundamentalmente, coisa alguma por nós mesmos. Vivemos como máquinas, de onde nos advém um certo sentimento de desdita, não é verdade? Não sei se realmente investigastes isto, mas parece-me que uma das causas principais desse conformismo é o desejo de nos sentirmos interiormente seguros. Para se estar em segurança psicologicamente, tem de haver separação, e para se estar separado necessita-se de esforço, esforço para ser algo; e esse pode ser um dos fatores que está impedindo o descobrimento de qualquer coisa nova, por parte de cada um de nós. Podemos discutir este ponto?

(Pausa)

Muito bem, senhores, vamos expressar o problema de maneira diferente. Vê-se que a meditação é necessária, uma vez que, por meio da meditação, se podem descobrir muitas coisas. A meditação abre-nos a porta a experiências extraordinárias, tanto fantasiosas como reais; e estamos sempre a indagar como se medita, não é verdade? Os mais de nós lemos livros que prescrevem um sistema de meditação, ou recorremos a um certo instrutor para que nos ensine a meditar. Mas nós, aqui, queremos saber, não como meditar mas o que é meditação; e a própria investigação para saber o que é meditação, é meditação. Entretanto nossa mente deseja saber como meditar e, desse modo facilita-se a deterioração.

Se o pensamento é capaz de investigar com muita profundeza e de desnudar-se diante de si mesmo, sem procurar corrigir, mas sempre vigilante a fim de descobrir; sem condenar, mas sempre examinando as coisas muito atentamente, então, esse estado mental pode chamar-se meditação. E essa mente, sendo livre, é capaz de descobrimentos. Para ela não existe deterioração, porque nunca há acumulação. Mas a mente que diz: "Ensina-me como tornar-me tranquila, como chegar , e me esforçarei para seguir o método que indicardes" — essa mente, é bem óbvio é imitativa, sem audácia e, por conseguinte, está provocando a própria deterioração.

Aos mais de nós só interessa o como, que é um meio de certeza, segurança. O como — por mais nobre, por mais exigente, por mais disciplinador que seja — só nos pode levar ao conformismo. A mente que quer ajustar-se pelos seus próprios esforços torna-se escrava de um método, perdendo, por conseguinte, a extraordinária capacidade de descobrimento. E se não houver o descobrimento, em vos mesmo, de algo original, novo, não contaminado, ainda que tenhais a mais perfeita organização para produzir e distribuir os meios de satisfazer as necessidades físicas, continuareis a ser igual a uma máquina. Por conseguinte, este problema vos concerne, não? Pode a mente, tão mecanizada que está, tão dominada pelo hábito, pelo passado, libertar-se do passado e descobrir o novo, chamai-o Deus ou como quiserdes? Podemos discutir sobre isto?

(Pausa)

Senhores, este problema é novo para vós, ou acaso nunca pensantes nestas coisas por esta maneira? Mais uma vez vou expressar o problema de modo diferente.

Sois bem versados no Upanishads, no Gita, na Bíblia, estais bem familiarizados com a filosofia do hinduísmo, do cristianismo, do comunismo, etc. Estas filosofias, estas religiões, muito evidentemente não resolveram o problema humano. Se dizeis: “O problema humano não foi resolvido porque não temos seguido estritamente os preceitos do Gita" — a resposta óbvia que se pode dar é que, seguir qualquer autoridade, por mais nobre ou tirânica que ela seja, torna a mente mecanizada, sem originalidade, tal qual um disco de gramofone, que só é capaz de repetir e repetir e repetir; e em tal estado não se pode ser feliz.

Agora, conhecedores deste fato, de que maneira vos lançaríeis ao descobrimento do Real, por vós mesmos? Compreendeis, senhores, Deus, a Verdade, ou o que quer que seja, tem de ser uma coisa totalmente nova, uma coisa fora do tempo, fora da memória, não achais? Não pode ser uma coisa lembrada, do passado, uma coisa que foi dita ou conjecturada, criada pela mente. E como ireis descobrir essa coisa? Certamente, ela só pode ser descoberta quando a mente está livre do passado, quando a mente deixa de criar imagens, símbolos. Quando a mente formula imagens, símbolos, não é isso um autêntico fator de deterioração. É provável seja isso o que está acontecendo na índia, bem como no resto do mundo.

Está claro o problema? Ou isso não é problema para vós?

Krishnamurti – Da solidão à plenitude humana

O aprendizado espiritual não pode vir das palavras

Eu não posso dar a você o meu entendimento. Eu posso falar acerca dele, mas não posso dá-lo a você. Você terá que encontrá-lo. Você terá que entrar na vida. Você terá que errar; você terá que falhar; você terá que passar por muitas frustrações. Mas somente através das falhas, dos erros, das frustrações, somente através do encontro do real viver, você chegará à meditação. Este é o motivo pelo qual eu digo que meditação é crescimento.

Algo pode ser compreendido, mas o entendimento que vem através do outro nunca pode ser mais do que intelectual. Eis porque Krishnamurti pede o impossível. Ele diz: "Não me entenda intelectualmente" — mas nada, exceto o entendimento intelectual, "pode vir de outro alguém". Eis porque o esforço de Krishnamurti tem sido absurdo. O que ele está dizendo é autêntico, mas quando exige mais do que compreensão intelectual do ouvinte, é impossível. Nada mais pode vir de alguém, nada mais pode ser entregue.

Mas o entendimento intelectual pode ser o bastante. Se você entender o que estou dizendo intelectualmente, você pode também entender o que não foi dito. Você pode também entender os vazios; o que eu não estou dizendo, o que eu não posso dizer. O primeiro entendimento tende a ser intelectual, porque o intelecto é a porta. Nunca pode ser espiritual. A espiritualidade é a luz interior.

Eu posso comunicar-me com você apenas intelectualmente. Se você pode realmente entender, então o que não foi dito pode ser sentido. Eu não posso me comunicar sem palavras, mas quando estou usando palavras, estou também usando silêncios. Você terá de estar consciente de ambos. Se somente as palavras estão sendo entendidas, então é uma comunicação; mas se você pode estar consciente dos vazios também, então é uma comunhão.

O indivíduo tem de começar em algum lugar. Todo começo tende a ser um falso começo, mas o indivíduo tem de começar. Através do falso, através do apalpar, a porta é encontrada. O indivíduo que pensa que começará apenas quando o começo correto estiver ali, nunca começará. Mesmo um passo falso é um passo na direção correta. Por que é um passo, um começo. Você começa a apalpar no escuro e através do apalpar a porta é encontrada.

Eis porque eu disse para estar consciente do processo linguístico — o processo das palavras — e para buscar uma consciência dos vazios, dos intervalos. Haverá momentos em que não haverá esforço consciente de sua parte e você se tornará consciente dos vazios. Este é o encontro com o Divino, o encontro com o existencial.

Quando quer que haja um encontro, não fuja dele. Esteja com ele. Será assustador em princípio; é propenso a ser. Quando quer que o desconhecido é encontrado, o medo se cria, porque para nós o desconhecido é morte. Assim, quando quer que haja um vazio, você sentirá a morte vindo para você. Então, morra! Apenas esteja nela e morra completamente no vazio. E você será ressuscitado. Por morrer sua morte no silêncio, a vida é ressuscitada. Você está vivo pela primeira vez, realmente vivo.

Assim, para mim, meditação não é um método, mas um processo; meditação não é uma técnica, mas um entendimento. Não pode ser ensinada; pode ser apenas indicada. Você não pode ser informado sobre ela, porque nenhuma informação é realmente informação. Ela é do externo e a meditação surge das suas próprias profundezas interiores.

Assim, procure, seja um buscador e não seja um discípulo. Então você não será um discípulo de algum guru, mas um discípulo da vida total. Então você não estará apenas aprendendo palavras. O aprendizado espiritual não pode vir das palavras, mas dos vazios, dos silêncios que lhe estão sempre cercando. Eles estão lá, até mesmo na multidão, no mercado, no bazar. Busque os silêncios, busque os vazios internos e externos e um dia você descobrirá que está em meditação.

A meditação vem para você. Ela sempre vem; você não pode trazê-la. Mas o indivíduo tem de estar em busca dela, porque somente quando você estiver em busca, você estará aberto para ela, vulnerável a ela. Você é um anfitrião dela. A meditação é um convidado. Você pode convidá-la e esperá-la. Ela vem a Buda, vem a Jesus, ela vem a todo o que está pronto, que está aberto e buscando.

Mas não a aprende de algum lugar; caso contrário, você será enganado. A mente está sempre procurando alguma coisa mais fácil. Isto se torna a fonte para a exploração. Então há gurus e charlatões, e a vida espiritual é envenenada.

A pessoa mais perigosa é aquela que explora o ímpeto espiritual de alguém. Se alguém rouba de você sua saúde, não é tão sério, se alguém falha com você não é tão sério, mas se alguém o engana e mata ou mesmo posterga o seu ímpeto em direção à meditação, em direção ao Divino, em Direção ao êxtase, então o pecado é grande e imperdoável.

Mas isto está sendo feito. Então esteja consciente disto e não pergunte a ninguém, "O que é meditação? Como meditar?" Ao invés disto, pergunte quais são os obstáculos, quais são os empecilhos. Pergunte porque não estamos sempre em meditação, onde o crescimento foi interrompido, onde fomos mutilados. E não busque um guru, porque os gurus são mutiladores. Qualquer um que dá fórmulas prontas não é um amigo, mas um inimigo.

Tateie no escuro. Nada pode ser feito. O próprio apalpar tornar-se-á o entendimento que o libertará da escuridão. Jesus disse: "A verdade é liberdade". Entenda esta liberdade. A verdade é sempre através do entendimento. Ela não é alguma coisa que você encontra e acha, é alguma coisa para dentro da qual você cresce. Assim, esteja na busca do entendimento, porque quanto mais entendido você se tornar, mais próximo estará da verdade. E em algum momento imprevisível, desconhecido, inesperado, quando o entendimento chegar a um apogeu, você estará no abismo. Você não é mais e a meditação é.

Quando você não é mais, você está em meditação. Meditação não é mais de você; está sempre além de você. Quando você está no abismo, a meditação está lá. Então o ego não está; então você não está.Então o ser é. Eis o que as religiões querem dizer por Deus: o ser supremo. Esta é a essência de todas as religiões, de todas as buscas, mas não será encontrada pronta em nenhum lugar. Assim, esteja alerta de todo aquele que a proclama.

Continue a tatear e não tenha receio do fracasso. Admita falhas, mas não repita as mesmas falhas. Uma vez é tudo; é o bastante. A pessoa que continua a errar em busca da verdade é sempre perdoada. É uma promessa das próprias profundezas da existência.

OSHO - A psicologia do Esotérico   

Compreendendo o vício da verbalização da existência

Meditação não é um método hindu; não é simplesmente uma técnica. Você não pode aprende-la. É um crescimento: um crescimento de sua vivência total, a partir da sua vivência total. Meditação não é algo que pode ser acrescentado a você tal como você está. Ela pode vir para você somente através de uma transformação básica, uma mutação. É um florescimento, um crescimento. O crescimento é sempre a partir do todo; não é uma adição. Você deve crescer em direção à meditação.

Este florescimento total da personalidade deve ser entendido corretamente. De outra forma, o indivíduo pode fazer jogos consigo mesmo, por ocupar-se com truques mentais. E há tantos truques! Não apenas você pode ser enganado por eles, não apenas não ganhará nada, como também num sentido real, você será prejudicado. A própria atitude de que há um truque na meditação — conceber a meditação em termos de método — é basicamente errada. E quando o indivíduo começa a brincar com truques mentais, a própria qualidade da mente começa a deteriorar.

Tal qual existe, a mente não é meditativa. Toda mente precisa mudar antes que a meditação possa acontecer. Então, o que é a mente tal qual existe agora? Como funciona?

A mente está sempre verbalizando. Você pode conhecer palavras, você pode saber línguas, você pode conhecer a estrutura conceitual do pensamento, mas isso não é o pensar. Ao contrário, é uma fuga do pensar. Você vê uma flor e você a verbaliza; você vê um homem atravessando a rua e você o verbaliza. A mente pode transformar cada coisa existencial em palavras. Então as palavras se tornam uma barreira, um aprisionamento. Esta constante transformação das coisas em palavras, da existência em palavras, é o obstáculo à mente meditativa.

Assim, a primeira exigência em direção à mente meditativa é tornar-se consciente de sua constante verbalização e ser capaz de pará-la. Apenas veja as coisas; não verbalize. Seja consciente da presença delas, mas não as transforme em palavras. Deixe as coisas serem, sem linguagem; deixe as pessoas serem, sem linguagem; deixe as situações serem, sem linguagem. Não é impossível; é natural. É a situação tal qual existe agora, que é artificial, mas nós nos tornamos habituados a isto, ela tornou-se tão mecânica, que nós nem mesmo temos consciência de que estamos constantemente transformando a experiência em palavras.

O nascer do sol está ali. Você nunca está consciente do vazio entre vê-lo e verbalizá-lo. Você vê o sol, você o sente e imediatamente você o verbaliza. A distância entre o ver e o verbalizar se perde. O indivíduo deve estar consciente do fato de que o nascer do sol não é uma palavra. É um fato, uma presença. A mente automaticamente transforma experiências em palavras. Estas palavras então surgem entre você e a experiência.

Meditação significa viver sem palavras, viver não linguisticamente. às vezes acontece espontaneamente. Quando você está apaixonado, a presença é sentida, não a linguagem. Quando dois amantes estão intimamente um com o outro, tornam-se silenciosos. Não que não haja nada para expressar. Ao contrário, há uma aflitiva quantidade de coisas a serem expressas. Mas as palavras nunca estão lá; não podem estar. Elas veem somente quando o amor se foi.

Se dois amantes nunca estão em silêncio, é uma indicação de que o amor morreu. Agora eles estão enchendo o vazio com palavras. Quando o amor está vivo, as palavras não estão lá, porque a própria existência do amor é tão dominadora, tão penetrante, que a barreira das palavras e da linguagem é ultrapassada. E comumente é somente ultrapassada no amor.

A meditação é a culminação do amor; amor não por uma pessoa em particular, mas pela existência total. Para mim, meditação é um relacionamento vivo com a existência que o cerca. Se você pode estar apaixonado com qualquer situação, então você está em meditação.

E isto não é um truque mental. Não é um método de imobilização da mente. Ao contrário, requer um profundo entendimento do mecanismo da mente. No momento em que você entende seu hábito mecânico da verbalização, de transformar a existência em palavras, um vazio é criado. Vem espontaneamente. Segue ao entendimento como uma sombra.

O problema real não é como estar em meditação, mas saber porque você não está em meditação. O próprio processo da meditação é negativo. Não está acrescentando algo a você; está negando alguma coisa que já foi acrescida.

A sociedade não pode existir sem linguagem; ela precisa da linguagem. Mas a existência não a necessita. Não estou dizendo que você deveria existir sem linguagem. Você terá que usá-la. Mas você deve ser capaz de ligar e desligar o mecanismo da verbalização. Quando você está existindo como um ser social, o mecanismo da linguagem é necessário; mas quando você está sozinho com a existência, você deve ser capaz de desligá-la. Se você não pode desligá-la se ela continua e continua e você é incapaz de pará-la — então você é um escravo dela. A mente deve ser um instrumento, não o mestre.
Quando a mente é o mestre, um estado não meditativo existe. Quando você é o mestre, sua consciência é o mestre, um estado meditativo existe. Assim, meditação significa tornar-se um mestre do mecanismo da mente.

A mente, e o mecanismo linguístico da mente, não é o supremo. Você está além dela; a existência está além dela. A consciência está além da linguística; a existência está além da linguística. Quando a consciência e a existência tornam-se uma, elas estão em comunhão. Esta comunhão é meditação.

A linguagem deve ser abandonada. Não estou dizendo que você tem de reprimí-la ou eliminá-la. Eu apenas quero dizer que ela não tem de ser um hábito de vinte e quatro horas por dia, para você. Quando você caminha, você tem de mover as pernas; mas se elas continuam a se mover quando você está sentado, então você está louco. Você deve ser capaz de desligá-las. Da mesma forma, quando você não está falando com ninguém, a linguagem não deve estar ali. É uma técnica para comunicar. Quando você não está se comunicando com ninguém, ela não deve estar ali.

Se você é capaz de fazer isto, você pode crescer para dentro da meditação. Meditação é um processo de crescimento, não uma técnica. Uma técnica é sempre morta, assim ela pode ser acrescentada a você, mas um processo é sempre vivo. Ele cresce, expande-se

A linguagem é necessária, mas você não deve sempre permanecer nela. Deve haver momentos em que não haja verbalização, quando você apenas existe. Não é que você esteja apenas vegetando. A consciência está lá. E é mais aguda, mais viva, porque a linguagem a obscurece. A linguagem limita-se a ser repetitiva, assim ela cria tédio. Quanto mais a linguagem é importante para você mais tedioso você será.

A existência nunca é repetitiva. Cada rosa é uma nova rosa, completamente nova. Nunca foi e nunca será de novo. Mas quando nós a chamamos rosa, a palavra "rosa" é uma repetição. Ela sempre esteve lá; sempre estará. Você matou o novo com uma palavra velha.

A existência é sempre jovem e a linguagem é sempre velha. Mediante a linguagem você foge da existência, você foge da vida, porque a linguagem é morta. Quanto mais envolvido você está com a linguagem, mais desvigorado você será por ela.

(...) Nós vivemos em palavras. Isto é, nós não vivemos. No fim há somente uma série de palavras acumuladas e nada mais. As palavras são como fotografias. Você vê algo que está vivo e tira uma foto. A foto está morta. Então você faz um álbum de fotografias mortas. Uma pessoa que não vive em meditação é como um álbum morto. Somente fotografias verbais lá estão, somente memórias. Não está vivo, tudo foi apenas verbalizado.

Meditação significa viver totalmente, mas você pode viver totalmente apenas quando está em silêncio. Por estar em silêncio não quero dizer inconsciente. Você pode estar silencioso e inconsciente, mas não é um silêncio vivo.  De novo você se engana.

Através de mantras você pode auto-hipnotizar-se. Por simples repetição de uma palavra, você pode criar tamanho tédio na mente, que a mente dormirá. Você cai no sono, cai na inconsciência. Se você continuar entoando "Ram-Ram-Ram", a mente adormecerá. Então a barreira da linguagem não está lá, mas você está inconsciente.

Meditação significa que a linguagem não deve estar lá, mas você deve estar consciente. De outra forma, não há comunhão com a existência, com tudo o que é. Auto-hipnose não é meditação. Nenhum mantra pode ajudar, nenhuma entoação pode ajudar. Ao contrário, estar em estado hipnótico é uma regressão. Não é ir além da linguagem, é cair abaixo dela.

Assim, abandone todos os mantras, abandone todas as técnicas. Deixe os momentos existirem onde as palavras não estejam. Você não pode livrar-se das palavras com um mantra, porque o próprio processo usa palavras. Você não pode eliminar a linguagem com palavras; é impossível.

Assim, o que deve ser feito? Aliás, você não pode fazer absolutamente nada, exceto entender. O que quer que você seja capaz de fazer, pode surgir somente de onde você está. Você está confuso, você não está em meditação, sua mente não está em silêncio, assim qualquer coisa que venha de você, apenas criará mais confusão. Tudo o que pode ser feito exatamente agora é começar a estar consciente de como a mente funciona. Eis tudo — apenas estar consciente. Consciência não tem nada a ver com palavras. É um ato existencial, não um ato mental.

Assim, a primeira coisa é estar consciente. Esteja consciente do seu processo mental, de como sua mente trabalha. No momento em que você se torna consciente do funcionamento de sua mente, você não é a mente. A própria consciência significa que você está além: à parte, uma testemunha. E quanto mais consciente você se tornar, mais você será capaz de ver os vazios entre a experiência e as palavras. Os vazios estão ali; mas você está tão inconsciente, que eles nunca são vistos.

(...) Quanto mais consciente você se torna, mais lenta a mente se torna. É sempre relativo. Quanto menos consciente você é, mais rápida a mente é; e quanto mais consciente você é, mais lento é o processo da mente. Quando você está mais consciente da mente, a mente diminui seu ritmo e os vazios entre os pensamentos se alargam. Então você pode vê-los.

Osho - A psicologia do esotérico

sábado, 29 de dezembro de 2012

Quando a pessoa se torna consciente, se torna só

Você não pode tornar outra pessoa responsável por sua evolução. Aceitar esta situação dá-lhe forças. Você está no seu caminho para crescer, para evoluir.

Nós criamos deuses, ou nos refugiamos nos gurus, de tal forma que não tenhamos responsabilidade por nossas próprias vidas, por nossa própria evolução. Nós tentamos colocar a responsabilidade em algum lugar distante de nós. Se nós não somos capazes de aceitar algum deus ou algum guru, nós tentamos então escapar da responsabilidade através de intixicantes, ou drogas, através de alguma coisa que nos torne inconscientes. Mas estes esforços para negar a responsabilidade são absurdos, juvenis, insfantis. Eles apenas postergam o problema; não são soluções. Você pode postergar até à morte, mas o problema ainda permanece, o seu novo nascimento continuará no mesmo caminho.

Uma vez que você começa a se tornar consciente de que somente você é responsável, não há escape através de nenhum tipo de insconsciênia. E você é tolo de tentar escapar, porque a responsabilidade é uma grande oportunidade para a evolução. Da luta que é criada, algo novo pode evoluir.

Tornar-se consciente significa saber que tudo depende de você. Mesmo seu deus depende de você, porque ele é criado por sua imaginação. Tudo no fundo é uma parte de você, e você é responsável por ela. Não há ninguém para ouvir suas desculpas, não há cortes-de-apelos. Toda responsabilidade é sua.

E você é sozinho, absolutamente sozinho. Isto precisa ser compreendido muito claramente. No momento em que uma pessoa se torna consciente, ela se torna só. Assim não fuja desse fato através da sociedade, dos amigos, das associações, das multidões. Não fuja dele! É um grande fenômeno; todo o processo da evolução trabalha em direção a isso. A consciência chega ao ponto agora onde você sabe que está só. E somente no estado de ser sozinho é que você pode atingir a iluminação.

Eu não estou falando de solidão. O sentimento de solidão é aquele que vem quando o indivíduo foge do estado de ser sozinho, quando o indivíduo não está pronto para aceitá-lo. Se você não aceitar o fato de ser sozinho, então você se sentirá solitário. Então você encontrará alguma multidão ou alguns meios de intoxicação nos quais esquecer-se a si mesmo. A solidão criará sua própria mágica do esquecimento.

Se você puder estar , mesmo que por um momento apenas, totalmente só, o ego morrerá; o “Eu” morrerá. Você explodirá, você não será mais. O ego não pode permanecer só. Ele só pode existir em relação a outros. Sempre que você está só, um milagre acontece. O ego torna-se fraco, agora ele não pode continuar a existir por muito tempo. Assim, se você pode ser corajoso o bastante para estar só, você gradualmente tornar-se-á sem ego.

Estar só é um ato muito consciente e deliberado, mais deliberado do que o suicídio, porque o ego não pode existir sozinho; mas ele pode existir no suicídio. As pessoas egoísticas são as mais propensas ao suicídio. O suicídio está sempre em relação a alguém. nunca é um ato de isolamento. No suicídio, o ego não sofrerá. Ao contrário, tornar-se-á mais expressivo. Entrará em um novo nascimento com força maior.

Através do isolamento interior o ego se desmancha. Não há nada com o que se relacionar, desta forma não pode existir. Assim, se você está pronto para estar só, não vacilantemente — nem retrocendendo nem fugindo, apenas aceitando o fato do isolamento tal como ele é —, tornar-se-á uma grande oportunidade. Então você é como uma semente que tem muito potencial nela. Mas lembre-se, a semente deve destruir-se a si mesma para a planta crescer. O ego é uma semente, uma potencialidade. Se ele é destruído, o divino nasce. O divino não é nem o “Eu” nem o “Vós”, é o um. Através do isolamento interior você chega a esta unicidade.

Você pode criar falsos substitutos para esta unicidade. Os hindus tornam-se um, os cristãos tornam-se um, os maometanos tornam-se um; a Índia é um, a China é um. Isto são apenas substitutos para a unicidade. A unicidade vem somente através do isolamento interior total.

Uma multidão pode chamar a si mesma de um, mas a unicidade está sempre em oposião a alguma outra coisa. Já que a multidão está com você, você se sente descontraído. Agora você já não é mais o responsável. Você não destruiria um templo sozinho, você não incendiaria uma mesquita sozinho, mas como parte de uma multidão você pode fazê-lo, porque agora você não individualmente responsável. Todos os outros são responsáveis, assim ninguém em particular é responsável. Não há consciência individual, somente consciência grupal. Você regride na multidão e se torna tal como um animal.

A multidão é um falso substituto para o sentimento de unicidade. Aquele que está consciente da situação, consciente da sua responsabilidade como um ser humano, consciente da dificuldade, da tarefa árdua que vem com o ser humano, não escolhe quaisquer substitutos falsos. Ele vive com os fatos como são; ele não cria qualquer ficção. Suas religiões, suas ideologias políticas, são apenas ficções, criando um sentimento ilusório de unicidade.

A unicidade vem somente quando você se torna ausente de ego, e o ego pode morrer somente quando você está totalmente só. Quando você está completamente só, você não é. Aquele exato momento é o momento da explosão. Você explode para dentro do infinito. Isto, e somente isto, é evolução. Eu a chamo revolução, porque não é inconsciente. Você pode tornar-se sem ego ou não. Depende de você.

Estar só é a única revolução real. Muita coragem é necessária. Somente um Buda está só, somente um Jesus ou um Mahavir está só. Não que eles tenham deixado suas famílias, abandonando o mundo. parece assim, mas não é assim. Eles não estiveram abandonando coisas negativamente. O ato era positivo; era um movimento em direção ao isolamento. Eles não estavam abandonando. Eles estavam em busca de encontrarem isolamento interior.

A busca toda é por aquele momento de explosão quando o indivíduo está isolado. No isolamento há regozijo. E apenas então a iluminação é obtida.

Nós não podemos estar isolados, os outros não podem tampouco estar isolados, assim nós criamos grupos, famílias, sociedades, nações. Todas as nações, todas as famílias, todos os grupos, são feitos de covardes, daqueles que não são corajosos o suficiente para esteram sós.

Coragem real é a coragem de estar só. Significa entendimento consciente do fato de que você é sozinhoe você não pode ser diferente. Você pode ou enganar-se a si mesmo, ou viver com este fato. Você pode continuar enganando-se a si mesmo por vidas e vidas, mas continuará simplesmente num círculo vicioso. Somente se você viver com este fato do isolamento, o círculo é quebrado e você pode vir ao centro. Aquele centro é o centro da divindade, do todo, do santo.

Osho — A Psicologia do Esotérico

Sendo o jardineiro de seu próprio ser

A consciência só surge após a meditação, nunca antes disso. Você não nasce com uma consciência. Pode observar as crianças pequenas: se elas veem uma formiga, elas a matam. Você acha que a criança tem alguma consciência? Você acha que a criança é uma criminosa, uma assassina?

Não, nada disso. Ela está apenas cheia de curiosidade, explorando seu mundo. Ela entrou num mundo novo, e está explorando-o. Mas não há a questão da consciência. Ela não sentq eu, quando ela está batendo num cachorro, sem a miníma razão, o cachorro também sente dor. As crianças não têm qualquer consciência; elas têm apenas as sementes.

Todos esses peloíticos estão tentando convercer a humanidade: “Você tem uma consciência”. Mas você não tem. Você terá que desenvolvê-la, terá que trabalhar consigo mesmo. Terá que aprender como ser silencioso, e como ouvir a tranquila e pequena voz interior.

Eu acho que nenhum desses políticos que fizeram esta Declaração tenha tido alguma experiência do que seja a consciência, do que seja estar consciente. Ela só acontece depois de uma longa, longa busca interior.

Você não recebe tudo pelo nascimento. Você nasce apenas com o necessário para a sia sobrevivência; todo o resto está em você apenas como semente. Se você está intencionalmente interessado em desenvolver sua consciência até seu pico mais alto, isso é por sua conta.

A natureza o provê apenas do essencial para a sobrevivência — não de vida, de alegria, de silêncio, de êxtase, de amor. A natureza pode se arranjar apenas com o sexo — qual a necessidade do amor? Para que criar complicações? O amor, você terá que encontrar. A consciência, você terá que fazer crescer. Você terá que se transformar num jardineiro do seu próprio ser — seu ser é seu jardim.

O seu ser é o Jardim do Éden, do qual a Bíblia fala. Esse Jardim do Éden não está em algum lugar numa outra estrela — está dentro de você. Você foi expluso dele, e tem andado por todos os lados, mas nunca tem entrado. No momento em que você vai para dentro, você está de volta ao Jardim do Éden. Mas, agora, ninguém tem cuidado desse jardim, por milhares de anos. Você nunca se volta para dentro. Tudo ficou na semente; agora nada floresce, nenhuma folhagem, nenhum verdor… Mas você pode trazer tudo de volta para a vida, porque tudo está potencialmente aí.

Essas pessoas não compreendem o que é consciência.

Elas aprenderam apenas palavras.

Osho — Sobre os Direitos Humanos Básicos

Encarando a atividade egocêntrica que cria divisões

Toda a nossa vida... é uma luta constante. Desde que nascemos até que morremos, a nossa vida é um campo de batalha. E nos perguntamos, não abstratamente mas realmente, se essa luta poderá acabar, se será possível viver completamente em paz, não só interior como exteriormente.

Embora de fato não haja divisão entre o interior e o exterior — na realidade o que há é um movimento — considera-se que essa divisão existe, não só quanto ao mundo dentro e fora da pele, mas também quanto à divisão entre “eu” e “tu”, “nós” e “eles”, o “amigo” e o “inimigo”, etc.

Traçamos um círculo à volta de nós próprios: um círculo em redor de “mim” e um círculo em redor de “ti”. Traçado o círculo — seja o do “eu” e do “tu”, seja da família, da nação, da fórmula, das crenças e dos dogmas religiosos, ou o círculo do conhecimento que se tece em redor de si mesmo — esses círculos separam-nos e existe assim esta constante divisão que invariavelmente produz conflito. Nunca passamos para lá do círculo, nunca olhamos para além dele. Temos medo de sair de nosso pequeno círculo e descobrir o círculo, a barreira à volta do outro. E penso que é aí que começa todo o processo, estrutura e natureza do medo. Ergue-se uma barreira em redor de si mesmo, encerrando um mundo privado cuidadosamente construído com fórmulas, conceitos, palavras e convicções. Então, vivendo dentro desses muros, fica-se com medo de sair para fora deles.

Esta divisão gera não só várias formas de comportamento neurótico, mas também muito conflito. E se porventura abandonamos um dos círculos, uma das barreiras, construímos outra, à volta de nós mesmo. Há assim esta constante e forte resistência feita de conceitos, e perguntamo-nos se é possível não ter nenhuma divisão: colocar fim a toda a divisão e desse modo eliminar todo o conflito.

As nossas mentes estão condicionadas por fórmulas: as minhas experiências, o meu conhecimento, a minha família, o meu país, o gostar e o não gostar, o antagonismo, o ciúme, a inveja, o sofrimento, o medo disto e o medo daquilo. Esse é o círculo, o muro por detrás do qual vivemos. E temos medo não só do que está do lado de dentro, mas muito mais do que está para lá do muro. Cada um, em si mesmo, pode observar este fato muito simplesmente, sem ter de ler muitos livros, sem ter que estudar filosofia, e tudo o mais. Pode muito bem ser que seja por se ler tanto do que outros têm dito que não se sabe nada acerca de si próprio, do que realmente se é, e do que de fato está se passando em si.

Se olhássemos para dentro de nós, colocando de lado o que pensamos que deveríamos ser, e vendo o que de fato somos, então, talvez descobríssemos a existência dessas fórmulas e conceitos — verdadeiros preconceitos e condicionamentos — que coloca o homem contra o homem. E assim, em todas as relações entre os homens, há medo e conflito — não só o conflito dos direitos territoriais, dos direitos sexuais, etc., mas também o conflito entre o que é e o que deveria ser.

Quando a pessoa observa esse fato em si própria — não como uma ideia, nem como uma coisa para que olha como estando de fora, mas olhando realmente para dentro de si — então pode descobrir se é de fato possível descondicionar a mente de todas as fórmulas e crenças, de todos os preconceitos e medos, e desse modo, talvez, viver em paz.

(...) Poderá o homem — vós e eu — viver completamente em paz — o que não significa levar uma existência monótona ou sem energia dinamizadora — poderemos nós descobrir se tal paz é possível? Tem de ser possível com certeza, de outro modo a nossa vida terá muito pouco sentido.

Por todo o mundo os intelectuais tentam encontrar um significado ou atribui um sentido à vida. As pessoas religiosas dizem que a existência é só um meio para atingir um fim, que é Deus — sendo Deus o verdadeiro significado. Se acontece de não se ser religioso, substitui-se então Deus pelo estado, ou inventa-se alguma outra teoria, nascida do desespero.

Assim, a nossa pesquisa consiste realmente em investigar se o homem pode viver em paz, de fato, não de maneira teórica, não como uma ideia, não como uma fórmula, de acordo com o qual se irá então viver pacificamente. Tais fórmulas, como dissemos, tornam-se muros — a minha fórmula e a tua fórmula, o meu conceito e o teu conceito — tendo como resultado divisão e constante batalha.

É possível viver sem fórmulas, sem divisão e portanto sem conflito? Não sei se alguma vez puseram a si mesmos esta pergunta, com toda a seriedade: se a mente poderá alguma vez ficar livre destas divisões do eu e do não-eu? Eu, a minha família, o meu país, o meu Deus; ou, se não tendo nenhum Deus, eu, a minha família, o Estado; e se não tenho Estado: eu, a minha família, e uma ideia, uma ideologia.

Será possível libertarmo-nos de tudo isso, não com o tempo, mas de um dia para o outro? Se aceitamos a teoria do eventual, não estamos a viver inteiramente: “eventualmente” seremos livres, ou “eventualmente” viveremos em paz. Isso, com toda a certeza, não serve: quando um homem tem fome, quer alimentar-se imediatamente. Qual é então o ato que libertará a mente de todo o condicionamento? O ato, não uma série de atos.

Reparemos na atividade egocêntrica que cria divisões: a atividade egocêntrica em redor de um princípio, de uma ideologia, de um país, de uma crença, em redor da família, etc. Essa atividade egocêntrica é separativa e portanto causa conflito. Ora, poderá esse movimento da fórmula — que é o “eu” com as suas memórias, o centro à volta do qual se constroem os muros — poderá esse “eu”, essa entidade separada com a sua atividade egocêntrica, terminar por completo, não por uma série de atos, mas por um só ato? Como sabem, tentamos eliminar os conflitos pouco a pouco, cortando a árvore em pequenos pedaços, sem nunca lhe atingirmos a raiz. Assim, pergunta-se se será de fato possível,  com um só ato, colocar fim a toda esta estrutura de divisão, colocar fim à separatividade, à atividade egocêntrica — todas elas geradoras de conflito, de guerra, de luta. Será possível?

(...) Portanto, supondo que se é suficientemente sério, qual é o nosso problema? Como viver a nossa vida aqui — não num mosteiro ou em algum mundo romântico de sonhos, não em algum mundo emocional, dogmático, regido pela droga — mas aqui e agora, todos os dias; como viver completamente em paz, com grande inteligência, sem qualquer frustração, sem medo: viver inteiramente, num estado de felicidade profunda — o que evidentemente implica meditação — este é na realidade o problema fundamental. E também se é possível compreender esta vida na sua totalidade: não em fragmentos, mas completamente — estar totalmente envolvido nela e não apenas empenhado numa parte; estar implicado no processo total de viver, sem conflito nenhum, sem angústia, sem confusão ou sofrimento. Este é o problema real. Porque só então se será capaz de criar um mundo diferente. É essa a verdadeira revolução, a revolução interior, psicológica, da qual nasce imediatamente uma revolução exterior.

(...) Vemos que estas divisões, estas fórmulas de “eu” e “não-eu”, “nós” e “eles”, por detrás das quais vivemos, originam medo. E se pudermos tomar consciência deste medo global, deste medo total, poderemos compreender estão qualquer medo particular. Ao passo que tentar compreender apenas um pequeno e limitado medo particular, embora muito ornamentado, não terá qualquer sentido até que se compreenda todo o problema do medo.

O medo destrói a liberdade. Podemos revoltar-nos, mas a liberdade não é isso. O medo perverte todo o pensamento, destrói toda a relação. Repare que não se trata só de palavras: é um fato evidente em toda a vida de cada um — existe medo do princípio ao fim. Medo da opinião pública, medo de não ser bem sucedido, medo da solidão, medo de não ser amado; e há ainda o comparar-nos a nós próprios com o herói do que “deveria ser”, originando assim mais medo. Além disso, o medo não reside apenas no nível observável da mente, estende-se também a zonas profundas. Queremos pois saber se este medo poderá acabar — não de modo gradual, não por partes, mas completamente.

Que é então este medo? Por que é que se tem medo? Será por causa do que está para lá do círculo, ou dentro do círculo — ou será por causa do próprio círculo? Compreendem o que queremos dizer? Não estamos a tentar descobrir a causa particular deste medo, porque, como ontem dissemos, a descoberta da causa, o processo analítico da compreensão da causa e efeito, não acaba necessariamente com o medo — tem-se jogado nisso há muito tempo. Mas quando se vê este medo — como se vê este microfone, o que ele realmente é — será que ele existe dentro do muro, ou do outro lado do muro, ou existe exatamente por causa do muro? Certamente que existe por causa do muro. Existe factualmente tal como é, quando o observamos, por causa do próprio muro. Como é então que surge o muro?

(...) Como é que surge então este muro de resistência, de divisão e de separação? Em tudo o que fazemos, em todas as nossas relações, por muito intimas que sejam, há essa divisão, a criar confusão, sofrimento e conflito. Como é que aparece esta barreira? Se somos realmente capazes de compreender isto — não verbalmente, não intelectualmente, mas capazes de vê-lo e de senti-lo de fato descobriremos que a barreira deixa então de existir.

(...) O muro surge por certo através do mecanismo do pensamento. Não? Antes de se pronunciarem, observem apenas, observem o pensamento. Se não houvesse pensamento acerca da morte, não se teria medo dela. Se não fossemos educados para sermos Cristãos, católicos, Protestantes, Hindus, Budistas ou sabe Deus que mais, se não estivéssemos condicionados pela propaganda, pelas palavras, pelo pensamento, não teríamos barreira alguma. E podemos ver de que maneira o pensamento, como “eu” e “tu”, origina isso. Com as suas atividades egocêntricas, o pensamento cria não só o muro, mas também a nossa própria atividade dentro do nosso muro.

É pois o pensamento, ao produzir divisão, que cria o medo. Pensamento é medo, tal como pensamento é prazer. Ontem vi algo muito belo: um belo rosto, um pôr de Sol maravilhoso, ou então aconteceu algo agradável; o pensamento pensa nisso: “como foi bom”. Observem isto, por favor: “que experiência tão agradável”, e o pensamento, pelo próprio ato de pensar, dá a essa experiência uma continuidade de prazer. Deste modo, o pensamento é o responsável não só pelo medo, mas também pelo prazer. Isto é bem claro, evidentemente: porque esta tarde se gostou de uma determinada refeição, quer-se que esse prazer se repita; ou teve-se uma experiência sexual, e o pensamento pensa nela, rumina-a, mastiga-a repetidamente, cria o quadro, a imagem, e quer tê-la outra vez. É a esse prazer repetido que chamam amor. E o pensamento, tendo criado o círculo, a barreira, a resistência, a crença, tem medo de que isso seja destruído, ao deixar entrar alguma coisa além do muro.

Assim, o pensamento gera tanto o prazer como o medo. Não se pode ter o prazer sem o medo; ambos andam juntos, porque são filhos do pensamento. E o pensamento é o filho estéril de uma mente que apenas se preocupa com o prazer e com o medo. Observem isto, por favor. Deixem-me lembrar-lhes outra vez que estamos a fazer a viagem juntos: estão a examinar-se, a observar-se a si mesmos no espelho das palavras.

Medo, sofrimento e prazer são assim resultado do pensamento. E todavia, o pensamento tem de funcionar logicamente, com sensatez de maneira sadia e objetiva, sempre que esse funcionamento é necessário, no mundo tecnológico — não na relação humana, porque no momento em que o pensamento ser intromete nesta relação há medo; então há nisso prazer e sofrimento. Não estou a dizer nenhuma insensatez: vós próprios podeis constatá-lo. O pensamento é a resposta da memória, da experiência e do conhecimento, e por isso é sempre velho e nunca é livre. Certamente que há “liberdade de pensamento”: ou seja, liberdade para dizer o que se quer. Mas o pensamento, em si, nunca é livre e nunca pode criar liberdade. O pensamento pode perpetuar quer o medo quer o prazer, mas não a liberdade. E onde há medo e prazer, o amor deixa de estar. O amor não é nem pensamento nem prazer. Mas para nós o amor é prazer e, portanto, medo.

Quando se toma consciência de toda esta questão da vida tal como é — não como gostaríamos que fosse, nem de acordo com algum filósofo ou algum sacerdote consagrado, mas como ela realmente é — pergunta-se se o pensamento pode ter o seu lugar adequado, e todavia não ter qualquer interferência em todo o relacionamento. Isto não significa uma divisão entre os dois estados de pensamento e não-pensamento. Como sabem, tem de se viver neste mundo, é preciso ganhar a vida, infelizmente, e ir para o emprego. Se alguma vez se conseguir que haja um governo capaz para o mundo inteiro, talvez então, não precisemos de trabalhar mais do que um dia por semana, deixando o resto aos computadores, o que nos permitirá ter tempo disponível. Mas enquanto isso não acontece, tem de se ganhar a vida, e ganha-la de maneira completa e eficiente. Contudo, no momento em que essa eficiência fica deformada, por exemplo pela avidez ou pelo terrível desejo de sucesso, e de ser “alguém”, surge a barreira do “eu” e do “não-eu” a originar competição e conflito.

Ao compreendermos tudo isto, como poderemos então viver com dignidade, com uma eficiência que não seja desumana, e ainda em completa relação, não só com a natureza, mas também com outro ser humano, uma relação em que não haja sombra do “eu” e do “tu” — essa barreira criada pelo pensamento?

Quando se compreende realmente tudo isto — não verbalmente mas de fato — o próprio ver, ver realmente, é o ato que destrói o muro da separação. Quando se vê o perigo de alguma coisa — um precipício, um animal perigoso, etc. — há ação. Pode bem ser que essa seja resultado de um condicionamento, mas não é um ato de medo: é um ato de inteligência.

Do mesmo modo, ver inteligentemente toda esta estrutura, a natureza desta divisão, o conflito, a luta, o sofrimento, o egocentrismo — ver realmente o seu perigo, significa o seu fim. E não há “como”. Assim, o que é importante é fazer a viagem por dentro de tudo isso — sem ser conduzido por outrem, porque não há guia — e ver o mundo tal como é: a extrema confusão, o infindável sofrimento do homem, vê-lo realmente. Então, o ver toda essa estrutura é o findar disso. 

Krishnamurti — extratos da conferência na Universidade de Stanford

Andando na corda bamba da Liberdade

Eu não sou contra as regras, mas as regras deveriam ser fruto do entendimento. Elas não deveriam ser impostas. Eu não sou contra a disciplina! Mas a disciplina não deveria ser escravidão. Toda verdadeira disciplina é autodisciplina. E a autodisciplina nunca vai contra a liberdade — na verdade, ela é a escada para a liberdade. Só as pessoas disciplinadas se tornam livres, mas a disciplina delas não é obediência aos outros; é obediência à própria voz interior. E elas estão prontas para arriscar qualquer coisa pela liberdade.

Deixe a sua própria percepção determinar o seu estilo de vida, o seu padrão de vida. Não deixe que ninguém determine isso por você. Isso sim é um pecado, deixar que outra pessoa decida por você. Por que é pecado? Porque você nunca estará na sua vida. Ela ficará superficial, será hipócrita.

Uma pessoa de percepção não é controlada nem pelo passado nem pelo futuro. Você não tem ninguém forçando-o a se comportar de uma determinada maneira. Os Vedas não estão mais na sua cabeça, Mahavira e Maomé e Cristo não estão mais obrigando você a seguir em nenhuma direção. Você está livre. É por isso que na Índia chamamos uma pessoa assim de mukta. Mukta significa uma pessoa totalmente livre. Ela é liberdade.

Neste momento, seja qual for a situação, a pessoa responde com plena atenção. Essa é a sua responsabilidade. Ser capaz de responder. A sua responsabilidade não é uma obrigação, é uma sensibilidade ao momento presente. O significado da responsabilidade muda. Não é responsabilidade com sentido de obrigação, de dever, de um fardo, de algo que tem de ser feito. Não, responsabilidade é só uma sensibilidade, um fenômeno semelhante a um espelho. Você fica diante do espelho e o espelho reflete, responde. Seja o que for que aconteça, a pessoa de percepção responde com todo o seu ser. Ela não se prende ao passado; é por isso que nunca se arrepende, é por isso que nunca sente culpa; tudo o que podia ser feito, ela fez, concluiu. Ela vive cada momento total e completamente.

Na sua ignorância, tudo fica incompleto. Você não concluiu nada. Milhões de experiências estão dentro de você, esperando por uma conclusão. Você queria rir, mas a sociedade não permitia. Você reprimiu o riso. Essa risada aguarda ali como uma ferida. Que estado deplorável! Até a risada vira uma ferida! Quando não o deixam rir, a risada se torna uma ferida, uma coisa incompleta dentro de você, esperando algum dia ser concluída.

Você amou alguém, mas não conseguiu amar totalmente, o seu caráter proibiu esse amor, a voz da sua consciência não o permitia. Até mesmo quando você está com o seu amor numa noite escura, sozinhos no seu quarto, a sociedade está presente. Vocês são constantemente vigiados. Não estão sozinhos. Você tem uma voz da consciência, a pessoa amada tem uma voz da consciência: como podem ficar sozinhos? Toda a sociedade está ali, toda a praça do mercado está ali, ao redor de vocês. E Deus, olhando lá de cima, observando vocês, olhando o que estão fazendo, ele parece um abelhudo universal, um voyeur — fica observando as pessoas. A sociedade usa os olhos de Deus para controlar você, para torná-lo um escravo. você não pode nem amar totalmente, não pode odiar totalmente, não pode se zangar totalmente. Você não pode ser total em nada.

Você come sem entusiasmo, caminha sem entusiasmo, ri sem entusiasmo. Não pode chorar — você está segurando milhões de lágrimas nos olhos. Tudo é um fardo, uma carga pesada; todo o seu passado, você está carregando desnecessariamente. E esse é o seu caráter.

Um buda não tem caráter, porque ele é fluido, porque é flexível. Caráter significa inflexibilidade. É como uma armadura. Ela protege você de certas coisas, mas depois o mata, também.

Osho - O Livro da sua Vida

Filme: Um divã para dois

INFORMAÇÕES: 
Áudio: Inglês - Legenda: Português 
Tamanho: 708 MB
Formato: AVI 
Qualidade: BDRip 
Ano de Lançamento: 2012 
Gênero: Comédia Romântica 
Direção: David Frankel
Elenco: Meryl Streep, Tommy Lee Jones e Steve Carell 
Produção: Management 360, Escape Artists, Mandate Pictures

Um excelente filme para a compreensão da ação do pensamento para a formação do processo de imagens, as quais formam todo processo divisor. Kay (Meryl Streep) e Arnold (Tommy Lee Jones) são um casal dedicado, mas décadas de casamento deixaram Kay querendo apimentar as coisas e se reconectar com o marido. Quando ela ouve sobre um renomado especialista de casais (Steve Carell) na cidade de Grande Hope Springs, ela convence o marido a pegar um avião para uma semana de terapia de casamento.


Filme: O Vingador do Futuro

INFORMAÇÕES:
Áudio: Inglês
Legenda: Português
Tamanho: 851 MB
Formato: MP4
Qualidade: BRRip
Release: 720p BrRip x264 – YIFY
Ano de Lançamento: 2012
Gênero: Ação, Ficção
Direção: Len Wiseman
Elenco: Colin Farrell, Bokeem Woodbine e Bryan Cranston
Produção: Rekall Productions

Para um operário chamado Douglas Quaid (Colin Farell), apesar de ter uma bela esposa (Kate Beckinsale) a quem ama, as palavras “viagem mental” soam como férias perfeitas de sua vida frustrante, memórias reais de uma vida como um super espião podem ser exatamente o que ele precisa. Mas quando o procedimento dá errado, Quaid se torna um homem procurado.

Áudio: Onde há medo, há agressão


Link para o texto de Krishnamurti, lido no início da reunião pelo Paltalk:

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Estamos prisioneiros do mal que o pensamento cria

Para a maior parte de nós, pensar tornou-se extraordinariamente importante. Nunca nos damos conta de que o pensamento é sempre velho. O pensamento nunca é novo, nem nunca pode ser livre. Falar em liberdade de pensamento é completamente sem sentido, a não ser que isso signifique podermos expressar o que queremos, dizer o que nos apetece; em si mesmo o pensamento nunca é livre, porque é resposta da memória. Podemos observar isso por nós. O pensamento é a resposta da memória, da experiência, do conhecimento. O conhecimento, a experiência, a memória são sempre velhos e assim o pensamento é sempre velho; nunca pode portanto ver nada verdadeiramente novo.

Poderá a mente olhar para o problema do medo sem a interferência do pensamento? Compreendem?

Uma pessoa tem medo. Tem medo do que fez. Esteja pois completamente atenta a ele, sem a interferência do pensamento — e haverá medo então? Como dissemos, o medo é originado por meio do tempo; tempo é pensamento. Isto não é filosofia, nem é nenhuma mística; observai-o simplesmente em vós próprios e vereis.

Percebe-se que o pensamento tem de funcionar objetivamente, com eficiência, de maneira lógica e sã. Quando se vai para o emprego, ou quando se faz seja o que for, o pensamento tem de operar, de outro modo não se pode fazer nada. Mas o momento em que o pensamento dá origem ou sustenta o prazer e o medo, então deixa de ser eficiente. Então, gera desajustamento na relação e causa portanto conflito.

Assim, pergunta-se se poderá haver um findar do pensamento numa direção e no entanto com o pensamento a funcionar na sua mais alta capacidade. Estamos empenhados em saber se o pensamento pode estar ausente quando, por exemplo, a mente vê o por do sol em toda a sua beleza. Só então se vê essa beleza, e não quando a mente está cheia de pensamentos, de problemas, de violência. Ou seja, se o observarmos, no momento de vermos o por sol, o pensamento está ausente. Olhamos aquela luz extraordinária sobre os montes, com grande encantamento, e nesse momento o pensamento não tem nisso lugar nenhum.

No instante seguinte porém o pensamento diz: “Que maravilhoso, que  belo foi, quem me dera pintá-lo, escrever um poema sobre ele, gostava de contar aos meus amigos esta coisa bonita.” Ou ainda: “Gostava de ver um pôr do sol assim, outra vez amanhã”. E nessa altura o pensamento começa a criar problemas. Porque então diz: “Amanhã hei de ter esse prazer outra vez”; e quando isso não acontece, há dor. É muito simples, e é exatamente por causa da sua simplicidade que isso passa desapercebido. Todos desejamos ser terrivelmente “inteligentes” — somos muito sofisticados, muito intelectuais, lemos muito… Mas toda a história psicológica da espécie humana — não quem foram os reis, ou que guerras houve, nem todo este absurdo das nacionalidades — está dentro de cada um. Quando somos capazes de ler isso em nós mesmos, compreendemos. Então, somos uma luz para nós próprios, então não há autoridade, então somos realmente livres.

A nossa pergunta portanto é: Poderá o pensamento deixar de interferir? É esta interferência que produz tempo. Compreendem? Reparemos na morte. Há grande beleza no que está envolvido na morte, e não é possível compreender essa beleza se houver qualquer forma de medo. Estamos apenas a mostrar que receamos a morte por ela poder acontecer no futuro, sendo inevitável. Assim, o pensamento pensa nisso, e fecha-lhe a porta. Ou então, pensa em algum medo que se teve — o sofrimento, a ansiedade — e que isso poderá repetir-se… Estamos prisioneiros do mal que o pensamento cria.

Contudo, podemos ver também a extraordinária importância do pensamento. Quando se vai para o emprego, por exemplo, ou quando se faz alguma coisa de caráter técnico, tem de se usar o pensamento e o conhecimento.

Percebendo todo este processo, desde o início desta conversa até agora — vendo tudo isto — pergunta-se: “Será o pensamento capaz de estar silencioso? Poder-se-á por exemplo ver a beleza de pôr do sol e ficar completamente envolvido na beleza desse poente sem que o pensamento introduza aí a questão do prazer?” Reparem nisto, por favor. Se assim for, a conduta é cheia de retidão. Só quando o pensamento não cultiva o que acha que é virtude é que a conduta é de fato virtuosa, do contrário, torna-se deformada e sem integridade. A virtude não é do tempo ou do pensamento; o que significa que ela não é produto do prazer ou do medo.

Assim, agora o problema é: Como é possível, por exemplo, olhar o pôr do sol sem que o pensamento teça prazer ou dor à volta disso? Será possível olhá-lo com tal atenção, com um envolvimento nessa beleza de tal modo completo que, uma vez visto o pôr do sol, isso fique terminado, para que o pensamento não o transporte, como prazer, para “amanhã”?

(…) Observar, por exemplo, o pôr do sol se a interferência do pensamento exige uma disciplina tremenda; mas não a disciplina do conformismo, não a da repressão ou do controle. A palavra “disciplina” significa aprender — não conformar-se ou obedecer — aprender acerca de todo o processo de pensar e do lugar que lhe pertence.

A negação do pensamento necessita de grande observação. E para observar tem de haver liberdade. Nesta liberdade conhece-se o movimento do pensamento e há então aprendizagem ativa.

Que entendemos nós por aprender? Quando se vai para a escola ou para a universidade aprende-se muita informação, não de grande importância talvez, mas aprende-se. Isso torna-se conhecimento, e é a partir desse conhecimento que atuamos, quer no campo tecnológico, quer em todo o campo da consciência. Sendo assim, temos de compreender profundamente o que essa palavra “aprender” realmente significa.

A palavra “aprender” representa obviamente um presente ativo. Está-se sempre a aprender. Mas quando esse aprender se torna um meio de acumulação de conhecimentos, ele é então uma coisa totalmente diferente. Ou seja, aprendi da experiência anterior que o fogo queima. Isso é conhecimento. “Aprendi-o”, portanto não me aproximo do fogo. Cessei de aprender. E a maior parte de nós “tendo aprendido” atua a partir daí. A informação que acumulamos acerca de nós próprios — ou dos outros — torna-se conhecimento ; então esse conhecimento torna-se quase estático e é a partir disso que atuamos. Por consequência, essa ação é sempre velha. Aprender é pois algo inteiramente diferente.

Se esta tarde se tem estado a ouvir com atenção, tem-se estado a aprender a natureza do medo e do prazer; tem-se estado a aprender, e é daí que se atua. Espero que compreendam a diferença. Aprender implica uma ação constante. Está-se sempre a aprender. E o próprio ato de aprender é agir. O agir não está separado do aprender. Para a maior parte de nós, porém, a ação está separada do conhecimento. Ou seja, há a ideologia ou o ideal, e de acordo com esse ideal agimos, só aproximando a ação desse ideal. E assim, portanto, a ação é sempre velha.

Aprender, tal como ver, é uma grande arte. Que acontece quando vemos uma flor? Será que a vemos realmente, ou vemo-la através da imagem que temos dessa flor? São duas coisas inteiramente diferentes. Quando olhamos para uma flor, para uma cor, sem a nomear, sem o gostar ou não gostar, sem nenhuma cortina entre nós e aquilo que se vê como flor, sem a palavra, sem o pensamento, então a flor tem uma cor e uma beleza extraordinárias. Mas quando se olha para a flor através de um conhecimento botânico, quando se diz “isto é uma rosa”, já se condicionou o olhar.

Ver, assim como aprender, é de fato uma arte; mas não é preciso ir a nenhuma escola para aprender. Pode-se aprende-la onde se está. Podemos olhar um flor, e descobrir como olhamos para ela. Se somos sensíveis, se estamos acordados, atentos, então vemos que o espaço entre nós e a flor desaparece e quando esse espaço desaparece vemos a flor de maneira muito intensa e cheia de vitalidade. Do mesmo modo, quando nos observamos a nós próprios sem esse espaço — e portanto, sem ser como “o observador” e “a coisa observada” — vemos então que não há contradição e portanto não há conflito. 

Quando se vê a estrutura do medo, vê-se também a estrutura e a natureza do prazer. Ver é aprender sobre isso, e a mente portanto não fica aprisionada na procura do prazer. A vida tem então um sentido completamente diferente. Vive-se — mas não à procura de prazer.

Krishnamurti — extrato da conferência na Universidade da Califórnia, em Berkeley

Mensagem de Fim de Ano


Resgate Seus Valores

Não é de hoje que o mundo esta mudando cada vez mais rápido
Vivemos numa era onde o que é novo pode se tornar obsoleto amanhã
Uma era onde as grandes transformações acontecem a mais de 100 mil kbytes por segundo mesmo quando estamos OFF
As mudanças climáticas estão aumentando e prever o futuro ficou quase tão incerto quanto tentar adivinhá-lo.
O transito está caótico e chegar primeiro ficou mais importante que chegarmos juntos
Não existe mais dialogo
Buzinar virou mais importante que falar
Estamos compartilhando individualidade ao invés de solidariedade
Vivemos numa era onde 24 horas é pouco para respondermos todos os emails que recebemos
Nossas redes sociais e nossos amigos agora são virtuais.
Antes vivíamos conectados a terra, ao mato, ao vento, a água ou simplesmente as coisas que nos fazem bem.
Agora estamos apenas conectados a INTERNET.
Será que é essa a evolução da humanidade?
Aquilo que vai nos levar adiante?
On ou Off, O que devemos ser?
De que lado devemos estar?
Pedir licença, por favor, falar obrigado, você primeiro e desculpe é OFF
Dizer Ola ou as vezes não dizer nada é ON
Prazer em reunir amigos, juntar a turma e compartilhar experiências é OFF
Enviar mensagens prontas e curtir fotos de desconhecidos é ON
Jogar bola, andar de skate, conhecer pessoas, se aventurar é OFF
Viver o tempo todo dentro do escritório e não sai do quarto é ON.

On ou Off, de que lado você está?
Está é uma das poucas respostas que você não vai encontrar no Google
É preciso parar para pensar, afinal é muito dificil saber como vai ser o futuro quando você não tem a menor idéia do que está acontecendo no presente.
É hora de reiniciar o seu jeito de olhar o mundo.
Que o mundo pode ser igual, mas diferente
Não adianta você querer a sustentabilidade sem ser sustentável
De que lado você está?
O consumo inconsciente pode ser evitado
O que você tem demais muitos ainda nem conhecem
O desperdicio deve ser combatido
O colapso econômico do planeta não se resolve com a elevação das suas contas, mas talvez com retorno às suas origens humildes, sinceras, despretenciosas, colaborativas e auto produtivas.

On ou Off, de que lado você está?
Esta passando a hora de se ligar
Plante o bem para colher o bem
Onde se planta tem vida
Temos que ficar com o planeta e respirar o mesmo ar
Temos que deixar filhos melhores para que tenhamos netos melhores
Sustentabilidade é isso, saber se desligar na hora certa e respeitar o meio ambiente, viver em comunidade e para a comunidade.
As melhores idédias do mundo, são as melhores idéias para o mundo
LEMBREM-SE: Não existem flores sem sementes e o mundo está ficando carente de gentileza
A intolerância esta gerando intolerância
Somos capazes de reclamar uns dos outros mas não somos capazes de responder a uma indelicadeza com um sorriso.
Senão mudarmos, o mundo não muda

On ou Off, de que lado você está?
O mundo está mudando muito rápido
Ou corremos agora, ou iremos correr atrás
Conecte-se a um novo futuro para o planeta
Nunca deixe que ELE desligue.

Filme: Sociedade Feroz

Sociedade Feroz (BR)
Origem: Canadá / Estados Unidos
Ano: 2005 • cor • 107 min
Direção: Griffin Dunne
Produção: Griffin Dunne  eNick Wechsler
Roteiro: Dirk Wittenborn
Gênero Drama  - Idioma original Inglês
Elenco:
Diane Lane: Liz Earl
Anton Yelchin: Finn Earl
Donald Sutherland: Ogden C. Osborne
Chris Evans: Bryce
Kristen Stewart: Maya
Elizabeth Perkins: Sra. Langley
Paz de la Huerta : Jilly
Christopher Shyer : Dr. Leffler
Blu Mankuma : Gates
Garry Chalk : McCallum
Ryan Mcdonald : Ian
Dexter de Bell : Marcus Gates
Kaleigh Dey : Paige
Aaron Brooks : Giacomo
Teach Grant : Dwayne

Fierce People — Sociedade Feroz (título no Brasil) ou Gente Estranha (título em Portugal) — é um longa-metragem com Diane Lane, Anton Yelchin e Donald Sutherland. Foi lançado em DVD no Brasil, em 2007. Finn Earl (Anton Yelchin) é um jovem de 16 anos que deseja passar o verão com seu pai, um antropólogo que está numa tribo de índios na América do Sul. Ao tentar ajudar sua mãe, Liz (Diane Lane), uma massagista dependente de drogas, Finn é preso. Para tentar reorganizar sua vida Liz decide se mudar para a casa de campo de Ogden C. Orborne (Donald Sutherland), um milionário que foi seu cliente tempos atrás. Lá Finn se apaixona pela neta de Ogden, Maya (Kristen Stewart) e, aos poucos, recupera a confiança na mãe,que batalha pra se livrar do uso das drogas.

Onde há medo, há agressão

Como seres humanos a olhar para este mapa da vida, vemos que um dos maiores problemas é o medo. Não um medo particular, mas o medo: medo de viver, medo de morrer, medo de não ser capaz de conseguir, medo de fracassar, medo de ser dominado, reprimido, medo da insegurança, da morte, da solidão, medo de não ser amado.

Onde há medo, há agressão. Quando a pessoa tem medo torna-se muito ativa, não apenas para fugir do medo, mas porque o medo produz uma atividade agressiva. Podeis observar isso em vós mesmos, se estiverdes interessados.

O medo é um dos maiores problemas da vida. Como poderemos resolvê-lo? Poderá o home ficar para sempre livre do medo, não só a nível consciente, mas também nos níveis ocultos, secretos da mente? Poderá esse medo ser resolvido pela análise? Poderemos fazê-lo desaparecer fugindo-lhe? A questão é, portanto: Como é que uma mente que tem medo de viver, que tem medo do passado, do presente e do futuro, como é que uma mente assim há de ficar completamente livre do medo? Libertar-se-á dele gradualmente, pouco a pouco — levará tempo? Se levar tempo — muitos dias, muitos anos — ficar-se-á velho e o medo estará ainda...

Assim, como poderá a mente libertar-se do medo, não só do medo físico, mas, também da estrutura do medo na psique, dos medos psicológicos? Compreendem a minha pergunta? Poderemos dissolver completamente o medo, libertar-nos instantaneamente, ou terá o medo de ser compreendido gradualmente e resolvido pouco a pouco? Esta é a primeira questão. Poderá a mente, que está condicionada para pensar que pode resolver o medo pouco a pouco, com o tempo, através da análise, através da observação introspectiva, ficar livre do medo gradualmente? Esse é o ponto de vista tradicional. É como aquelas pessoas que, sendo violentas, têm ideologias da não-violência. Dizem: "Chegaremos gradualmente a este estado de não-violência, quando a mente não for violenta". Mas isso levará tempo, talvez dez anos, talvez a vida inteira, e entretanto é-se violento, está-se a semear os germes da violência.

Tem de haver pois uma maneira — por favor, ouçam isto com muita atenção — tem de haver uma maneira de acabar de todo com a violência, imediatamente; sem ser por meio do tempo, sem ser por meio da análise, de outro modo estaremos condenados, como seres humanos, a ser violentos para o resto da vida.

Da mesma maneira, poderemos por termo ao medo de maneira completa? Poderá a mente ficar totalmente liberta do medo? Não no fim da vida, mas agora?

Não sei se já alguma vez fizeram a si próprios esta pergunta. E se a fizeram talvez tenham dito "não é possível" ou "não sei como fazê-lo". E, assim, vive-se com o medo, com a violência e cultiva-se a coragem, ou então o recalcamento, a resistência, a fuga; ou adere-se a uma ideologia de não-violência. Mas todas as ideologias são insensatas, porque quando se vai atrás de uma ideologia, de um ideal, está-se a fugir do que é, e quando se está a fugir, não se pode compreender o que é.

Assim, a primeira coisa para compreender o medo é não fugir, e isso é dificílimo. Não tentar evadir-se por meio da análise, que leva tempo, por meio do álcool, do ir à igreja ou de outras espécies de atividades. É o mesmo, quer a fuga seja por meio de uma droga, da bebida, do sexo ou de "Deus". Será então possível deixarmos de fugir? É este o primeiro problema na compreensão do que é o medo, e na sua dissolução, para que se fique inteiramente livre dele.

Como sabem, liberdade é algo que a maior parte de nós não quer. Desejamos libertar-nos de determinada coisa, das necessidades ou das pressões imediatas, mas ser livre é completamente diferente. Liberdade não é licenciosidade, não é fazer o que nos apetece — a liberdade exige uma disciplina tremenda, que não é a disciplina do soldado, ou a disciplina da repressão e do conformismo.

A palavra "disciplina", na sua raiz, significa aprender. E para aprender acerca de alguma coisa — não importa o quê — é preciso disciplina, a própria aprendizagem é disciplina; não se trata de nos disciplinarmos primeiro e depois aprendermos. O próprio ato de aprender é disciplina, o que liberta de toda a repressão, de toda a imitação. Portanto, seremos nós capazes de ficar livres do medo, do qual nasce a violência, do qual brotam todas estas divisões religiosas e nacionalistas, de "o meu clã" e "o teu clã"?

Quem conhece o medo sabe como ele é terrível. Cobre tudo de escuridão, roubando completamente a lucidez, de tal modo que a mente com medo não é capaz de compreender o que é a vida nem quais são os problemas reais. Assim, parece-me que a primeira coisa a fazer é perguntar a nós mesmos se alguém pode ficar realmente livre do medo, tanto físico como psicológico.

Quando estais diante de um perigo físico, reagis e isso é inteligência; não é medo, de outro modo destruir-vos-eis. Mas quando há medos psicológicos — medo do amanhã, medo do que se fez, medo do presente — a inteligência não funciona. Se examinarmos isto psicologicamente, interiormente, veremos por nós mesmos que toda a nossa estrutura social está baseada no princípio do prazer, porque a maior parte de nós procura prazer, e onde existe essa procura existe também o medo. O medo acompanha o prazer. Isto é bem evidente, se o examinarmos.

Como poderá a mente estar tão completamente livre do medo que seja capaz de ver tudo com grande lucidez? Vamos investigar se a mente é capaz de se libertar dele, de maneira total. Percebem a questão? Aceitamos o medo e vivemos com ele, tal como aceitamos a violência e a guerra, como fazendo parte da vida. temos tido milhares e milhares de guerras e estamos constantemente a falar de paz; mas o modo como vivemos a nossa vida diária é guerra, conflito, um campo de batalha. E aceitamos isso como inevitável. Nunca perguntamos a nós mesmos se podemos viver uma vida de completa paz, sem qualquer espécie de conflito.

Há conflito porque há contradição em nós. Isto é bem simples. Há em nós diferentes desejos contraditórios, exigências opostas, e isso traz conflito. Aceitamos todas estas coisas como inevitáveis, como parte da nossa existência; nunca as pomos em causa.

Temos de estar livres de toda a crença, o que quer dizer de todo o medo, para sabermos se existe uma Realidade, um estado intemporal. Para o descobrir é preciso estar liberto — liberto do medo, da avidez, da ambição, da inveja, da competição, da desumanidade; só então a mente estará lúcida, sem obstáculos, sem conflito nenhum. Só uma mente assim é serena e apenas a mente serena pode descobrir se existe o eterno, o inominável.

Mas não se pode chegar a essa serenidade por meio de qualquer prática ou qualquer "disciplina". Essa serenidade só acontece, quando se está livre — livre de toda esta ansiedade, medo, ciúme, violência, desumanidade. Portanto, poderá a mente ser livre — não eventualmente, não daqui a dez ou cinquenta anos, mas imediatamente?

Se fizerdes esta pergunta a vós próprios, pergunto-me qual será a vossa resposta. Direis que isso é possível ou não? Se dizeis que é impossível, estais então a bloquear-vos e não podereis ir mais além; e se dizeis que é possível, isso também tem o seu risco. Só se pode examinar o possível, se se sabe o que é o impossível — não é verdade? Estamos a pôr a nós mesmos uma questão tremenda: Poderá a mente condicionada através dos séculos, politicamente, economicamente, pelo clima, pelas igrejas, por várias influências, poderá uma mente assim mudar imediatamente? Ou precisará de tempo — intermináveis dias de análise, de sondagem, de explicação, de pesquisa? Um dos nossos condicionamentos é que aceitamos o tempo, um intervalo em que uma revolução, uma mutação, possa ter lugar.

Precisamos de mudar completamente: isso é a maior das revoluções — não é atirarmos bombas para nos matarmos uns aos outros. A maior de todas as revoluções é a mente ser capaz de se transformar a si mesma de modo imediato e de ser inteiramente diferente amanhã. Talvez se diga que isso não é possível. Se encararmos realmente a questão sem qualquer fuga e tivermos chegado àquele ponto em que dizemos que é impossível, então descobriremos o que é possível; mas não podemos pôr essa questão, "o que é possível?", sem compreendermos o que é impossível. Estamos a nos comunicar?

Perguntamos portanto se a mente que tem medo, que está condicionada para ser violenta, para ser agressiva, poderá transforma-se imediatamente. E só podemos fazer essa pergunta — atentem nisto um pouco, por favor — quando compreendemos a impossibilidade e a inutilidade da análise (psicológica). Essa análise implica aquele que analisa, quer seja um analista profissional, quer seja o próprio a analisar-se. Quando uma pessoa se analisa a si mesma, há várias coisas a considerar. Primeiro, há que saber se o analisador é diferente da cosia que analisa. Será diferente? Torna-se evidente, quando observamos, que o analisador é o analisado. Não há diferença entre o analisador e aquilo que vai analisar. Não reparamos nisso, e portanto começamos a análise. Digo "estou zangado, sou ciumento" e começo a analisar por que é que sou ciumento, quais são as causas desse ciúme, dessa cólera, dessa violência; mas o analisador faz parte daquilo que está a analisar. O observador é o observado, e quando vemos isso, quando compreendemos a inutilidade do que estamos a fazer, deixamos definitivamente a análise.

É muito importante compreender, ver realmente a verdade disto, mas não verbalmente: a compreensão verbal não é compreensão, é como ouvir uma quantidade de palavras e dizer "sim, compreendo as palavras". Mas ver realmente que o analisador, o observador é o observado é um fato extraordinário, uma realidade tremenda; não há então divisão entre o analisador e a coisa analisada e portanto não há conflito. O conflito só existe quando o analisador é diferente da coisa que analisa; nessa divisão há conflito.

(...) A nossa vida é um conflito, e estar livre de conflito é observar o fato do "observador", do "analisador", do "pensador". Há medo e o observador diz: "Tenho medo." reparem um momento e verão a beleza disso — há assim uma divisão entre o observador e a coisa observada. Então, o observador atua e diz: "Tenho de ser diferente, o medo tem de acabar". Procura a causa do medo e assim por diante; mas o observador é o observador, o analisador é o analisado. Quando ele compreende isto não verbalmente, o fato do medo sofre uma mudança completa.

Reparem, não tem nada de misterioso. Uma pessoa tem medo, é violenta, dominadora, ou é dominada. Tomemos como exemplo uma coisa muito mais simples. Uma pessoa sente inveja, ciúme. Será o observador diferente desse sentir que chama ciúme? Se for diferente então poderá agir sobre o ciúme e essa ação tornar-se-á conflito. Porém, se a entidade que sente o ciúme não é diferente do ciúme, que pode ela fazer então? “Sou ciumento”; enquanto o ciúme for diferente de “mim”, estou num estado de conflito, mas se o ciúme é eu, se não é diferente de mim, então que hei de fazer? Não o aceito e digo: “Sou ciumento.” Isso é um fato. Não o afasto, não fujo dele, não tento reprimi-lo. O que quer que eu faça ainda é uma forma de ciúme. Que acontece, portanto? A inação é ação total. A inação em relação ao ciúme, por parte do observador que é o observado, é o cessar do ciúme. Compreendem? Estamos a nos comunicar?

Krishnamurti — extrato da primeira conferência na Universidade da Califórnia, em Berkeley

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill